Plinio Corrêa de Oliveira
Piedade - I
O Legionário, N.º 118, 23 de abril de 1933, pag. 1 |
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Poderá à primeira vista causar estranheza que um leigo chame a si a tarefa melindrosa de dissertar sobre assuntos de piedade, uma vez que estes têm sido em geral confiados à pena mais competente e mais firme dos sacerdotes. Por este motivo, começo por declarar que não tenho intenção alguma de doutrinar sobre assuntos piedosos. Observando, apenas, o grande número de obstáculos que a mocidade de nossos dias encontra para conseguir uma compreensão verdadeira da piedade, tentarei remover certas dificuldades e esclarecer certas noções que a rotina ou a ignorância religiosa apagaram completamente. A primeira dificuldade que se opõe à formação de uma vida intensamente piedosa é o mau exemplo dado por alguns católicos que, assíduos na prática da oração e dos Sacramentos, levam uma vida particular escandalosa, em absoluta contradição com os princípios religiosos que professam. Confesso ter sido esta uma das observações que mais desfavoravelmente atuaram em minha vida espiritual. Entendia eu que, uma vez que havia pessoas piedosas que levavam uma vida irregular, a piedade era inútil para o aperfeiçoamento do indivíduo e tinha por única função o dar expansão a arroubos de temperamentos sentimentais. E, infelizmente, não me faltaram os maus exemplos. Quando menino, grande parte dos mais piedosos entre meus colegas era de um respeito humano e de uma inconveniência de linguagem pasmosa. Mais tarde, conheci um rapaz que se destacava na Faculdade de Direito pela imoralidade das conversações que mantinha. Com grande pasmo meu verifiquei, posteriormente, que se tratava de uma pessoa extraordinariamente assídua na frequência de igrejas. E, conversando certa vez comigo (a quem conhecia como católico prático [nota: católico praticante, dir-se-ia hoje em dia, n.d.c.]), abordou ele o tema dos escrúpulos, exibindo aquela consciência, empedernida no pecado, notável conhecimento do assunto, discorrendo com facilidade sobre trabalhos de santos e de recentes autores europeus a esse respeito! Outro grande obstáculo é a ignorância completa em que se vive, do valor e do papel da graça no progresso de uma alma na sua vida espiritual. Acrescente-se a isto o completo desconhecimento do valor e da necessidade da adoração, da reparação, do louvor e da ação de graças tributadas pela criatura ao seu eterno Criador, e temos a vida piedosa reduzida a uma série de atos frios, mera cortesia externa para com um Criador distante e exigente que, com um olhar impassível e talvez distraído, assiste às genuflexões corporais e espirituais de suas criaturas. Quadro pintado com cores negras, certamente. Consulte-se, porém, a grande maioria dos que pretendem ser católicos, e frequentemente encontraremos uma situação espiritual ainda mais triste. É necessário que esta situação deixe de existir. E, para isto, é indispensável que se vençam preconceitos e se destruam erros. Desejando não dar grande extensão a este primeiro artigo, deixamos para o próximo número o exame do preconceito suscitado pela falsa piedade. |