Plinio Corrêa de Oliveira
7 Dias em Revista
Legionário, 11 de outubro de 1942, N. 531 |
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De um telegrama da agência oficiosa de Vichy — a “HTM” — extraímos o seguinte tópico de um discurso que o General Franco pronunciou no dia 4 p. p., no Palácio do Escorial: “Não condenamos o marxismo nem o comunismo no que eles contém de aspirações sociais – pois todas essas aspirações sociais nós partilhamos e ultrapassamos - mas pelo que eles contem de antinacional, de materialista, de falso”, “declarou o general Franco, num discurso pronunciado ontem no Escorial, ao examinar a obra social que deverá ser cumprida pelos jovens falangistas”. * * * A mesma agência telegráfica, muito insuspeita no que diz respeito ao III Reich, porque ninguém ignora que Vichy é hoje uma sucursal dócil de Berlim, emitiu um telegrama de Estocolmo, em que comunica que o "Supremo Tribunal alemão decidiu que o desejo expresso por uma mulher de ver seu marido enviado para a frente de combate, constitui motivo de divórcio e que será decretado por culpa da mulher". A este propósito, o "Hamburguer Fremdenblatt" comentou que tem ocorrido várias vezes o fato de mulheres correrem à polícia, pedindo que seus maridos fossem enviados à frente de combate, "porque isto lhes faria bem". O fato tem, evidentemente, um aspecto jocoso, estas megeras domésticas que preferem ver os maridos ceifados pelas metralhadoras soviéticas, a suportar as pequenas agruras das discussões conjugais, dariam certamente a algum literato de fibra os elementos para a produção de uma comédia de primeira ordem. Entretanto, o espírito católico é naturalmente infenso a esta frivolidade de vistas, que julga que um determinado episódio já está inteiramente analisado quando se aproveitou nele tudo quanto tem de cômico e até de risível. A família é, para nós católicos, uma instituição por demais sagrada para que a consideremos sob o simples aspecto de um cenário como outro qualquer, em que os homens fazem coisas ridículas para desopilar seus semelhantes. Assim, temos que descer mais a fundo, e considerar as coisas sob outro aspecto. O dever de patriotismo exige, evidentemente, que a mulher sacrifique de boa vontade seu marido, seus filhos ou seus irmãos, em holocausto à defesa nacional. Na Alemanha, esta obrigação não existe. Com efeito, o inimigo n.º 1 da Alemanha não se encontra na frente de combate, do outro lado das trincheiras, mas instalado nos postos do governo. O inimigo n.º 1 da Alemanha é o próprio Sr. Adolph Hitler. Um alemão deveria certamente sacrificar sua vida para destituir o Sr. Hitler. Mas ele não teria a menor obrigação de seguir para a linha de combate, a fim de manter no governo um dos mais monstruosos tiranos que a História conhece. Assim pois, a mulher que tenha conhecimento desta situação comete um crime enviando seu marido para a frente de batalha. Se, porventura, esta situação não se delineou claramente a seus olhos, nem nisto seu gesto é nobre. Com efeito, generosa em prestar os sacrifícios que a Pátria dela reclame, é simplesmente vil, entretanto, que ela encaminhe o marido para a linha de frente, não para cumprir um dever patriótico, mas para se desembaraçar de um esposo importuno. Ainda aí, pois, a ação é censurável. * * * A frequência com que este fato tem ocorrido mostra claramente a que grau de desorganização está chegando, na Alemanha, o instituto da família. O nazismo é, por essência, uma doutrina corrupta. O III Reich tem feito todo o possível para destruir inteiramente a família, desenvolvendo neste como em todos os outros sentidos uma política social absolutamente idêntica à do comunismo. Apenas os caminhos que o comunismo escolheu, cheios de violência e imediatismo, o III Reich os substituiu por um itinerário mais sábio, através do qual, entretanto, o ponto de chegada é o mesmo: a subversão completa da civilização católica, até mesmo em seus últimos vestígios ou fundamentos. * * * Não caiamos no grave erro de supor que há nisto um defeito congênito deste ou daquele povo. Todos os povos foram concebidos em pecado original, e todos eles têm tendências muito graves para o mal que só podem vencer com o livre arbítrio fortificado e orientado pela graça de Deus. Assim, todos os povos contemporâneos que se deixarem empolgar pela ideologia nazista ou comunista chegarão a excessos mais ou menos tão graves. O grande problema consiste em tornar mais firme do que nunca a frente ideológica contra o nazismo e todas as suas variantes ideológicas, e sósias doutrinárias de toda a natureza. Mas uma frente ideológica não é suficiente contra uma ideologia que põe as armas a seu serviço. Na situação a que chegamos, a frente ideológica só será impermeável quando garantida pelas baionetas. É no esmagamento do nazismo que o mundo encontrará o grande passo preliminar para, vencidos também outros adversários, emergir finalmente da tenebrosa crise em que se encontra. |