Plinio Corrêa de Oliveira

 

O Brasil é esquecido

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, N.º 168, 31 de março de 1935, pág. 1

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Um caso político prende, nestes últimos dias, a atenção dos jornalistas, que o têm comentado em seus detalhes os mais pitorescos. É o do Espírito Santo, onde o interventor deveria ser eleito presidente por 13 votos, contra 12 dados ao candidato da oposição; mas, no mesmo dia em que o Sr. Punaro Bley devia apresentar os seus 13 eleitores ao chefe da Nação, verificou-se a falta de um, que aderira à oposição, a qual passou assim a ser maioria; e logo mais três deputados abandonaram a corrente do interventor para acompanharem a nova maioria. Os nove restantes, porém, procuraram um novo candidato à presidência do Estado e o acharam nas hostes da antiga minoria; e ele, aceitando sua indicação, arrastou consigo mais três companheiros, que juntos aos 9 já existentes e a ele próprio, candidato, restabeleceram a antiga maioria...

Não é impossível que novas modificações se deem nessa relação maioria-minoria, condicionada apenas por um deputado de número 13!...

Se esse, porém, é o aspecto por assim dizer humorístico da questão, quanto de grave, de profundamente grave ela revela. Adicionem-se-lhe todos os outros incidentes aparentemente banais que se desenrolam de norte a sul e ter-se-ia que justificar a afirmação do Ministro da Guerra, em recente manifesto ao Exército: “O Brasil é esquecido”. Essa é a verdade que o general Góes Monteiro fez muito bem em recordar, e que tem que ser enfrentada por todos os que colocam acima de seus interesses pessoais, por mais legítimos que sejam, o interesse da Pátria.

A atitude dos deputados espírito-santenses não é uma particularidade que só a eles pertença; é a regra no Brasil, essa instabilidade de opinião característica de uma falta de convicções, do superficialismo banal com que são tratados os assuntos da mais grave importância, do utilitarismo imoral com que são desejados e tomados os cargos públicos. Generalizou-se esse estado de espírito entre os civis, e infiltrou-se o Exército por doutrinas extremistas que fizeram perder a muitos militares o senso da hierarquia; e no meio de toda essa agitação esqueceu-se o Brasil!

A confusão, porém, chegou ao máximo; é inútil pretender que todos os que assim clamam e não se entendem, consigam descobrir o caminho que os leva ao Brasil. Eles são elementos estranhos à Pátria, exteriores ao seu querer, ao seu pensar, aos seus ideais. Como parasitas, ainda estão presos ao seu dorso, prejudicando-a em sua lenta convalescença, no renascer de seu espírito, no fortalecimento de sua vontade. Mas o tradicional cristianismo, que é a força do Brasil, alijará um dia com um sacudir de ombros, esses elementos, perversos alguns, inconscientes muitos, que só souberam ver-se a si mesmos e se esqueceram da terra onde nasceram.

Esse o grande papel reservado ao Catolicismo em nossa Pátria, como mais de uma vez tem sido acentuado por estas colunas. Só o conhecimento e a prática integrais de suas doutrinas, salvarão o Brasil. E só ele não se esquece agora do Brasil, preparando-lhe uma elite intelectual católica, só e essencialmente católica, que lhe traça a rota e realizará, quando Deus for servido, o seu reerguimento e a sua grandeza.


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