Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 26 de setembro de 1937, N. 263

 

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O “Legionário” acompanhou com o maior entusiasmo as merecidas homenagens que, em muito boa hora, foram prestadas às vítimas da revolução [Intentona comunista] de 35. “Em muito boa hora”, dissemos, porque a indulgência exagerada com que foram tratados os pérfidos assassinos dessas vítimas, constituía para elas um verdadeiro ultraje. E esse ultraje exigia uma reparação.

Mas será um erro contentarmo-nos tão somente com manifestações platônicas. Cumpre reagir mais eficazmente. Vamos ver, depois de tantos e de tão belos discursos, o que farão nossos políticos. Porque, afinal, não é com discursos enérgicos e enfeitados que se resolvem questões sociais.

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O acolhimento que a Assembleia Legislativa do Estado deu à Pastoral coletiva de nosso Episcopado prova que nossos legisladores estão certos de que a voz da Igreja, no momento que passa, é a que mais eficientemente pode abrir os olhos das massas e das “elites” paganizadas ao conhecimento da verdade e conduzir os corações ao amor da justiça. Não foi outra a razão por que o oportuníssimo requerimento do Sr. Sebastião Medeiros foi aprovado por unanimidade.

Contudo, cabe também a este propósito a observação que fizemos no tópico anterior. Se é esta a voz salvadora, que providências se tomam para ampliar sua repercussão? Por exemplo, o que se faz contra as irradiações marxistas feitas em pleno São Paulo para sustentar e pregar exatamente o contrário do que sustentou e pregou o Episcopado?

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Vcy, que é sem dúvida um dos mais brilhantes jornalistas do Brasil, teve na quinta-feira passada considerações muito oportunas sobre a infiltração que está sofrendo a corrente do Sr. José Américo, corrente esta em que os elementos esquerdistas adquirem uma preponderância cada vez maior. Deste fato, deduziu o hábil jornalista que as manifestações em memória das vítimas do levante de 35 seria implicitamente manifestações “anti-ameriquitas” [contra os partidários do sr. José Américo, n.d.c.].

Tudo isto é em parte verdade, e pode estar muito bonito. Mas vem a propósito perguntar como é que o puritanismo anticomunista que Vcy manifestou não o impediu de advogar, na mesma nota, a causa do Sr. Pedro Ernesto, nada menos suspeito, ao nosso ver, do que os mais suspeitos dentre os partidários atuais do Sr. José Américo?

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Já que se fala em Pedro Ernesto, cumpre dar um esclarecimento sobre uma Missa celebrada no Rio em ação de graças pela libertação de S.Sa.

Houve quem se escandalizasse com o fato. Mas o escândalo, bem ponderadas todas as circunstâncias, não tem razão de ser.

 Para nós, que falamos exclusivamente em nosso próprio nome, e que não arrastamos atrás de nossos comentários a responsabilidade de qualquer entidade política ou religiosa, é muito fácil dizer que o Sr. Pedro Ernesto é suspeito. Mas se a Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro fosse negar autorização para a celebração da Missa, ela faria muito mais do que isto: diria que é nitidamente comunista. Afirmando-o, afirmaria implicitamente que o Tribunal que o inocentou não cumpriu o seu dever. E, com isto, entraria em conflito declarado com o Poder Judiciário, que todas as nossas tradições políticas e sociais timbram em manter acima de qualquer polêmica ou discussão pública.

Concordamos em que o Sr. Pedro Ernesto é suspeito. Vamos até mais longe: é suspeitíssimo. Mas poderia a Cúria negar autorização para a celebração de uma Missa, à vista de simples suspeitas, por mais plausíveis que parecessem? É claro que não.

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Os jornais estão noticiando que os espíritas desta Capital e do Interior se vão reunir em convenção para deliberar sobre sua atitude na próxima eleição de deputados e do Presidente da República.

O fato parece insignificante para muita gente que sabe que só há em São Paulo uma meia dúzia de espíritas cultos. (...)

Mas lembremos um fato doloroso para os católicos. Nas eleições de 1934, os espíritas, protestantes etc., se coligaram para eleger um deputado. E conseguiram isto, e muito mais, pois que ainda obtiveram a eleição de diversos perrepistas e peceistas simpáticos a eles. Tudo isto, eles o conseguiram com uma votação praticamente irrisória. Por que?

A resposta é simples: organização. Mas ela sugere outra pergunta: e nós?

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O cronista parlamentar do “Estado” comentou com simpatia o que se passou no nosso Legislativo Estadual, a respeito da Pastoral Coletiva do nosso Episcopado. No entanto teve a este propósito declarações que não podemos deixar de comentar.

Não é exato, que o Cardeal Pacelli tenha ido a Paris a fim de discutir com Blum um meio de ataque ao nazismo. O fim da visita de S. Ema. foi única e exclusivamente religioso. O Secretário de Estado do Vaticano não foi à França para se encontrar com o Sr. Blum, mas apesar de ter de se encontrar com ele.

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Hitler e Mussolini, em Berlin

A recepção feita por Hitler a Mussolini, declarou-o um jornal de Munique no dia da chegada do Duce aquela cidade, é a recepção que o partido nazista faz ao Chefe do fascismo. É mais do que uma confraternização de dois povos. É o encontro de duas místicas irmãs.

A este propósito, não é inoportuno um comentário. O Sr. Mussolini que, em linhas gerais, tem sido tão correto para com a Igreja na Itália, sente-se realmente irmão de idéias dos nazistas? Por que aceita ele a recepção oficial que promove em sua honra o Partido Nazista, associando-se a todas as cerimônias promovidas por este?

Que S. Exa. visitasse a Alemanha e participasse de solenidades oficiais promovidas em sua honra pelo Estado Alemão, está bem. Mas aceitar manifestações partidárias dos nazistas não será confessar o estreito e inegável parentesco ideológico que o fascismo tem com este?

 


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