Plinio Corrêa de Oliveira
Catolicismo e Política
O Legionário, 14 de abril de 1935, N. 169 |
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Como frutos do naturalismo e do teorismo político que, um separando a ordem natural da sobrenatural e outro esquecendo que o governo dos povos deve ser baseado em suas realidades próprias, temos tido nestes dias acontecimentos perfeitamente característicos. Os casos do Espírito Santo e do Pará, onde os interventores foram abandonados à última hora por aqueles que tinham sido eleitos mediante campanhas eleitorais feitas em torno dos nomes desses representantes do poder central; a atitude do interventor paraense fazendo-se eleger por meio de uma manobra claramente ilegal; finalmente, a situação do Ceará, onde o interventor, nomeado especialmente para dirigir as eleições com justiça e para acatar seus resultados com a devida serenidade, vencido nas urnas o partido governamental declara pela voz do jornal situacionista: “O caso cearense já está resolvido. A Liga Eleitoral Católica tem 17 deputados. Que importa isso, se estamos dispostos a vencer revolucionariamente?” E nas ruas aclama-se a Luiz Carlos Prestes, chefe do movimento comunista no Brasil e praticam-se depredações contra jornais, entre os quais “O Nordeste”, diário católico daquele estado. De um lado, portanto, homens cujos compromissos afirmados até à mesa dos banquetes interventoriais são quebrados em um momento como se não houvesse uma lei moral perante a qual eles fossem responsáveis: dissociação da política e da moral. De outro, autoridades pretendendo impor-se e impor ideologias repudiadas pelos governados: falta de respeito às realidades sociais da nação. Em oposição a esse naturalismo e a esse teorismo, não há senão a concepção cristã da política. Age como ciência experimental reunindo o maior número de observações dos fatos sociais, as quais formam a matéria com que vai trabalhar; todas elas devem ser depois coordenadas, estabelecendo-se as relações entre os fatos, para ser organizada a sociedade de uma maneira que determine o progresso integral e uniforme do homem. Para esse trabalho, a política procura a orientação em uma ciência geral e superior que é a Moral. Estão assim racionalizados os dados da observação; mas a própria razão nos informa da existência de uma realidade superior ao que é visível, e a revelação divina nos mostra o destino sobrenatural do homem. Temos, portanto, como diz Tristão de Ataíde, “a política, a moral e a teologia”, formando “uma cadeia não interrompida”. E o grande erro moderno foi - e continua a ser - a quebra dessa cadeia. O Cristianismo, ordenado à política Moral Cristã, afasta o homem das falsas concepções morais, baseadas umas no prazer, outras no servir, outras no dever, e em tantas outras atitudes humanas, todas desconhecedoras, entretanto, da fonte e do fim da Moral que é Deus, e todas podendo ser sintetizadas no utilitarismo. E não havendo Deus como medida, esta é o próprio homem e ninguém quererá considerar-se inferior a qualquer outro. E não havendo Deus como fim, este é o próprio mundo, é o tempo de vida mais ou menos longo de cada um; e quando o indivíduo for suficientemente otimista para não cair no desespero, procurará não ser inferior a qualquer outro, em prazeres e em proventos materiais. Explica-se, portanto, muito bem a atitude dos nossos políticos que tendo perdido, pela laicização que o regime de [18]89 impôs ao Brasil, o sentido tradicional de nossa formação cristã, viram-se apenas a si mesmos como super-homens a quem tudo deveria ser concedido!... Aos católicos, e só a eles, e só como católicos, compete a retificação de nossa vida nacional, recolocando-a no sentido cristão há pouco referido. E isso não se fará por uma atividade desordenada imediata, por uma multiplicidade de esforços em sentidos contrários, por uma agitação improfícua. Far-se-á, em primeiro lugar, por uma retificação individual, por uma catolicização dos católicos, pela sobrenaturalização de nossa vida diária. Antes de qualquer outra coisa, portanto, grande vida interior, grande espiritualidade. Na medida do aumento desta, virá a Ação Católica, que só é eficaz quando se baseia naquela. É a hierarquia respeitada, é o realismo a que se refere Tristão de Ataíde, na importância dada aos “primeiros princípios e às finalidades últimas”, na subordinação do natural ao sobrenatural. Por essa sobrenaturalização das consciências, que deve ser “Objeto primeiro dos esforços dos católicos, preparar-se-á a verdadeira e solidíssima base para a restauração nacional, pois o dever espiritual supera e condiciona todos os outros deveres”. |