Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 10 de outubro de 1937, N. 265

 

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Nada temos a dizer a propósito da recente implantação do estado de guerra no País. É um fato consumado que o Governo Federal julgou indispensável para manter as instituições.

Uma vez que ele seja utilizado para a sua verdadeira finalidade, que é de preservar a civilização e a ordem constitucional contra qualquer investida, venha ela de onde vier, achamos que todos os brasileiros realmente patriotas não lhe negarão seu aplauso.

Não queremos afirmar desde já, ao contrário do que preveem observadores políticos insistentes, que o Governo se servirá de suas prerrogativas para cercear atividades outras que não as de cunho extremista ou revolucionário. Se o fizesse, desacreditaria definitivamente qualquer veleidade de reação legal contra o comunismo. E nós só nos resolveríamos a crer na realização de tal erro se a isto nos forçar a evidência dos fatos.

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Com a maior isenção de ânimo, devemos dizer, entre parêntesis, que os partidários dos três candidatos à Presidência da República têm apreciável soma de responsabilidade pelos fatos que serviram de alegação para a decretação do estado de guerra.

Por um lado, elementos integralistas - queremos crer que sem autorização dos respectivos chefes - tinham uma linguagem por demais equívoca a respeito de seus desígnios pacíficos. Por outro lado, os evidentes avanços que elementos comunistas faziam nas fileiras de ambos os candidatos democráticos inspiravam sérias desconfianças quanto à solidez da reação anticomunista de tais partidos. Não admira que todos estes fatos criassem um ambiente propício à implantação do estado de guerra.

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De há muito tempo, vinha esta folha recebendo de leitores insistentes pedidos para que protestássemos contra certas caricaturas políticas feitas em nossos jornais, especialmente pelo P.C., nas quais eram utilizadas de forma irreverente alegorias religiosas.

A essas reclamações perfeitamente procedentes, veio juntar-se outra sobre um desenho publicado no “Povo”, jornal integralista do Rio de Janeiro, desenho este que, pela baixa irreverência que o caracteriza, ficaria perfeitamente bem na mais vulgar das folhas comunistas.

Representa o tal desenho o Senhor do Bonfim, com os traços do Sr. Juracy Magalhães, com uma coroa de espinhos colocada sobre a cabeça em posição ridícula, inteiramente nu no busto e nas pernas, de peito peludo, ventre proeminente, caricatural e porte irrisório.

Contra esse vil processo de propaganda política, venha ele de onde vier, não podemos deixar de opor nosso mais formal e veemente protesto.

Não nos parece que é com métodos como este que se conseguirá “recristianizar” o Brasil.

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O “Congresso Trabalhista”, órgão do Partido Trabalhista que é a mais poderosa organização política operária da Inglaterra, por uma maioria de 1.750.000 votos, rejeitou a proposta de estabelecer uma frente única com os comunistas.

Essa esplendida votação mostra claramente como as grandes massas européias se estão distanciando gradualmente das doutrinas comunistas, que os agentes subversivos quereriam apresentar a nossos operários como o ideal do proletariado contemporâneo.

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Do discurso recente do Sr. Roosevelt, destacamos as seguintes frases:

“Parafraseando um autor recente, talvez prevejamos o tempo em que os homens, exultando na técnica do homicídio, se atirem raivosos contra o mundo, de forma a pôr em perigo todas as coisas preciosas que existem: todos os livros, pinturas e harmonias, todos os tesouros colecionados durante dois milênios, tudo o que é pequeno, delicado e sem defesa, tudo será quebrado, destruído.

“Se tais coisas vierem a suceder noutras partes do mundo, que ninguém imagine que a América poderá vir a ser poupada e que este hemisfério ocidental não seja atacado e continue tranqüila e pacificamente a desenvolver suas artes e a civilização”.

Se o Presidente da poderosa República dos Estados Unidos julga não poder preservar seu país das conseqüências de uma hecatombe universal, que dizer do Brasil?

Entretanto, se os Estados Unidos ou o Brasil tivessem não apenas couraçados e destroieres, mas uma civilização profundamente católica, não é exato que estariam ao abrigo de qualquer comoção social externa?

A força armada, que é material, não pode conjurar as perturbações provocadas pelo espírito humano. Às crises do espírito, só as armas espirituais da Igreja podem opor barreiras triunfais.

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Na seção de rotogravura do “Estado de S. Paulo”, o Sr. Oswaldo de Andrade publicou um artigo sobre “o divisor das águas modernistas” em que historia o movimento modernista no Brasil, e acentua que, de meramente artístico, se completou com tonalidades políticas e sociais.

A declaração é preciosa. Há quem veja no movimento modernista uma inócua agitação artística, e há quem participe dessa agitação sem perceber os verdadeiros móveis que lhe querem dar alguns de seus elementos. Oswaldo de Andrade acaba de reconhecer, no entanto, que o movimento modernista tem caráter político-social.

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À vista disto, é o caso de se perguntar qual o cunho dessas tendências político-sociais. O próprio Sr. Oswaldo de Andrade, muito lealmente responde: é esquerdista. Mas se apressa em acrescentar que nessa “esquerda” se encontram, além dos Srs. Armando Salles e José Américo, Flávio de Carvalho, Caio Prado Júnior, Gilberto Freire, Jacques Maritain e outros. E chega até a insinuar que o próprio Cardeal Pacelli tem propensões ou simpatias para com a esquerda.

Mas se essa “esquerda” tem reflexos político-sociais, como admitir um terreno comum em que se encontre o Sr. Flávio de Carvalho à sombra da alta autoridade do Cardeal Pacelli?

Sabem os leitores como se chama isto? Despistamento...

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A este propósito, é muito oportuna uma pergunta: como se presta o “Estado de S. Paulo” a publicar um trabalho cujo efeito iniludível é de desorientar os espíritos? Agrada-lhe a alcunha de “esquerdista” que Oswaldo de Andrade dá ao Sr. Armando Salles? Assume o “Estado” a responsabilidade de afirmar que essa alcunha é verdadeira? E, em caso negativo, por que a veicula?


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