Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de agosto de 1937, N. 257

 

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Infelizmente, vão se realizando um a um os prognósticos que o “Legionário” fez após a suspensão do estado de guerra. Como prevíamos em notas publicadas logo após o incidente do “Correio Paulistano” e as ocorrências da Avenida Paulista, o ambiente de anarquia se generalizou a tal ponto pelo excessivo ardor das paixões partidárias, que a sucessão presidencial se vai transformando gradualmente em prólogo de uma grande tragédia. De onde, para os inimigos de tragédias, um único caminho começa a parecer viável: evitar-se a sucessão.

Mas como a sucessão não se pode evitar sem revogar a Constituição, parecerá preciso chegar até aí. Revogada a Constituição, ficarão suspensas no ar as reivindicações católicas. E a vitória de 1934 passará a ser apenas uma gloriosa reminiscência.

Quanto às candidaturas, ficarão mortas pelo excesso de ardor de seus partidários.

A Divina Providência não quererá evitar essa solução? Confiamos que sim. Humanamente falando, no entanto, ela parece provável.

* * *

Outro prognóstico que o “Legionário” fez logo após a revogação do estado de guerra, e que se vai realizando, é o alastramento da campanha comunista, que se oculta sob o disfarce de antifascismo, anti-integralismo etc., etc.

Os leitores desta folha sabem perfeitamente que estamos longe de achar que toda oposição ou restrição à doutrina integralista tem fundo comunista. Mas é incontestável que a campanha pró-democracia e a luta anti-integralista são mais de uma vez véus rasgados atrás das quais o comunismo procura infiltrar-se entre nós.

Um recente artigo de Tristão de Athayde e o discurso do Sr. Plinio Salgado na Rádio Mayrink não fizeram senão confirmar nossa previsão.

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À margem desse fato, convém fazer um comentário. Por que não se dirige a presente ofensiva diretamente contra a Igreja e as associações católicas?

A primeira razão é patente: convém aos comunistas não chocar de frente a formidável influência da Igreja no Brasil. Já em 1935, sua tática foi esta.

Mas há outra razão. Atacando com virulência o Integralismo e silenciando sobre o Catolicismo, a propaganda comunista fere muito mais este do que aquele. Porque passa indiretamente um atestado de ineficiência à Ação Católica. E, com isto, evita que o apoio e a simpatia de muita e muita gente que quer combater o comunismo convirja para a Ação Católica [A.C.]. Mais ainda: faz com que muito católico incauto esmoreça no seu fervor para com a A.C., desvie seu tempo para outras iniciativas anticomunistas.

Evita ele, assim, que prospere o mais formidável dos elementos de prevenção anticomunista, que é a A.C.

Essa pérfida manobra do Komintern deveria ser insistentemente desmascarada.

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Não usamos meias palavras para censurar. Muito menos usá-las-emos para aplaudir.  Diremos, pois, muito francamente, que nos agradaram a clareza e o vigor com que o Sr. Plinio Salgado denunciou as tramas comunistas que se urdem no Brasil.

Não somos integralistas, e pensamos ter dado disso provas irrecusáveis.

Sem envergarmos a camisa verde, sem aceitarmos a doutrina do sigma, sem renunciarmos a uma só das restrições que a esta temos feito, devemos aceitar a cooperação ou a contribuição que qualquer homem ou qualquer corrente traz aos católicos na luta contra o inimigo n.º 1 do Brasil, inimigo esse contra o qual só a Ação Católica é capaz de imunizar o Brasil.

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Isto não impede que deploremos as críticas que o Sr. Plinio Salgado fez aos católicos belgas por terem votado contra o “rexismo”. Dizendo que, com isto, eles fizeram o jogo do comunismo, S.Sa. censura indiretamente o Cardeal Arcebispo de Malines, o único responsável por esse fato.

Admitamos, só para argumentar, que Sua Eminência o Cardeal Van Roey tenha errado. Somos dos que preferem errar com a Autoridade, a acertar sem ela ou contra ela.

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Magnífica a resolução tomada pelo Episcopado argentino de dirigir ao Episcopado alemão uma mensagem de solidariedade pela perseguição que lhe move o paganismo da direita.

Gestos como este provam ao mundo que a solidariedade entre os católicos não é uma palavra vã, mas que, pelo contrário, qualquer golpe desferido em uma parte qualquer do grande Corpo, que é a Santa Igreja, repercute dolorosamente em todo o organismo.

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Nossos aplausos francos ao Sr. Ministro da Marinha pela proclamação em que S. Exa. se opõe a que seus subordinados se filiem a todas e quaisquer correntes políticas. Sem entrar na análise detalhada desse documento, não podemos deixar de registrar a satisfação que sentimos ao verificar que, dia a dia, se vão tornando mais numerosas as declarações de altas patentes militares em sentido contrário à infiltração da política nas forças armadas.

Não basta, porém, proibir essa infiltração. É preciso fornecer ao soldado brasileiro um alimento espiritual substancioso, que mantenha intacto nele o amor à pátria e à disciplina. Já percebem os nossos leitores que nos referimos, com isto, às capelanias militares. Mas os nossos Srs. legisladores não pensam nisto. Parece-lhes em geral mais importante cuidar de política com “p” pequeno, e muito pequeno...


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