Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de abril de 1937, N. 239

  Bookmark and Share

 

Hitler calou-se, porque nada decente teria a dizer contra a última encíclica [“Mit brennender Sorge”, de 14-3-37] do Santo Padre. Entretanto, seus asseclas continuam a lançar contra a Igreja uma série de invectivas que o Füehrer pessoalmente não ousaria lançar.

Entre essas invectivas, destaca-se o discurso de um dos ministros de Estado, o Sr. Rudolf Hess, no qual se encontra este trecho muito instrutivo para os católicos brasileiros: “os elementos internacionais (trata-se da Igreja Católica, internacional por ser católica), que tentam semear a discórdia entre o povo alemão, fracassarão nos seus intuitos porque o povo germânico se lembra de que os líderes dos partidos, que se apresentavam como partidos religiosos, auxiliaram outrora os bolchevistas e arrastaram a Alemanha ao precipício”.

Em outros termos, o Partido Católico não teve forças para afastar da Alemanha o perigo comunista. A Igreja é impotente para evitar o comunismo. E por isso é preciso recorrer a outra categoria de organizações.

Basta-nos abrir os ouvidos para perceber que não é só na terra de Hitler que se diz isto. E há católicos que não estão longe de pensar assim. Isto, entretanto, é um ultraje à Igreja de Deus.

*  *  *

O “Osservatore Romano”, órgão oficioso da Santa Sé, publica um artigo em que analisa o famoso “culto” do marechal Ludendorf. E, a este propósito, reproduz a seguinte declaração oficial da corrente do velho cabo de guerra, sobre o destino a ser dado futuramente às igrejas, quando “o conhecimento alemão de Deus” tiver vencido: “as igrejas artísticas serão conservadas e, uma vez retirados os símbolos religiosos, servirão para reuniões solenes. As outras serão demolidas”.

São estas as intenções desse movimento religioso agora oficializado por Hitler. Essa promessa parece um “item” do programa dos “sem Deus” da Rússia. E o hitlerismo ainda encontra tolos que suponham que ele é realmente hostil ao comunismo!

Até nos lembra isso as melancias brasileiras, verdes por fora e vermelhas por dentro. E não são somente as melancias que, no Brasil, são desse “estilo”...

*  *  *

O Sr. Litvinoff e o Marechal Tuckachvsky foram designados representantes da União Soviética nas cerimônias de coroação do Rei Jorge VI.

O espetáculo desses representantes do comunismo, desfilando sobre as ogivas góticas da Catedral de Westminster ao som do “God save the King”, num cortejo de marajás e de lordes, é bem característico da triste época em que vivemos.

Esse espetáculo avilta os governantes russos, que praticam um ato de hipocrisia vergonhoso, fazendo-se representar na coroação de um rei que a III Internacional gostaria de depor e trucidar. E avilta a burguesia ocidental, que convida os seus algozes aos seus festins, fingindo ignorar suas intenções sanguinárias.

Perfídia de um lado. Cegueira do outro. Falsidade em ambos.

*  *  *

Assim como os jornais se comprazem a dar a entender que os elementos católicos da França, rebeldes às diretrizes do Santo Padre, simpatizam com a Rússia, certas agências telegráficas se empenham em insinuar que os católicos alemães, rebeldes também ao Santo Padre, apoiam o hitlerismo. O fim da manobra é claro: desprestigiar o catolicismo.

Nesta semana, os jornais publicaram duas notícias típicas. Uma, comunicando que se estabeleceu um verdadeiro idílio entre os radicais e os socialistas franceses, e os católicos. Outro, afirmando que um Abade alemão, a despeito de sua elevada posição na hierarquia católica, publicou uma carta desmentindo diversas afirmações do Santo Padre.

Estes telegramas não mereceriam comentários, tal a sua perfídia, se não tivéssemos vantagem em apontar aos católicos quais as manobras com que procuram combatê-los seus inimigos da imprensa “neutra”.


Bookmark and Share