Plinio Corrêa de Oliveira

 

Relações Indesejáveis

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, N.º 154, 16 de setembro de 1934

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A numerosa “clique” de aventureiros burgueses e proletários que o Soviet sustenta no Brasil está novamente empenhada no restabelecimento das relações comerciais russo brasileiras. Para isto, desenrola ela aos olhos míopes da cupidez burguesa as miragens já cediças de negócios vultosos, a realizar com a gélida pátria de Lenin.

Há, implícito, nesta manobra um profundo conhecimento e um desprezo imenso da mentalidade burguesa.

Realmente, nada é mais tipicamente burguês do que o desejo de auferir lucros imediatos por meio da colocação de importantes partidas de café na Rússia, sem o menor receio da campanha comunista que imediatamente passará a grassar no Brasil. Nada, também, é mais imprevidente e mais míope do que esta inteira indiferença pelo incêndio que amanhã devorará nossa casa, contanto que possamos, hoje, ornar com mais luxo nossa sala de visitas.

Espanto que ainda se possa falar de relações comerciais russo brasileiras.

Já no tempo dos Czares, em que as relações entre os dois países se exerciam com a máxima liberdade, era baixíssimo o seu intercâmbio comercial. E Eduardo Prado, examinando em memorável artigo no “Jornal do Comércio” um plano já então existente de propaganda do café na Rússia, mostrou o absurdo da idéia, pois que a Rússia, um dos maiores consumidores de chá, é por isto mesmo rival do Brasil, ao qual nunca compraria café.

Acresce que o café tem, sobre o sistema nervoso, um efeito estimulante, que o tornam incontestavelmente inferior ao chá, em países de clima frio. Na Rússia o consumo de chá quente diversas vezes ao dia constitui uma verdadeira necessidade, para restituir ao organismo o calor que lhe é subtraído pela temperatura ambiente. Como supor que, impunemente, a população inteira possa substituir o chá pelo café, passando a servir-se com grande abundância, todos os dias, de uma bebida incontestavelmente nociva ao sistema nervoso?

A falta de espaço que nos habilite a aduzir outras considerações, parecem suficientes os dois argumentos citados, para mostrar que o comércio russo brasileiro é antinatural, pois que vem estabelecer relações entre dois povos que, quer do ponto de vista financeiro, quer do moral, nunca tiveram o menor ponto de contato.

Se faltam motivos naturais, deve haver causas políticas em jogo, pois que elas, e só elas explicam a insistência com que certa imprensa trabalha pelo reatamento das relações comerciais com os Soviets.

Será necessário mencionar estas causas? Penso que não. Nenhum leitor inteligente poderá ignorá-las.

A todos nós que temos, dadas as idéias que professamos, uma responsabilidade muito pesada, incumbe o dever de ser em todas as palestras, em todos os círculos, em todos os ambientes, os pontos de resistência da opinião pública contra a manobra ardilosa que os comunistas, encapotados ou não, vêm de empreender mais uma vez.


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