Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, N° 365, 10 de setembro de 1939 

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Devendo ser erigido dentro em breve, nesta Capital, um monumento ao Duque de Caxias, foi convidado o Ex.mo Rev.mo Sr. D. José Gaspar de Affonseca e Silva, Arcebispo eleito de São Paulo para integrar a lista dos presidentes de honra da comissão promotora de tal homenagem.

Ninguém ignora que o Duque de Caxias foi, quer como estadista, quer como militar uma das mais puras glórias do Brasil. O que, porém, jamais será suficientemente posto em relevo é a verdadeira origem de sua grandeza intelectual e moral. Católico fervoroso e disciplinado, o imortal cabo de guerra hauria na oração, nos Sacramentos e na vida interior os tesouros de energia, de coragem e de abnegação com que tanto engrandeceu sua Pátria.

A inclusão do nome do Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo eleito na lista dos presidentes da comissão significa, por parte de nossas autoridades civis, o reconhecimento deste fato. Possa ele inspirar sempre a nossos governantes a convicção de que o Brasil só será grande se seus filhos souberem seguir os exemplos que Caxias nos legou não apenas no campo de batalha e da espada no desembainhá-la, mas aos pés dos altares com as mãos postas em prece.

*  *  *

Esta ordem de idéias nos leva a pensar na afirmação feita pelo Ex.mo Sr. Presidente da República no seu discurso do dia 7 de setembro, a respeito de uma breve organização da mocidade brasileira.

É ardentíssimo desejo da Santa Igreja que todos os seus fiéis sejam cidadãos modelares, dispostos a se sacrificarem inteiramente pelos interesses e direitos da Pátria. A tal ponto é isto verdade que se pode mesmo afirmar que em qualquer país em que existam cidadãos católicos estes ou serão os melhores cidadãos, ou serão católicos muito medíocres.

A razão disto está no fato de ser a Igreja a única fonte verdadeira do perfeito patriotismo. Encontra-se, é certo, fora da Igreja mais de um exemplo de patriotismo levado até os limites do heroísmo. Entretanto, o sentimento natural de amor à Pátria, sob o influxo da graça divina de que a Igreja é dispensadora, adquire um vigor invencível e inigualável de que Santa Joana d'Arc é um maravilhoso exemplo. Quem no mundo pagão, entre tantos generais, tantos guerreiros corpulentos e tantos estadistas encanecidos no trabalho excedeu em patriotismo à virgem de Domremy, duplamente frágil pelo sexo e pela idade?

Isto posto, mantemos a esperança, já expressa por esta folha, de que o governo da República não procurará, a exemplo do que se fez na Itália e na Alemanha, roubar a mocidade ao regaço da Igreja e às fainas do apostolado, sob o pretexto de uma melhor formação patriótica.

Na Itália, por exemplo, nos próprios acampamentos dos “balilas”, existe a Missa dominical. Quem, entretanto, julgará que isto é suficiente para a formação da mocidade em nossos dias? Mas, como já dissemos, esperamos firmemente que não sejam estes os propósitos de nosso governo.

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Para corroborar tal esperança, devemos acentuar com satisfação o fato de ter o Sr. Presidente da República enviado ao Congresso Eucarístico de Recife um representante oficial.

Não é admissível que, enquanto S. Exa. presta esta expressiva homenagem às convicções católicas de nosso povo, tenha o propósito de organizar de tal modo a novel associação que a formação católica de seus membros fique restrita ao limite mínimo ridículo das milícias fascistas, ou a pouco mais do que isto.

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Registramos com prazer o fato do Governo Federal, em virtude do qual foi agraciado com a insígnia da “Ordem do Cruzeiro do Sul” o infatigável missionário salesiano, Pe. Colbacchini.

S. Rev.ma que é sobejamente conhecido em todos os círculos católicos de São Paulo pela sua estupenda ação evangelizadora no interior do Brasil, junto aos nossos índios, é merecedor deste público ato de reconhecimento da Nação brasileira.

Fala-se muito, entre nós, em Nóbrega e Anchieta. Os missionários que percorrem hoje com risco de vida a parte mais agreste de nosso hinterland, o que fazem, entretanto, senão reeditar as santas proezas daqueles dois grandes Jesuítas?

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A este propósito, apraz-nos fazer uma reflexão. Uma meia dúzia de anticlericais, que se jacta de ultrapatriotismo, está mantendo por toda parte um certo ambiente de reserva e até de desconfiança em relação aos Sacerdotes estrangeiros, pelo simples e exclusivo fato de serem estrangeiros.

Supérfluo será dizer que tal desconfiança absolutamente não pode ter guarida em um coração católico. Entretanto, ainda mesmo se considerarmos as coisas sob um ponto de vista meramente humano, quem poderá não ver os inigualáveis serviços que Sacerdotes estrangeiros têm prestado não apenas à Religião mas ainda à Pátria?

Destes serviços, é um exemplo muito frisante a belíssima folha de trabalhos que pode ostentar o Rev.mo Pe. Colbacchini, tão justamente galardoado agora por nossas autoridades civis.


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