Plinio Corrêa de Oliveira
7 Dias em Revista
Legionário, N.º 437, 26 de janeiro de 1941 |
|
Os efeitos da aliança teuto-soviética continuam a se fazer sentir na política interior inglesa. Como acentuamos em nosso último número, o movimento socialista assume, na Inglaterra, aspecto cada vez mais bolchevizante, e a nota característica desse grande avanço esquerdista consiste em um pacifismo que deve fazer sorrir deliciosamente os funcionários do grande centro nazista de Wilhemstrasse. De fato, se se quisesse imaginar um meio mais pronto e mais eficaz para promover a desarticulação da defesa britânica outro não se poderia encontrar melhor do que a eclosão de uma luta de classes e de um movimento pacifista, exatamente quando a Inglaterra se encontra na fase mais melindrosa de toda a sua longa história. E quem presta ao nazismo este inapreciável serviço? A III Internacional. * * * Que não são vãos nossos temores, prova-o à evidência a pronta natureza dos fatos. Ademais o Sr. Wendell Wilkie, que o Sr. Franklin Roosevelt enviou à Inglaterra como seu representante extraordinário, recebeu uma incumbência especial no sentido de se informar muito particularmente sobre o movimento socialista inglês, e o perigo que oferece para a defesa da Ilha. É este o segundo embaixador extraordinário que o presidente dos EE.UU. envia à Inglaterra com tal missão. Não é plausível que o Sr. Roosevelt esteja ligando ao fato tal importância, sem que para isto haja poderosas razões. * * * Quer isto dizer que se pode afirmar sem contestação que o poderio inglês tenha atingido seu ocaso? Evidentemente, não. O gesto de energia do governo, ordenando o fechamento de um ou dois órgãos subversivos, e desarticulado assim, ao menos em parte, a ação subversiva dos emissários de Moscou, prova, de um lado, que as autoridades britânicas estão vigilantes e, de outro lado, que elas dispõem de forças suficientes para levar a cabo tal golpe, sem entretanto por em perigo a estabilidade das instituições. Por este fato, devem todos os católicos dar graças a Deus. Radical, fundamental, apaixonadamente anticomunistas, devem eles receber como um favor especialíssimo da Providência que o Império Britânico seja preservado da infecção que nele procuram injetar os agentes da III Internacional. * * * Devem os leitores desta Folha estar lembrados de que o “Legionário” sempre divisou, nos bastidores da política inglesa, a ação de um importante grupo de banqueiros e políticos que, sob os mais variados pretextos e emboscados no guarda-chuva do Sr. Chamberlain, desenvolviam uma ação tipicamente nazificante na diplomacia britânica. Aos poucos, vão aparecendo indícios confirmatórios daquela nossa impressão. Há dias atrás, um matutino publicou a história, cheia de aventuras e de lances dramáticos, de uma húngara de extração plebéia que, de um consórcio de que os genealogistas não reconheceram, com o Príncipe de Hoenlohe, passou a se intitular faustosamente “Princesa Hoenlohe Waldemburg”. Narra o cronista que esta “dama” desenvolveu, a serviço da diplomacia nazista, intenso esforço no sentido de persuadir os políticos ingleses a ceder à Alemanha o “corredor polonês”, e um intenso trabalho preparatório, nos meios políticos ingleses, para que fosse aceita, com toda a ingenuidade, o famoso “pacto de Munique”. Essa aventureira, que por suspeita da polícia já fora expulsa da França, travou em Londres ótimas relações com o Lord (Esmond Harmsworth, segundo Visconde) Rothermere, o maior ou um dos maiores proprietários de jornais na Inglaterra, figura que também já havíamos indicado como simpática ao nazismo.
Esmond Harmsworth, segundo Visconde Rothermere (1898-1978) Segundo ficou apurado nos tribunais britânicos, uma questão havida entre o Lord a e “Princesa”, esta recebera daquele, em 6 anos, 250.000 dólares. As relações da “Princesa” com o nazismo continuavam excelentes. Ao Sr. Hitler, enviou ela certa vez, de presente, um tapete calculado em 6.000 dólares. Durante a coroação de Jorge VI, a delegação especial alemã foi hospedada pela “Princesa”, que exibiu nesta ocasião um fausto extraordinário. Depois de uma série de aventuras, foi ela para os EE.UU., de onde a expulsou, com mão vigorosa, o governo do Sr. Roosevelt. * * * Evidentemente, seria um exagero atribuir à exclusiva ação da “Princesa” tudo quanto de enigmático ocorreu na política da Inglaterra. Não deixa, entretanto, de ser verdade que a série de tramas em que ela andou envolvida, prova à saciedade que o “Legionário” acertou indicando uma conivência de políticos ingleses e nazistas como causa profunda da “cegueira” de Munique. A história mostrará ainda um dia que havia muitas coisas ocultas no guarda-chuva do Sr. Chamberlain. |