Plinio Corrêa de Oliveira

 

À Margem dos Fatos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 2 de fevereiro de 1936, N. 190

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Devemos registrar com peculiar satisfação o seguinte tópico do discurso do Sr. Governador: “O que se sente é que todos nós, brasileiros, guardamos na alma um único modo de ser, uma mesma religião, um mesmo instinto de Pátria. Pois foi tudo isso que quiseram romper e extinguir há dois meses”.

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Mas os nossos Anysios paulistas certamente terão sentido um calafrio.

Segundo o Governador, a unidade da Pátria está ligada à unidade de crenças. Atentar contra uma é atentar contra a outra. Quem ataca a Religião põe em risco a unidade da Pátria, e faz o jogo do comunismo.

Ora, os nossos Anysios fizeram o jogo do comunismo. Fizeram-no adotando diretrizes pedagógicas comunistas que o Prof. Van Acker denunciou através de “O Legionário”. E fizeram-no também atacando a religião tanto quanto puderam.

E agora dilacera-os um dilema: ou eles preparam sua bagagem para transpor os umbrais sombrios da porta da rua; ou eles negam a inteligência e a coerência do governador do Estado, esperando que sobre sua cabeça não desabe a espada de Dâmocles.

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Estes negros prognósticos foram confirmados por outro trecho ainda mais ameaçador:

“Não nos contentaremos com o paliativo de simples medidas de repressão, que resolvem apenas os embaraços do presente. O que sentimos, na raiz de todas as nossas dificuldades e de todos os nossos desentendimentos, é que o problema brasileiro é um problema de educação”.

Se o aparelhamento educativo do Estado é o bastião do alto do qual se dispararão os tiros mais mortíferos contra o comunismo, o que podem esperar da hostilidade governamental os agentes moscovitas que se foram aninhar exatamente aí, para fazer sua propaganda?

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No entanto, são astutos os nossos Anysios. E certamente lhes terá ocorrido a idéia de se fazerem passar por instrumentos contritos e inconscientes do comunismo.

Mas a sua sepultura política já está aberta. Só mais um passo, e sobre eles se fechará a lousa. A sua sentença está lavrada no tópico em que o Governador promete: “combate perseverante e vigoroso contra os partidários, declarados ou encobertos, conscientes ou inconscientes, do coletivismo marxista, o sol de Moscou passaria a iluminar o mundo e, na imaginação dos povos, o túmulo de Lenin tomaria o lugar da Cruz”.

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Outro tópico do discurso do Governador que merece registro é o seguinte: “O que caracteriza a ofensiva bolchevista é o seu ímpeto, o seu entusiasmo, a sua confiança. Para enfrentar aquela mística ardente, aquela unidade de doutrina, aquela disciplina integral e aqueles processos infalíveis de infiltração e de ataque, perguntam os céticos, que oferecem os pobres países burgueses? Cabe o Brasil dar-lhes resposta!”

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A resposta foi dada na Concentração Mariana de 16 de julho, e será bisada na próxima Concentração estadual.

Ímpeto bolchevista? E o que pode igualar o ímpeto com que a mocidade mariana está disposta a lutar contra os inimigos da Igreja e da Pátria? Uma palavra de ordem, cada mariano será um soldado, e cada soldado um herói.

Entusiasmo? Quem, em São Paulo, é capaz de atear o incêndio de entusiasmo que, no dia 16 de julho, ardeu no Pátio do Liceu Coração de Jesus?

Disciplina integral? Que disciplina pode ser maior que aquela de que as próprias autoridades civis tiveram a prova, quando, expondo-nos talvez ao sarcasmo de muitos, consentimos em nos enclausurar no pátio hospitaleiro dos salesianos? Só Maria Santíssima sabe o que nos custou aquela prova!

Processos infalíveis de infiltração e ataque? Que infiltração pode ser mais fulminante do que a infiltração mariana? Em que região do Estado, em que profissão, em que idade, em que classe social, em que estado de vida, não se encontra a cruz branca dos Filhos de Maria?

