Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 31 de março de 1940, N. 394

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O magnífico órgão católico alemão “Der Deutsche Weg”, que se edita na Holanda, trouxe-nos a triste informação de que foi confiscado pelas autoridades nazistas o magnífico convento dos Redentoristas “Heilandsfrieden”, que se encontra na Westfalia. O pretexto foi que o respectivo Superior havia ocultado aos funcionários do III Reich uma certa quantidade de linho, que havia sido requisitada por interesse militar. É claro que sempre convém alegar um pretexto... tanto mais que nunca faltam pessoas que, por imbecilidade ou má fé, lhes deem crédito.

O Superior foi encaminhado ao campo de concentração de Oranienbur.

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Édouard Branly (1844-1940), descobridor da telemecânica, inventor do primeiro aparelho detector das ondas de radiofrequência (hertzianas)

Registramos com pesar o falecimento do grande Branly, um dos maiores sábios franceses de nosso tempo, figura modelar de cientista inteligente, culto e despretensioso, que consagrou toda a sua vida a suas atividades intelectuais.

Branly tinha seu laboratório no Instituto Católico de Paris, estabelecimento de ensino superior que constitui uma verdadeira Universidade Católica, e tem por Reitor S. Ema o Cardeal Baudrillart.

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Reabertos os cursos na Universidade de São Paulo, começa a se reproduzir, um pouco em todas as escolas superiores, as cenas clássicas do trote e da peruada [velhas festas realizadas na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo], as quais nossa imprensa diária atribui grande importância, considerando-as como manifestações características do espírito acadêmico.

Na realidade, o trote não caracteriza o espírito acadêmico, mas o falseamento deste espírito, mercê da ação das idéias desagregadoras que durante muito tempo foram tidas como o credo obrigatório de cada estudante.

Força é reconhecer que o trote já tem perdido muito de sua brutalidade inicial. Entretanto, continua ele a apresentar aspectos censuráveis, que não podem deixar indiferentes a opinião católica.

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A este propósito, acentue-se em primeiro lugar que muito raramente se pode apresentar um trote em que, de forma acidental embora, algum aspecto sumamente censurável não se faça sentir. É claro. Dado o ambiente dos gracejos desenfreados que é essencial ao trote, seria quase impossível que a falta de tato ou de princípios morais de certos elementos não se fizesse sentir.

Nesta ordem de idéias, mencione-se especialmente a extorsão de taxas pesadas aos calouros, para se isentarem das vaias de seus colegas. Não sabemos se este ano tal imposição se verificou. Mas em caso afirmativo não seria ela inédita. Passamos por alto, porque não merece qualificativos, o fato, que também não seria inédito, de um ou outro ser embriagado à força por seus colegas, ou exposto, por motivos de brincadeiras, a riscos reais ou aparentes, muitas vezes nocivos a certas constituições nervosas.

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Finalmente, é preciso acentuar que o trote atenta contra a dignidade do calouro. Não é próprio a uma pessoa batizada, que portanto é um templo vivo do Divino Espírito Santo, percorrer as ruas em trajes ridículos, forçada a fazer-se de palhaço, muitas vezes a contragosto, expondo-se a servir de objeto de mofa nas mãos de colegas que abusam de sua superioridade toda de momento, que não se pode justificar.

Entretanto, como dissemos, é de se esperar que, decaindo cada vez mais o trote, tais cenas este ano não se repitam, e essa brutal tradição acadêmica chegue a desaparecer totalmente.


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