Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de julho de 1940, N. 410

  Bookmark and Share

 

Esta semana foi caracterizada por um esforço cada vez mais claro no sentido de mascarar aos olhos da opinião pública o significado profundo dos tristíssimos acontecimentos ocorridos na França.

Passado agora o estupor dos primeiros momentos, as agências telegráficas começam a distribuir comunicados em que se mostram a total desproporção do Exército francês e das forças alemãs, insinuando assim que a capitulação francesa constituiu um imperativo das circunstâncias.

Provavelmente, essa nota irá sendo batida em um crescendo que culminará com a tentativa de apresentar o Marechal Pétain como salvador da França.

Usa-se muito hoje a iluminação indireta: luzes habilmente dispostas vão sendo gradualmente acesas, de tal maneira que não ferem os olhos e as pessoas quase não percebem que a intensidade da luz foi aumentada.

Em política, as agências telegráficas não raramente fazem o contrário: o obscurecimento indireto. As verdades vão sendo gradualmente afirmadas com menos vigor e com extensão menor, até se apagarem inteiramente. E, sem saber porque, a massa da população fica pensando de modo diferente do que pensava há 2 ou 3 meses atrás.

É a um processo destes que estamos assistindo.

* * *

A respeito disto, nas próprias tentativas de obscurecimento dos fatos, se encontram informações simplesmente clamorosas.

Uma delas é a respeito da eficiência das fábricas de motores na França. Afirmam vários telegramas, na semana passada, que as fábricas de aviões e tanques na França, postas agora sob administração nazista, produzirão uma quantidade muitas vezes maior de material, do que fariam sob a administração francesa. (...)

* * *

Dirá alguém que a própria índole das convicções liberais desfibra os soldados, e por isto prejudica a resistência. É um engano. O liberalismo em certos casos desfibra, na maior parte das vezes fanatiza. Provaram-no exuberantemente as guerras mantidas pela Revolução Francesa com as monarquias europeias. Aliás, tudo se pode dizer de um Robespierre, de um Danton ou de um Stalin, exceto que são desfibrados.

* * *

Uma das agências telegráficas informa este fato curioso: “Recai sobre o comando francês outra grave responsabilidade. As publicações militares alemãs haviam se ocupado durante anos de nova tática de guerra alemã e do papel que teria de desempenhar o exército mecanizado. Os alemães não fizeram nenhum segredo de seus planos. O Estado Maior francês teve, assim, ampla advertência do que podia esperar e, não obstante, quando o coronel De Gaulle propôs, em 1933, a criação de uma força mecanizada, não somente não se lhe deu atenção, mas também foi preterido na escala das promoções por ter sido considerado chefe perigoso.”

Do mesmo comunicado telegráfico extraímos mais os seguintes trechos: “...Daladier, que teve amplas informações acerca dos planos dos alemães, pôs o exército francês em campanha com apenas 1.500 a 2.000 tanques”. E mais adiante acrescenta: “Daladier teve grandes oportunidades em nove meses para aparelhar seu exército, mas obcecado pela ilusão de que era o exército melhor armado do mundo, caiu precisamente no estado letárgico contra o qual constantemente punha em guarda seu povo.”

Entretanto, é este mesmo comunicado que em outros tópicos faz a política do obscurecimento indireto!

* * *

Uma das seções mais lidas do “O Estado de São Paulo” é, sem dúvida, uma crônica internacional que se publica na última página.

O autor desta crônica fez outro dia interessantes comentários sobre certos fatos que, mencionados por ele em outro sentido, demonstraram, entretanto, singularmente a procedência de nossa tese.

Narra ele que se a Itália conseguiu vencer a Abissínia, deveu-se ao fornecimento de petróleo feito pela Rússia. E depois menciona diversos outros exemplos de auxílio neste gênero prestados aos Estados totalitários.


Bookmark and Share