Plinio Corrêa de Oliveira
7 Dias em Revista
Legionário, 29 de agosto de 1937, N. 259
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Só na 4ª feira p.p., foram publicados os debates travados na Câmara Estadual, durante os quais a opinião do “Legionário” sobre o integralismo foi objeto de discussão. Essa opinião, aliás, muito honestamente citada pelo Sr. João Carlos Fairbanks, que a reproduziu corretamente, parece não ter ficado clara nos debates. O “Legionário” tem feito muitas críticas ao integralismo, e fa-las-á sempre que lhe parecerem merecidas. Exatamente por isto, o “Legionário” julgou-se no direito e no dever de comentar com simpatia a coragem com que o Sr. Plinio Salgado atacou o comunismo no discurso da Rádio Mayrink. E pode todo o mundo estar bem certo de que, sempre que a Ação Integralista ou qualquer de seus elementos assumir uma atitude que o “Legionário” julgar digna de encômios, nós a aplaudiremos tanto quanto quisermos. O mesmo faremos com os Srs. Armando de Salles Oliveira e José Américo de Almeida, bem como com o PRP e o PC. E fica bem claro que censuraremos qualquer desses políticos ou seus respectivos partidos, desde que nos pareça isso censura merecida, à luz da doutrina católica. O nosso programa é de lutar pela Igreja, e só por Ela, porque procedendo assim estaremos, na medida de nossas forças, cumprindo nosso dever de católicos e de brasileiros. Servir a Igreja é o modo mais acertado de servir à Pátria. * * * Convém, ainda, que fique bem claro que o “Legionário” não é órgão oficial ou oficioso da Cúria Metropolitana, da Federação Mariana, ou da Congregação de Santa Cecília. No “Legionário” trabalham Congregados das mais diversas Congregações de São Paulo. O seu diretor é de Santa Cecília, o seu redator chefe de São Gonçalo, um de seus redatores–secretário das Perdizes, e entre seus redatores e auxiliares se encontram Congregados de Vila Mariana, São Francisco, Imaculada Conceição, Santa Teresinha, São Luís etc. Ele não é pois um órgão local de alguma paróquia, mas uma folha que interpreta o pensamento de um grupo de moços que querem servir com irrestrita dedicação a Igreja, sem afinidades com qualquer partido político. * * * Lembramos a nossos leitores que esta folha só faz a crítica dos homens e dos acontecimentos de nossa vida política sob o ponto de vista das idéias que eles professam. Atacamos erros. Não atacamos o caráter de ninguém. Exatamente por isto, nunca nos rebaixamos a refutar críticas feitas ao “Legionário” que visem não as idéias expendidas por este, mas a sinceridade e honorabilidade dos seus redatores. Como também não nos dignaremos de responder a críticas que se firmam em coisas que nunca dissemos. A mentira e a difamação são armas que desprezamos, ainda mesmo quando manejadas por algum “figurão”. * * * Ninguém ignora que o encontro entre os Srs. Plinio Salgado e Macedo Soares, no Convento de Santo Afonso, no Rio de Janeiro, encontro este que deu ocasião a uma discussão pública entre ambos estes políticos, foi promovida por S. Exa. Rev.ma o Sr. Arcebispo-Bispo de Campos. Nossa imprensa deu ampla divulgação às declarações que, a este respeito, fizeram o Sr. Ministro da Justiça e o Sr. Plinio Salgado. Divulgou, no entanto, menos largamente, as declarações de S. Exa. Rev.ma o Sr. Dom Otaviano Pereira de Albuquerque. E como estas declarações mostram a elevação de vistas e a prudência com que se houve o digno Prelado, julgamo-nos no dever de dá-las a conhecer resumidamente a nossos leitores. Disse S. Exa. Rev.ma que, como Bispo que é, obediente à linha de conduta que seguiu durante toda a sua vida e às diretrizes do Sumo Pontífice, não intervém em política e não pertence a qualquer partido. Vendo nos Srs. Macedo Soares e Plinio Salgado políticos animados de ideais cristãos e patrióticos, julgou oportuno promover um encontro em que ambos pudessem conhecer-se pessoalmente, porque os políticos, conquanto colocados em campos partidários diversos, podem e devem colaborar para o Bem. Logo que chegaram ao Convento de Santo Afonso, onde S. Exa. Rev.ma estava hospedado, e feitas as necessárias apresentações, o Sr. Arcebispo-Bispo de Campos retirou-se para uma sala contígua, em que estavam outros visitantes que também procuravam o ilustre Prelado. S. Exa. Rev.ma não tomou, assim, parte na palestra dos dois políticos, só se encontrando com eles, finda esta palestra, ao momento da despedida. Seja qual for a opinião de cada um sobre os partidos e homens da atualidade nacional, é preciso reconhecer que é impossível agir com maior prudência, melhores intenções e maior elevação de princípios. * * * Os Srs. Blum