Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

“Pan”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de janeiro de 1936, N. 189, pag. 3

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Apareceu recentemente entre nós a revista “Pan”, que, segundo a apresentação que faz de si própria (n. 1, pág. 3), — “surge como um imperativo da hora presente em que todos têm sede de saber e mal podem levar ao espírito os rudimentos de uma cultura que é rara para os não bafejados pela fortuna”. Além disso, sua finalidade mais social... é o ser uma revista nitidamente popular, na qual a preocupação máxima será a de melhor conteúdo, a da melhor essência, despida de atavios e posta ao alcance das mais modestas bolsas, desde o capitalista ao humilde homem do povo, visto que nos (a “Pan”) preocupa sobremodo torná-lo culto”. Tendo em vista esse programa, “Pan” procurará satisfazer a todos “dando-lhes o joio e o trigo para que os separem ao sabor de suas conveniências, ou orientação por suas tendências” (grifos nossos). Diz ainda que apesar de suas “simpatias por determinadas causas e personalidades”, “Pan refletirá imparcialmente idéias de todos os setores”. E, em outro lugar, chamando o comunismo de “planta exótica, difícil de radicar-se no Brasil”, afirma que “Pan”, tribuna livre para a exposição de todas as idéias, que recolhe e traduz dos diários e revistas estrangeiras, declara que, embora as publique em suas colunas, fá-lo-á a título de informação mundial de todos os temas, teses ou credos, sem endossá-las, deixando ao leitor a faculdade de apreciar o valor de cada uma delas”.

Desse auto-retrato-programa que “Pan” nos ofereceu em sua página de apresentação, ao lado de um cliché de Mussolini e de uma caricatura do Negus, resulta uma verdadeira barafunda em que as afirmações se contradizem, num quebra-cabeças indecifrável.

Com efeito, vemos que “Pan” tem a “preocupação máxima” de dar ao seu leitor o “melhor conteúdo” e a “melhor essência”, e que tem a preocupação de “torná-lo culto”. E, assim, para lhe dar o melhor conteúdo e a melhor essência, dá-lhe “o joio e o trigo”, e certamente muito maior quantidade do primeiro que do segundo, para que ele lá se avenha e com a cultura que “Pan” lhe promete (mas ainda não lhe deu) separe a espiga dourada da erva daninha.

Passando em revista os artigos que “Pan” recortou e ofereceu aos seus leitores, encontram-se: “As cenas que a censura cortou”, acompanhados de “edificantes” clichês, em que parece existir nas entrelinhas a pretensão de afirmar uma evolução da moral, como se o que era imoral há 20 anos já não o fosse hoje. Na página seguinte: “A amante de Al Capone está em Madrid”, fazendo “pendant” a outro da página 13: “A mulher na vida dos grandes criminosos”, ambos altamente “educativos”. À página 37, para “ilustração” dos leitores, acha-se uma nota transcrita do “Times” de New York, sobre pretensas mutilações ordenadas pelos Papas outrora, mentira essa já completamente desfeita e posta de lado como arma imprestável. À página 55, o artigo “Guerra a Deus! A perseguição religiosa no México levada a efeito pelo Partido Nacional Revolucionário” que traz a acusação de ter o clero instigado o assassino de Obregon. Essa mentira também já está desmoralizada. Foi verificada a inocência completa dos sacerdotes e religiosos acusados como cúmplices no crime.

E não é só. Senão vejamos mais um trecho do artigo: “Esta situação tem provocado protestos e intervenções dos Estados Unidos, país que apesar de protestante, gosta de zelar pelas “tradições católicas” do México... Nesse sentido, houve no Senado americano muitos discursos indignados”. “A imprensa capitalista do mundo inteiro tem acolhido todas as informações enviadas pelos padres católicos do México...” A verdade é exatamente o contrário. Um embaixador dos Estados Unidos no México era até acusado de favorecer os revolucionários mexicanos e a perseguição, Roosevelt negou-se, em carta aos Cavaleiros de Colombo, a intervir na questão. E é conhecidíssima a covarde “conspiração do silêncio” da imprensa leiga, no que se refere aos sofrimentos dos católicos mexicanos.

Num artigo à página 15: “Moscou marcha do vermelho para o cor de rosa”, o fato da Rússia estar “se tornando burguesa” é apresentado de forma própria a despertar simpatia pelo regime e pelos chefes da Rússia bolchevista. “Teatros de Moscou”, outra transcrição, é um hino à cena bolchevista. Ótimos meios, não há dúvida, de propaganda disfarçada daquilo que todo o brasileiro detesta.

Por tudo o que acima expusemos, vê-se a quantidade do joio que “Pan” planta no espírito incauto que a ler. Assim, julgamo-nos no direito e no dever de chamar a atenção dos leitores para a nova revista com o seu sistema curioso de oferecer um campo de joio, para que nele se procure uma haste de trigo...

Apontamos apenas alguns erros, doutrinas imorais ou subversivas, que se encontram em seu primeiro número, mas poderíamos apontar muito mais.

Os católicos já sabem o que lhes pode dar “Pan”.


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