Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

Legionário, N.º 499, 5 de abril de 1942

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Evoluíram no sentido que havíamos previsto, as negociações entabuladas entre a Santa Sé e o governo nipônico para a designação de representantes respectivamente em Tóquio e no Vaticano. O Santo Padre, fazendo uso da soberania que lhe confere sua missão divina, não deu ouvidos às reclamações de vozes interessadas e, no maior interesse da expansão da Igreja no Extremo-Oriente, decidiu aceitar as sugestões de Tóquio no sentido de um contato diplomático normal dessa capital e o governo pontifício.

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Ao mesmo tempo, é extremamente digno de nota que tenha a Santa Sé também estabelecido relações diplomáticas com o governo chinês, de sorte que se firma, de modo claríssimo, a indiferença da Igreja diante de todos os conflitos que envolvem interesses meramente temporais – é este o caso da luta nipo-chinesa – e a absoluta imparcialidade do Santo Padre que só se liga às potências da terra na medida que o exige o interesse da religião.

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Desta indiferença a tudo quanto é temporal, não se pode, evidentemente, deduzir uma indiferença com relação ao que é espiritual, nem ao que, sendo temporal, afeta, interessa, põe em jogo de qualquer maneira o que é espiritual.

É este o caso do conflito mundial. O Japão é uma potência pagã, e a China é outra: claro está que, abstração feita de conseqüências mais remotas, não pode a Santa Sé interessar-se pela vitória de uma ou de outra.

não é este o caso quando uma grande potência ou antes um grande partido político – o nazista – escraviza um país, tenta paganizá-lo de todos os modos, e, finalmente, atira sobre o mundo inteiro suas formações de combate, levando, na mochila de seus soldados, os princípios do neopaganismo.

Isto posto, seria um erro procurar-se inferir, do gesto do Santo Padre, uma indiferença sistemática para com todos os conflitos internacionais, quaisquer que eles sejam.

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Com efeito, era um conflito internacional de cunho acentuadamente temporal, a luta entre o Império Romano do Oriente e o Islã. Não há dúvida de que os maometanos tinham o desígnio de impor ao mundo inteiro as convicções religiosas que professavam e ilicitamente de destruir a Igreja. Entretanto, a esse desígnio se ligava de modo evidente o propósito de conquistar uma supremacia política em todo o Mediterrâneo, que colocasse o domínio do mundo nas mãos do povo árabe.

Eram cismáticos os bizantinos; eram nitidamente inimigos do Cristianismo os maometanos. Entretanto, a Igreja se colocou claramente ao lado dos bizantinos, e convocou oficialmente o movimento das cruzadas a fim de defender as cristandades do Oriente, gravemente ameaçadas. Não se contentou ela com a inação diante do frágil pretexto de que a luta tinha também um caráter temporal, e que em suma o Império do Oriente não era católico. Optou corajosamente pelo mal menor contra o mal maior, interveio resolutamente no que era temporal, pois que aí havia algo de espiritual envolvido, e quebrou, depois de lances heróicos, o ímpeto dos muçulmanos. Por que não haveremos de raciocinar assim também nós, católicos do século XX?


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