Antecipado nosso
trabalho de redação por motivo das festas de Natal, não podemos, infelizmente,
publicar hoje a alocução impressionante e de transcendental importância, que o
Sumo Pontífice Pio XII,
gloriosamente reinante, pronunciou no dia 24.
Esperamos, contudo,
publicar este notável documento em nossa próxima edição.
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No dia 22 pp.,
transcorreu uma data da maior significação para a vida religiosa de São Paulo.
Foi o 25º aniversário da Liga das Senhoras Católicas. Fundada pelo grande e saudoso D. Duarte,
essa notável instituição tem prestado à Igreja ininterruptos e relevantes
serviços, e constitui um título de glória para São Paulo e um modelo para todo
o Brasil. Assim, compreende-se que os elementos de maior representação em
número de pessoas de destaque em nossos círculos religiosos, sociais e
intelectuais, se tenham prevalecido da oportunidade para manifestar à Liga das
Senhoras Católicas sua admiração e estima.
No dia 22 foi celebrada
Missa em ação de graças pelo acontecimento, na Matriz de Santa Cecília, a
que presenciou elevado número de pessoas de destaque e representação. Foi oficiante
o Exmo. Revmo. Sr. D.
Antônio Alves de Siqueira,
Bispo Titular de Aricanda e Auxiliar do Emmo. e Revmo. Sr. Cardeal-arcebispo D. Carlos Carmelo
de Vasconcelos Mota. À
tarde, a condessa Amália Ferreira Matarazzo,
presidente da Liga, ofereceu uma recepção em sua residência, a que compareceram
o Exmo. Revmo. Sr. D.
Antônio Alves de Siqueira, diretor eclesiástico da Liga, associadas, e demais
elementos de nossa sociedade.
No dia 29, às 16 horas, realizar-se-á no Teatro Municipal uma
sessão solene comemorativa, na qual o poeta Guilherme de Almeida recitará uma poesia sobre a obra da Liga, e a
orquestra do Maestro Kaniefsky executará vários números. Falará por essa
ocasião o Prof. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, e
a oração de agradecimento será feita pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio Alves de Siqueira.
Publicaremos em nossa próxima
edição um noticiário pormenorizado sobre o assunto.
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Na França, a
cessação das greves parece dar certa estabilidade ao governo Schumann.
Assim, os comunistas, capitulando diante do MRP,
evitaram que subisse ao poder o seu pior inimigo, que é o gen. De Gaulle. Ao
que parece, esta tática agradou aos comunistas. Na Itália,
estão eles investindo contra De Gasperi. Em
conseqüência, toda a opinião anticomunista, que constitui a grande maioria,
prestigia De Gasperi. E os comunistas evitam com isto
a ascensão do Partido Monarquista que eles abominam. Na Inglaterra,
igualmente, os comunistas romperam com os trabalhistas, que aparecem assim aos
olhos do eleitorado como uma força conservadora. E, com isto, os trabalhistas
procuram provar à opinião pública – cuja maioria é fortemente conservadora como
provaram as últimas eleições – que Churchill não é seu anteparo único ante a onda comunista
que cresce. Em outros termos, os fracassos comunistas na França, Itália e
Inglaterra estão consolidando no poder não as correntes nitidamente
anticomunistas destes países, mas as que no mapa político ocupam o meio termo
entre o comunismo e o anticomunismo.
Seria preciso ser muito
ingênuo para não vislumbrar nisto um ardil dos próprios comunistas.
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Por isto mesmo os
comunistas vão exultar, verificando que a “Terceira Força”,
remendo do MRP e do Partido Socialista, se
está organizando na França, sob o pretexto de combater o comunismo, mas na
realidade para evitar a ascensão de De Gaulle ao
poder.
Não somos partidários
do general, cujo programa positivo não conhecemos. É inegável, contudo, que a
linha política que ele preconiza em relação ao comunismo é muito mais clara,
lógica, prudente do que a desta “Terceira Força”.
É inegável também que,
enquanto De Gaulle parecia fraco, os socialistas e o MRP praticaram sem rebuços
a politique de la main tendue com os
comunistas, e que, verificando que a opinião pública apoiava o general e sua
política anticomunista, os socialistas e o MRP, fazendo do anticomunismo um
expediente político para se conservarem no poder, romperam com seus aliados da
véspera. Antes da vitória eleitoral de De Gaulle,
eles preconizavam a conciliação. Agora, do modo mais inesperado aparecem como
partidários da ruptura com Moscou. Por que? Quem não vê que o desejo de
conservar o poder e de evitar a ascensão de De Gaulle
tem uma correlação íntima com a nova tática dos elementos componentes da
“Terceira Força”?
* * *
Por
que atacamos com tanta insistência a “Terceira Força”? Por um motivo simples,
precisamente o mesmo pelo qual atacamos a política do guarda-chuva de Chamberlain. O
espírito de Munique e a mentalidade da “Terceira Força” são
absolutamente a mesma coisa. É um espírito de decrepitude e de morte, de
otimismo [corte no original] de fraqueza e de leviandade. É o espírito com que Bisâncio se defendeu contra os turcos, e Luiz XVI contra a Revolução. É o espírito dos godos
espanhóis por ocasião da invasão maometana, e de Kerensky em face do comunismo. É a mentalidade dos que
resolvem os problemas fechando os olhos, adiando, protelando, permitindo que
tudo se agrave, tudo piore, exclusivamente para não enfrentar hoje as
dificuldades que serão inevitavelmente maiores amanhã.
* * *
Pode-se, pois, imaginar
com que desolação lemos a notícia de que a “Terceira Força” tende a
transformar-se numa verdadeira internacional, englobando o trabalhismo
inglês, o PDC italiano e outras correntes. Diante da Internacional russa, de
aço e de fogo, teremos uma barreira de papel de seda, a pálida e frouxa
internacional de sonhadores, de medrosos e de profiteurs, que fará ao mundo,
nesta nova era de sua trágica história, todo o mal que fez na guerra passada a
“quinta coluna”, conjugada com o “chamberlianismo”.
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Em nossa última edição,
saiu truncada uma nota da redação desta folha. Trata-se de um tópico da bela
oração que o Santo Padre Pio XII pronunciou na Basílica Ostiense,
quando ali esteve distinguindo-a com sua visita por ocasião do XIV centenário
do fundador da ínclita Ordem de São Bento. O tópico saiu na íntegra, mas
faltaram algumas linhas da introdução com que o publicamos. Queremos esclarecer
aqui que aquele tópico não pertence à Encíclica Mediator Dei, foi colocado como nota à mesma, para uso dos estudiosos, por
esta redação, já que trata do mesmo assunto.