e Chautemps foram vivamente atacados por alguns de seus partidários em virtude da recepção oficial e solene com que o governo francês acolheu o Cardeal Pacelli, por ocasião de sua recente visita à França. A este respeito, o Sr. Henri Guernut, considerado na França como um dos mais resolutos partidários da esquerda leiga e anticatólica, teve as seguintes palavras, em entrevista concedida a um jornal de Bordeaux: “Ainda que a Santa Sé fosse uma potência unicamente espiritual, só por isso lhe deveríamos atenções. Numa hora em que as forças morais gravemente olvidadas conservam, no entanto, uma influência, desejaria que meu país não regateasse absolutamente o seu respeito aos que as cultivam. E não me poderia desagradar que, sob formas diversas, estivesse em contato com porta-vozes das grandes religiões e de todos os agrupamentos internacionais que, acima da brutalidade dos instintos, mantêm o primado da consciência. Em tais companhias não corremos o risco de envilecer. Pelo contrário. Engrandecemo-nos”. Estas palavras, muito significativas na boca de um líder esquerdista, mostram duas coisas. Em primeiro lugar, a necessidade que qualquer homem ainda não completamente desvairado pelo comunismo sente da ação benéfica da Igreja na sociedade contemporânea. Em segundo lugar, o vigor do bom senso francês, que não desaparece completamente, ainda mesmo em alguns dos mais desorientados filhos da gloriosa “Primogênita da Igreja”. * * * Um jornal hitlerista de Stutgart publicou a fotografia de uma ordenação de sacerdotes de raça negra, em Notre Dame de Paris. A título de comentário, lia-se a seguinte frase: “Eis o exemplo ilustrado da política internacional, levada a efeito pela Igreja romana em favor da mistura racial”. Realmente, tem em parte razão o jornal racista. Sua fotografia constitui um documento eloquente, que prova que a Igreja desenvolve uma política mundial em favor da união de todos os povos e de todas as raças dentro de uma mesma Fé, uma mesma civilização. * * * Um telegrama da Alemanha comunica que o Núncio Apostólico junto ao Governo de Berlim manteve com o Ministro do Exterior do Reich prolongada conferência acerca de novas medidas tendentes a oprimir os católicos alemães. Ao mesmo tempo, comunica que o episcopado alemão, no maior sigilo, está estudando providências capazes de anular a política antirreligiosa do Sr. Hitler, e que, a despeito de toda a curiosidade pública em torno do assunto, ninguém conseguiu conhecer o plano dos Prelados. A este propósito, cabe uma observação. O hitlerismo faz grande alarde da eficiência e perfeição de sua organização partidária e policial. Não a contestamos. A organização da polícia e do partido do Sr. Hitler é admirável. Mas convém lembrar que mais admirável do que ela é a organização dos católicos alemães que, sem os recursos técnicos de que o Sr. Hitler usa e abusa em tão larga escala, conseguiram divulgar pelo país inteiro documentos de condenação ao nazismo, sem que a polícia disto se apercebesse. Agora ainda, esse fato se comprova. A polícia sabe do que cogitam os prelados. Mas não consegue saber que providências eles preparam. Isto mostra com que perfeição os católicos alemães sabem pôr ao serviço da Santa Igreja as admiráveis qualidades de energia e organização de que sua raça é dotada. * * * Infelizmente, porém, a mesma notícia sugere outra reflexão. São Paulo ainda conserva na memória a recordação da recentíssima e encantadora visita dos Pardais da Catedral de Regensburg [Die Regensburger Domspatzen], que vieram deliciar-nos com as harmonias de seu admirável coro. Lamentamos que, por ocasião de uma visita feita pelos Pardais ao consulado alemão, um dos oradores, alemão aqui residente, tenha aproveitado a ocasião para afirmar que, na Alemanha, não há perseguição religiosa. Para que tapar o sol com a peneira? Para que colocar os artistas tão profunda e sinceramente católicos, que compõem o coro, na lamentável contingência de ouvir em silêncio uma afirmação tão contrária à dolorosa verdade que eles conhecem? * * * O Ministério da Marinha da Argentina deu à publicidade um decreto em que se proclama Padroeira da marinha nacional a Santa Mãe de Deus, sob a invocação de “Stella Maris”. Esse belíssimo gesto demonstra a esplêndida orientação do governo argentino em matéria religiosa, e dá ao nosso mundo paganizado um magnífico exemplo de fé. * * * Também constituiu um belo exemplo de fé a inauguração do 1º Congresso Eucarístico do Paraguai, ao qual assistiram além de S. Ema. o Cardeal-Arcebispo de Buenos Aires, o Presidente, ministros e o corpo diplomático acreditado junto à vizinha república. |