Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 19 de janeiro de 1936, n. 189, pag. 3 |
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Os espíritos retardatários não constituem privilegio de qualquer época. Essa espécie de racionais existiu sempre, em toda parte e provavelmente continuará a existir no futuro. O Brasil do século vinte não fez exceção. Fieis ainda a doutrinas filosóficas – diríamos melhor, antifilosóficas – que dominaram os últimos séculos, encontram-se aqui e acolá alguns positivistas impertinentes, outros tantos céticos incoerentes e pretenciosos. Tais indivíduos não percebem o ridículo de sua posição. Fazem as afirmações mais audaciosas com uma inquinidade de causar pasmo, repetindo velharias que o tempo, com sua “tradicional” sabedoria, se encarregou de demonstrar que não passavam de “casos” patológicos. Na última sexta-feira, dentro de um dos nossos velhos casarões de ensino, tivemos ocasião de ouvir mais um desses indivíduos em circunstâncias interessantes. Tratava-se de uma conferência sobre a filosofia de Henri Bergson. O conferencista, entretanto, ocupou sessenta minutos em defender sua posição intelectual. Pretendeu, com argumentos velhos de roupagem velha, demonstrar que a verdade está do lado do ceticismo. Repetiu os conhecidos “chavões” sobre a filosofia aristotélico-tomista, manifestando em poucos minutos seu completo desconhecimento em matéria de sistemas filosóficos. O trágico-cômico é que um dos presentes – aliás congregado mariano – pediu a palavra e, em poucos minutos, com argumentos fulminantes e com uma convicção que só pode ser fornecida pela verdade, mostrou a deficiência de informação histórica e a fragilidade dos argumentos apresentados. Para fugir à incômoda situação em que se encontrava, o conferencista ensaiou uma defesa na qual reconhecia verdades que há pouco negara. E, diante de nova investida do aparteante, apegou-se à taboa de salvação que lhe restava, ou melhor, naufragou inteiramente, pois negou o princípio de contradição! Era o único meio de encerrar a discussão... Releva notar que a muito jornal diário, este incidente passou despercebido. Por que?... |