A resposta já foi dada em nome do Brasil. E quem a deu fomos nós, porque só nós temos o direito de responder por ele.

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Merece, ainda, registro o seguinte tópico “as nossas idéias não são novas, mas nós as renovamos pela força com que as sustentamos. À famosa mística internacional nós oporemos a mística eterna da pátria”.

Nossas idéias, de nós católicos, não são novas também: são eternas. Não somos nós que a renovamos, mas é ela que nos renova. Não somos nós que a sustentamos, mas é ela que nos sustenta. Mais forte do que a “mística” russa e a “mística” da pátria - as aspas são nossas - é ela quem suscitou os mártires, os cruzados, e os marianos de São Paulo.

E é ela que sustentará Governos e instituições contra os bárbaros que vêm das estepes...

* * *

Outro trecho ainda que merece especial menção é o seguinte:

“Aqui estão eminentes sacerdotes, representantes dessa Igreja que velou junto do modesto berço de São Paulo e guiou, pela mão de Anchieta, os primeiros passos paulistas. Pelo papel que desempenharam na história nacional e pelo vigor com que defendem a lei cristã, são os aliados naturais na luta em que procuramos impedir que pereça a própria substância do espírito”. (...)

Ainda temos uma observação a fazer. É relativa ao belo compromisso que o Sr. Armando de Salles Oliveira assumiu, juntamente com seus convivas, de “defender com o coração e com o sangue a bandeira da nacionalidade e as insígnias da civilização crista”.

 

Houve uma vez um Chefe de Estado que quis derrotar os adversários do Cristianismo. Empenhou uma grande batalha e deveu sua vitória à Cruz, insígnia da civilização cristã, que protegeu suas armas. Este chefe se chamou Constantino. Não foi ele que deu vitória à Cruz, mas foi a Cruz que o fez vencer.

Sr. Governador: os católicos souberam dar o devido valor às vossas belas palavras. E eles vos apontam a Cruz. Abraçai-a, e vencereis o comunismo. Ela é que vos protegerá.

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Informam os jornais que Eduardo VIII, ao ser proclamado Rei da Inglaterra, teve de prestar o seguinte juramento:

“Eu, Eduardo VIII de nome, atesto solenemente e sinceramente afirmo e professo, em presença de Deus, que sou fiel protestante e que quero, conforme a intenção verdadeira dos atos que asseguram a sucessão protestante do Reino Unido, sustentar e manter os referidos atos o melhor que puder, de acordo com a lei”.

“O rei presta também, perante os lords do Conselho, o juramento que garante a independência e a proteção da Igreja da Escócia”.

No Brasil, os protestantes se insurgem contra as reivindicações católicas mais elementares. O que diriam eles, então, se, para ser empossado um Presidente da República no Brasil, se lhe exigisse um juramento de manter a Igreja Católica?

Mas quando eles estão em maioria, desaparece seu liberalismo, e o cordeiro se transforma em lobo!

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O nome de Eduardo VIII, depois da coroação, será: Eduardo Alberto Cristiano Jorge André Patrício Davi, soberano “legal e justo” (sob o título de Eduardo VIII) da Grã-Bretanha, Irlanda e Domínio de Ultramar, defensor da Fé e imperador das Índias.

O título de “Defensor da Fé” foi conferido pelo Papa a Henrique VIII, pela refutação que fez do Protestantismo, em um livro que escreveu sobre o assunto.

Lutero, por causa do mesmo livro, conferiu-lhe o título expressivo de “o mais sujo de todos os porcos”.

Pouco depois, Henrique VIII desligou-se da Igreja; Lutero deixou, com isto, de proclamá-lo suíno. Mas o Rei, talvez para não desmentir o autor da Reforma, continuou a justificar o epíteto de Lutero, porque nunca deixou de ostentar o título que lhe dera o Papa antes da apostasia!

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Noticiaram os jornais que: “Quase lado a lado seguirão o comissário do povo para os Negócios Estrangeiros, sr. Litvinoff e alguns membros da antiga família imperial da Rússia”, no enterro de Jorge V.

A política tem razões que a razão não conhece.


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