Plinio Corrêa de Oliveira
7 Dias em Revista
Legionário, 25 de julho de 1937, N. 254
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No decurso da última semana, foram proferidos, por dois dos candidatos à sucessão presidencial, discursos de largo fôlego a respeito da situação política nacional e dos propósitos com que se apresentam aos brasileiros para disputar a suprema magistratura da Nação. Trataremos do assunto quando tivermos desdobrado uma série de idéias necessárias para a compreensão de nosso ponto de vista neste particular. * * * Em banquete realizado no Esplanada Hotel no domingo pp., reuniram-se diversos dos antigos presos políticos a fim de homenagear seus advogados, Drs. Abrahão Ribeiro, Áureo de Almeida Camargo e Carlos Castilho Cabral. Acusados, por muito tempo de haver conspirado contra as instituições e de professar doutrinas comunistas, os ex-presos se afirmavam vítimas de uma injustiça clamorosa. Seria, pois, muito natural que, no banquete do esplanada Hotel, quando os olhos inteiros de São Paulo estavam voltados para eles, os ex-presos se servissem da oportunidade para declarar em alto e bom som que não são comunistas, e que profligam as inomináveis crueldades de que a Revolução de 1935 foi causa. Tal atitude se impunha. Quem se julga inocente tem o dever de protestar sua inocência, “coram populo” [diante do povo]. Essa inocência não foi comprovada pelo simples fato de terem os presos sido restituídos à liberdade, pois que a libertação significou que não havia provas da culpabilidade, mas não quer dizer que houvesse provas de inocência. Legitimamente, pois, uma suspeita paira em todos os espíritos retos. E os ex-presos não quiseram desfazer essa suspeita, a julgar pelos discursos que a imprensa diária publicou. * * * Um jornal desta capital esboçou uma campanha - que parece não ter tido prosseguimento - contra o fato de ter o Sr. Presidente da República fornecido víveres aos nacionalistas [anticomunistas, n.d.c.] espanhóis. E o Sr. Café Filho, ardoroso defensor de todos os pontos de vista de sabor esquerdista, dirigiu à Câmara um requerimento no sentido de saber se é verdade que o Brasil tem auxiliado os soldados do General Franco por meio de remessa de víveres. O simples fato de ser transformado em motivo de acusação o fornecimento de víveres aos heróis da Espanha, mostra a que altura estamos quanto à política anticomunista. Se o Sr. Getúlio Vargas realmente enviou tais víveres, agiu como deveria ter agido. E se não enviou, seria o caso de um grupo de deputados católicos interpelar o Governo sobre sua indiferença imperdoável ante a luta da civilização contra a barbárie. Seria o caso, mas... * * * A este propósito, convém fazer uma pergunta: por que não reconhece o Brasil o governo do General Franco? Será defensável que ele só mantenha relações diplomáticas com o governo comunista? Ficará essa nódoa na história da diplomacia brasileira, sem que se registre um protesto contra o fato? * * * Um jornal desta Capital noticiou o fato de se ter a Sociedade de Ginástica São João dos Navegantes filiado a uma entidade esportista com sede na Alemanha, em virtude do que, por disposições legais e estatutárias especiais, todo o patrimônio da Sociedade será doravante propriedade da entidade esportista alemã, e a diretoria da Sociedade São João dos Navegantes, ao que se afirma, só poderá ser empossada depois de aprovada na Alemanha. Dada a natureza ditatorial e invasora do nazismo, bem se vê o que isso significa. O anti-germanismo não é só uma estupidez: é um crime, porque a Alemanha é um dos mais gloriosos e respeitáveis países do globo. O Brasil deve receber de braços abertos a imigração alemã, e desenvolver toda espécie de intercâmbios com a Alemanha. Mas será conveniente permitir que, no Brasil, se estabeleçam essas infiltrações nazistas que virão disseminar entre nós uma doutrina que se choca violentamente com nossas convicções religiosas? * * * Foram tantas e tão extensas as notícias que a imprensa diária consagrou ao falecimento do grande Marconi, que julgamos supérfluo acrescentar qualquer coisa a este respeito. Duas rápidas observações, à margem do que aconteceu, bastarão para nossos leitores. A primeira observação é importante. É preciso que se note que Marconi não deu ao mundo, tão somente, o exemplo de uma vida toda consagrada ao serviço da pátria e da ciência. Marconi foi, também, um católico modelar que prestou, dentro de um âmbito de sua especialidade, os mais assinalados serviços à Santa Sé, e que timbrou sempre em manifestar suas convicções católicas. Daí a particularíssima e afetuosa estima em que o tinha o Santo Padre Pio XI. Para as mentalidades atrasadas, que ainda pensam haver oposição entre a ciência e a religião, é muito oportuno o belo exemplo do glorioso cientista italiano, certamente um dos maiores homens que a Itália produziu no século XX. * * * Noticiou-se, na imprensa diária, que Marconi era divorciado, e que se casou em segundas núpcias, quando ainda viva sua primeira esposa. É uma inverdade. Marconi não era divorciado. Seu primeiro casamento foi anulado pela Santa Sé, e que é o mais severo tribunal do mundo inteiro, a respeito de anulações de casamento. Digam-no os numerosos casaisinhos “grã-finos” de São Paulo que se divorciam e se casam novamente no civil, sem tentar sequer a anulação religiosa, convictos da inutilidade de seu dinheiro e de seu prestígio na inflexível corte de Roma. * * * A “Gazeta” publicou um artigo do Sr. Maurício de Medeiros sobre a “anticoncepção”, em que aquele escritor choca de frente os sentimentos católicos. Os argumentos desenvolvidos pelo escritor não exigem resposta. Mas convém aproveitar a oportunidade para uma pequena observação sobre a famosa “imprensa neutra”. Afirma-se que nossa imprensa diária é “neutra”. Isto é, não é católica nem anticatólica. A “Gazeta”, que não é pior nem melhor do que os demais jornais “neutros”, nos mostra bem no que consiste essa neutralidade. Morre um Bispo? Ela lhe publica um retrato. Há uma solenidade religiosa? A “Gazeta” a noticia. Faz anos algum sacerdote? A “Gazeta” comenta cortesmente a data. Depois, bem tranquilizados com isto os leitores católicos, ela publica artigos anticatólicos do Sr. Maurício de Medeiros. E diga-se que um jornal católico não constitui uma imperiosa necessidade! |