Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 7 de novembro de 1937, N. 269

 

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O “Legionário” não pode deixar passar sem uma palavra de solidariedade as expressivas manifestações de que foi alvo o Sr. Prof. Georges Raeders, por motivo do recente gesto do Governo brasileiro que o agraciou com as insígnias da Ordem do Cruzeiro do Sul.

Intelectual católico distinto, que tem prestado uma preciosa cooperação à obra dos retiros da Federação Mariana, o Sr. Georges Raeders, por este título, e em virtude da simpática aproximação franco-brasileira que promove em São Paulo, faz largamente jus às manifestações de apreço que recebeu.

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Folgamos em registrar o cunho religioso das solenidades com que o Instituto Histórico e Geográfico desta Capital celebrou o terceiro centenário de Ubatuba.

Assim procedendo, demonstra o Instituto Histórico compreender que o amor às tradições brasileiras não pode estar divorciado de um profundo respeito à Igreja Católica, alma do Brasil de ontem, esteio do Brasil de hoje, e construtora do Brasil de amanhã.

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Inimiga ferrenha, intransigente, irredutível, do comunismo, a Santa Igreja nem por isto pactua com as graves e numerosas injustiças sociais que se notam freqüentemente em nossos dias em relação à classe operária.

É, pois, com a maior simpatia que os católicos devem receber o ato da Câmara Municipal que aumentou de 20% os ordenados dos lixeiros de São Paulo.

Classe humilde e desprotegida, merecem os lixeiros exatamente por isto um amor particularmente maternal da Santa Igreja.

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A este respeito, cumpre notar que não aceitamos certos eufemismos com que os jornais paulistas costumam referir-se às classes mais modestas de nosso povo. Para eles um padeiro não é um padeiro, mas um pomposo “manipulador de pão”. Uma criada não é uma criada, mas uma digna “doméstica” ou “empregada”. Um carpinteiro é um “artífice em madeira”. E um lixeiro é um “Operário da Limpeza Pública”.

Por que não há de ser um padeiro, um lixeiro realmente um lixeiro, e uma criada realmente uma criada? Por que são humildes estas profissões? Mas há vergonha em exercer uma profissão humilde?

É muito do espírito igualitário e comunista insinuar que as classes pobres devem sentir pejo de sua condição e por isto revoltar-se. Mas os católicos, porque acham que não há vergonha em pertencer a uma classe social humilde - uma vez que Nosso Senhor foi filho de um carpinteiro - não sentem qualquer diminuição nisso. Porque, seja em que classe social for, o católico tem a suprema qualidade de membro da Igreja, que lhe conferiu o Batismo.

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Um comunicado do Serviço de Estatística Policial, repartição anexa à Polícia do Estado, acaba de trazer interessantes considerações a respeito do número de suicídios que se tem verificado ultimamente em São Paulo.

Infelizmente, porém, quando o comunicado investiga as causas dos suicídios, chega à singular conclusão de que a indissolubilidade do vínculo conjugal, assegurada por nossas leis, é um dos fatores mais importantes para que o indivíduo dê cabo de sua própria existência!

A razão disto estaria em que os casais que vivem mal educam seus filhos em um ambiente de atritos constantes, e que com isto as crianças, mal formadas moralmente, tenderiam a suicidar-se.

Não merece resposta o argumento pueril. Mas merece registro que uma repartição oficial faça assim a propaganda do divórcio.

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(...) No Fórum Mussolini, o Chefe do Governo italiano pronunciou há dias um discurso que foi ouvido por grande massa de italianos e por uma delegação nazista enviada pelo Sr. Adolpho Hitler.

Desse discurso, destacamos o seguinte trecho:

“Sentimo-nos felizes por ter o Führer enviado a Roma uma delegação de seus homens, os melhores, os Camaradas Hess, Frank, Lutz e Wagner, e os Camaradas que o acompanham. São combatentes da velha guarda da revolução nazista e da primeira hora mutilados e feridos da Grande Guerra e da revolução. Sua presença em nossa comemoração, depois das inolvidáveis jornadas de Munich e Berlim, quer significar e significa que, ao lado do eixo político, está em desenvolvimento uma solidariedade sempre mais estreita entre dois regimes e uma amizade sempre mais leal entre dois povos”.

Quanto ao eixo político e à amizade entre os dois povos, é tudo perfeitamente patriótico, justo e explicável.

Mas quanto à solidariedade entre os dois regimes, quem ousará, entre os católicos, sustentar que é louvável? Quem terá o senso católico e o amor à Igreja tão embotados que não perceba o perigo que aí se oculta?


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