Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de julho de 1940, N. 409

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Mais uma vez os acontecimentos vieram comprovar a solidariedade das potências do pacto antikomintern com a Terceira internacional. A invasão da Romênia se verificou sem que um único protesto se levantasse por parte dos governos “soi disant” [que se dizem] anticomunistas, de sorte que em todos os países totalitários a bolchevização dos Balcãs teve início em um atmosfera de aquiescência polida e simpática, enquanto sangra indubitavelmente o coração do Santo Padre pela criminosa transferência das populações da Bessarábia [atualmente República Moldova, n.d.c.] para o perigo do ateísmo soviético.

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Como de costume, a propaganda totalitária não perde de vista a lamentável existência de uma grande massa de ingênuos que continua a crer na hostilidade teuto-russa e procura, tanto quando possível, conservar o apoio desta massa. Daí o aparecimento na imprensa de certas notícias sensacionais, que fazem prever um dissídio teuto-russo. Trata-se de uma cortina de fumaça, intencionalmente disseminada sobre a realidade. Atrás da cortina, porém, o idílio das potências antikomintern com o comunismo continua mais afetuoso do que nunca.

Disto dá uma ideia segura a notícia de que foram concluídas com êxito, na semana passada, as negociações comerciais teuto-russas que vieram assim adicionar-se aos numerosos pactos complementares que tendem a transformar o acordo Ribbentrop-Molotof em uma união estruturalmente firme e extensiva aos mais variados campos entre o comunismo e o nazismo.

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Antes da capitulação da França, o governo nazista sentia a necessidade de tratar com certa contemplação a opinião mundial, pelo que fez constar que os Reinos da Dinamarca e da Noruega seriam ocupados a título exclusivamente militar, continuando a substituir, para todos os efeitos, a organização política e a soberania internacional daqueles países.

Agora, porém, consolidado o poderio nazista pelas mãos trêmulas de Pétain, desapareceu a necessidade de manter essa ilusão. Por isso o governo nazista está exigindo que todos os países neutros tratem diretamente com o Reich dos assuntos relativos à Noruega, em lugar de se dirigir, para este efeito, ao governo norueguês e, ao mesmo tempo, superintender a diplomacia dinamarquesa, tentando forçá-la a repudiar a aliás já defunta Liga das Nações.

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Não se diga que esta folha é sistematicamente propensa a notar os defeitos e não a qualidade dos políticos de que se ocupa. Assim é que mantivemos em suspenso até aqui nosso juízo sobre o Rei Leopoldo III, cujo gesto teria sido realmente miserável se fosse exatamente igual ao que noticiaram os jornais.

Mas a defecção a que os “homens de Munique” conduziram a França denota a existência de circunstâncias tão misteriosas na política internacional que o gesto do soberano belga é susceptível de ser mais bem narrado e mais bem compreendido.

A este propósito, convém não esquecer que, dias antes da famosa ordem de cessação das hostilidades dada ao exército belga, o Rei Leopoldo conferenciou longamente com o Marechal Pétain. Que quadro lhe teria apresentado o herói de Verdun, que já estava em vésperas de se transformar na triste figura de Bordeaux?

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Dentro da misteriosa ordem de coisas em que nos encontramos, ocupa situação digna de nota a desmilitarização das ilhas da Mancha pelo governo inglês. Ninguém ignora a facilidade que a ocupação destas ilhas poderá, talvez, proporcionar a uma invasão alemã. Por que as abandonou o governo inglês? Estará novamente em ação a “quinta coluna”? Haverá manobras do Sr. Chamberlain no abandono destas ilhas agora já ocupadas pelos nazistas?

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Na capitulação assinada pelos plenipotenciários dos “homens de Munique” franceses, há um aspecto que não foi suficientemente acentuado pela imprensa. Deflagrada a guerra, estrangeiros de todas as procedências, inclusive alemães, austríacos e italianos, se apresentaram como voluntários para lutar ao lado da França, com o objetivo de libertar as suas pátrias respectivas do jugo nazista. O príncipe de Stahremberg, por exemplo, organizou um corpo militar especial.

Evidentemente, a França é grata a estes colaboradores que, uma vez denunciados, seriam irremediavelmente fuzilados pelos nazistas. Seria para o Marechal Pétain um dever do mais elementar cavalheirismo assegurar antes do armistício a evasão destes aliados. Tal providência, entretanto, não foi tomada e Pétain entregou sem titubear estas generosas vítimas à inclemência brutal da “justiça” nazista.

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Em edição anterior acenamos com a possibilidade de uma guerra de opereta entre a Alemanha e a Rússia, cuja consequência seria a derrota da última, e sua consequente nazificação, tarefa que, com alguns retoques de fachada na organização russa, incontestavelmente se tornaria completa.

Com guerra ou sem guerra, o certo é que a Rússia se nazificará, ou em outros termos mudará de rótulo.


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