Plinio Corrêa de Oliveira
A Exposição de Imprensa Católica
Legionário, 16 de fevereiro de 1936, N. 191, pag. 1 |
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Seria preciso desconhecer estranhamente a personalidade gigantesca de Pio XI para se iludir sobre o proveito que S.S. tirará, na ordem prática das coisas, da exposição mundial de imprensa católica, a realizar-se brevemente no Vaticano, sob os auspícios da Santa Sé. Três vantagens principais decorrerão da Exposição. A primeira é um estímulo vigoroso à causa do jornalismo católico. Diante de todo o mundo católico, o Santo Padre manifesta seu vibrante interesse pelo desenvolvimento da imprensa católica, tomando pessoalmente a iniciativa do grande certame. E prova, assim, “coram populo” [ante o povo], a importância da questão da imprensa, para a ação católica. A segunda consiste em reforçar os laços de afeto e respeito que vinculam ao Trono de São Pedro os jornalistas católicos do mundo inteiro. O valor de um católico se aquilata pelo seu entusiasmo pelo Papa. A devoção ao Pontífice Romano é o selo e a cúpula de toda a formação religiosa. E essa devoção deve ser particularmente veemente no jornalista católico que, como soldado da Igreja, deve ser um modelo de obediência e amor ao seu Pastor Supremo. A terceira vantagem consiste em mostrar tudo o que os católicos têm feito... e tudo o que eles não têm feito pela imprensa católica. Realmente, ao par de grandes provas de capacidade realizadora em matéria de imprensa católica, haverá mais de um stand que atestará, mesmo em países de maioria absolutamente católica, um atraso lamentável. E isso dará certamente ao Santo Padre a oportunidade para louvar ou não louvar o que se tiver feito ou o que se tiver deixado de fazer... O que se dirá, por exemplo, no stand do Brasil? Como explicar que um dos países mais católicos do mundo, dirigido na sua vida espiritual por um Episcopado que honra a Igreja pelo esplendor de suas virtudes e talentos, apresente em matéria de imprensa católica frutos tão magros? Como explicar que, enquanto Belo Horizonte, São Salvador, Fortaleza, Natal têm diários católicos, a próspera e empreendedora paulicéia não tenha nem sequer um magro semanário católico? A recente entrevista que a “O Legionário” concedeu S. Exa. Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano, na visita que lhe fizemos, nos permite, a nós, colaboradores, redatores e leitores de “O Legionário” estar com a consciência tranquila. Realmente, dentro da contingência de nossas forças, temos feito o possível neste terreno, entrando cada qual com a contribuição intelectual ou pecuniária que pode prestar. “O Legionário” tem procurado vencer uma das dificuldades preliminares mais importantes para a solução da questão da imprensa católica. Ainda recentemente, conversávamos com o Ex.mo Rev.mo Sr. Bispo Auxiliar e o Diretor de um dos maiores matutinos da Capital. E, no decurso da conversa, este nos informou estar a redação de seu jornal cheia de comunistas, que não pode dispensar, porquanto não encontra, para substitui-los, técnicos de igual valor. É a prova mais cabal de que não há jornalistas católicos. Assim, como pensar em fazer imediatamente um jornal católico? Antes de fazer o jornal, não será necessário fazer os jornalistas? Antes de construir uma casa, não é indispensável que exista uma olaria que fabrique os tijolos necessários para a construção? “O Legionário” pretende ser essa olaria. E da generosidade do Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano ouviu a afirmação de que a olaria é excelente... Fazemos, pois, o que nós podemos fazer. Mas... e os outros? Evidentemente, quanto maior for a olaria tanto melhores e mais numerosos serão os tijolos por ela produzidos... E por que não é maior a olaria? Francamente, a culpa não é dos oleiros. Afora um círculo relativamente restrito de amigos fervorosos (entre os quais se alinham nomes da maior representação no Clero e laicato católico), poucas são as dedicações que “O Legionário” tem encontrado no seu caminho. A maior parte dos católicos generosos julga mais meritório dar dinheiro para hospitais, para creches, para obras de assistência social. E com isto suas bolsas dificilmente se abrem para auxiliar qualquer outra iniciativa. No entanto, bastará uma pequena pergunta, que submetemos à apreciação de quem nos ler, para mostrar o equívoco de tais católicos. É certamente conforme à caridade aliviar as dores físicas do homem e prolongar por mais alguns anos a vida dos enfermos. No entanto, perguntamos: não é mais meritório aliviar as dores da alma, as enfermidades morais tão frequentes em nossa época, os padecimentos ocultos, para os quais não há hospitais e nem remédios? O que é melhor: prolongar a vida de corpos que, cedo ou tarde, descerão à sepultura, ou a vida de almas imortais que, sem um conselho bom, dado em momento oportuno, poderão ser atiradas à noite eterna, “em que há trevas e ranger de dentes?” Responda quem nos ler. |