Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 8 de outubro de 1939, N. 369

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Escrevemos no momento em que os vespertinos publicaram o discurso do Sr. Hitler no Reischtag. Ignoramos ainda qual está sendo, pelo mundo inteiro, a repercussão que está tendo. Mas desde já estamos habilitados a fazer algumas observações relativas às palavras do Chefe do nazismo alemão.

A primeira observação se refere às relações com a Rússia soviética. Ninguém se pode esquecer das condenações retumbantes – e aliás fundamentadas – com que o chanceler alemão e a imprensa nazista fulminavam as relações diplomáticas mantidas pela França e pela Inglaterra com a Rússia soviética. Dessas relações internacionais, nazistas e fascistas deduziam que existia no mundo um grande bloco comunista, declaradamente na Rússia e veladamente bolchevista na França e na Inglaterra. E que os totalitarismos da direita iriam iniciar uma guerra santa contra essa conjuração monstruosa de (...) revolucionários rubros.

Entretanto, os interesses da propaganda política sopram agora por outros quadrantes. E por isto o Sr. Hitler ostenta escancaradamente suas ligações com Moscou.

E o anticomunismo? Onde ficou ele?

* * *

A este propósito, devemos lembrar que, da simpatia do Sr. Hitler, não adveio para a Rússia tão somente oportunidades para calcar aos pés uma parte da Polônia católica, submetida desde já a uma intensa sovietização. Além disto, a Estônia, a Letônia e a Finlândia, uma depois da outra, estão caindo sob o jugo comunista, e daqui a pouco o mar Báltico será um oceano soviético, exceção feita - durante quanto tempo? - do litoral sueco.

Não se incomoda o Sr. Hitler com este alastramento do comunismo?

* * *

Ainda a este propósito, outra observação interessante. O nazismo não age apenas através de elementos filiados à suas organizações, o mesmo se dando com outros “ismos” congêneres. Há totalitaristas encapotados, que fingem nada ter que ver com o nazismo, mas que morrem de amores... mais ou menos desinteressados, por ele.

Ora, é curioso notar como tal gente perdeu inteiramente seus pruridos anticomunistas. Em certos círculos onde se apresentava, com razão, o comunismo como um precursor do anticristo, e, onde se criticava de boa vontade os católicos do mundo inteiro por não trabalharem suficientemente contra o comunismo, onde estão agora as belas declamações de outrora? Não são mais anticomunistas? (...)

* * *

Quanto à Polônia, temos também uma observação a fazer. Neutros, como católicos, e neutros como brasileiros, quando se trata de questões políticas europeias nada temos a dizer.

Entretanto, tudo quanto diz respeito à Santa Igreja não nos pode deixar indiferentes, e uma neutralidade entre a Igreja e seus inimigos seria para nós um crime abominável. Por isto mesmo, se bem que continuemos neutros sob o ponto de vista político e militar, não podemos nos desinteressar dos destinos espirituais da Polônia que arrancaram recentemente ao Santo Padre tão amargas lágrimas.

Por isto, muito desejaríamos saber se a situação que se propõe à Polônia é suficientemente segura para permitir, ao menos dentro do território independente, uma altiva repulsa às ideologias heréticas e abomináveis do nazismo e do comunismo. Em caso afirmativo, a paganização da Polônia será limitada. Em caso contrário, sua independência será uma farsa. Este ponto capital mereceria ser esclarecido.

* * *

Felizmente, a opinião pública vai tomando uma atitude cada vez mais esclarecida, na presente emergência, sem prejuízo da serenidade que nos convém como país neutro.

Para tanto não tem faltado declarações de valor de elementos de grande projeção na vida nacional. E especialíssimo destaque merecem os tópicos do discurso pronunciado pelo Arcebispo de São Paulo, referentes ao assunto, e que hoje publicamos.

Também o discurso do Sr. Diretor da Faculdade de Direito, cheio de preciosas declarações a este respeito, merece a maior reflexão, por sua serenidade, desassombro e lucidez.


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