Temos a ventura de completar hoje a publicação da
Encíclica Mediator Dei, com que o Sumo
Pontífice Pio XII condena o liturgicismo, seus erros, exageros e perigosos desvios. Se
esta Encíclica constitui para nós, que fomos dos primeiros vanguardeiros no
combate ao liturgicismo, inestimável consolação, por outro lado impõe-nos, como a
todos os jornalistas católicos, o dever de divulgar quanto possível seus sábios
ensinamentos, bem como as graves advertências com que o Vigário de Cristo
previne os fiéis contra este novo e perigoso erro.
Afim de cumprir tal dever, o LEGIONÁRIO publicará
em sua próxima edição um esquema da providencial e substanciosa Encíclica.
Esperamos, assim, facilitar a nossos leitores o estudo e conhecimento da
doutrina ensinada pelo Santo Padre, e dos detestáveis erros que ele condena.
Poderão assim os fiéis praticar tranqüilamente seus
atos de piedade litúrgicos e extra-litúrgicos,
alimentando seu espírito com a seiva riquíssima da liturgia, do Rosário e de
meditação, sem o menor receio de cair em erros ou exageros de qualquer espécie.
* * *
O desfecho sombrio da conferência de Londres parece não ter
causado muita excitação nos ambientes diplomáticos. A despeito da incontestável
gravidade do acontecimento ninguém considerou nele um indício de que esteja
iminente uma nova guerra. A Europa e o mundo inteiro estão por demais
depauperados para ser atirarem agora a uma nova conflagração. Assim, a
perspectiva imediata que temos diante de nós não parece alarmante do ponto de
vista da paz mundial. Verificada a impossibilidade de um acordo entre os
comunistas e o bloco das potências anticomunistas, a situação permanecerá inalterada por tempo indefinido. E, de um e
do outro lado da grande linha divisória da Europa central, cada potência vai
procurar organizar sua vida como melhor
entenda.
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Evidentemente, não se deve pecar por excesso de
otimismo. Se de um lado o espectro de uma guerra imediata parece afastado em
virtude do sangue frio com que se operou a dissolução da conferência de
Londres, de outro lado, a perspectiva de uma guerra a ser travada em futuro
mais remoto – perspectiva que foi sempre plausível – adquiriu foros de
probabilidade e quase de certeza. O mundo ficou dividido em duas partes.
Divisões como esta não podem conservar-se perpetuamente pacíficas. De um e do
outro lado, restauradas as forças, pensar-se-á em guerra. E, assim, este
período de paz que temos diante de nós, ao mesmo tempo que parece alongar-se,
toma claramente o aspecto de um mero armistício.
Se bem que este armistício nos pareça dever durar
alguns anos, quem terá a ousadia de contestar que de um momento para outro
qualquer incidente imprevisto nos pode atirar em plena guerra?
Contudo, a hipótese mais provável é a paz, ou, se se preferir, o armistício. Que conseqüências trará ela?
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A URSS continuará a ocupar
por tempo indeterminado parte da Alemanha, inclusive Berlim, a Hungria, a Checoslováquia, a Iugoslávia, a Rumânia e a Bulgária. Na Áustria, sua influência, contrabalançada embora pela dos Aliados,
também se exercerá. Em outros termos, o regime soviético, vigente antes de 1938
apenas na Rússia, terá passado a vigorar para quase toda a Europa central. Se
esta ocupação durar alguns anos, tudo quanto havia de tradicional, de orgânico
e de cristão nesses povos terá desaparecido, ou estará combalido a fundo. A bolchevização destas infelizes regiões será mais ou menos
um fato consumado. Pelo menos poderemos ter certeza de que os sovietes não
pouparão esforços para tal. E, com isto, estará andado meio caminho para a
total bolchevização da Europa. Stalin será tão poderoso
quanto Napoleão em seu apogeu.
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Estes os frutos da ruptura da conferência de
Londres. Imaginemos por uns instantes que esta ruptura não se houvesse
verificado, e que se tivesse chegado a um tratado de paz. Estabelecido o acordo
quanto à Alemanha, seria menos difícil acertar condições para a restauração da
Hungria, Boêmia e Balcãs. E, uma vez isto feito, tanto os americanos quanto os
soviéticos teriam de retirar-se. Estes povos se organizariam depois das
competentes consultas aos respectivos eleitorados. E, em última análise, as
urnas decidiriam qual a forma de governo e qual o sistema social que cada um
destes países haveria de adotar.
Por toda a Europa, os comunistas não têm sofrido
senão derrotas, sempre que se submetem ao pronunciamento do sufrágio popular. É
muito provável que o mesmo ocorresse nos países por eles ora ocupados. Em conseqüência,
a hegemonia soviética na Europa central desapareceria.
Assim, pois, qualquer tratado de paz seria para os
comunistas um autêntico desastre. Compreende-se, pois, o motivo de seu cínico
procedimento em Londres.
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Pode-se provar facilmente que os comunistas seriam
derrotados caso se fizessem eleições livres na Europa central. Em todos os
países em que vence o Partido Comunista, a soberania nacional desaparece, e
todas as ordens vêm de Moscou. Se os comunistas tivessem grandes esperanças de
vencer as eleições na Alemanha e demais países ocupados, eles teriam sido muito
tolerantes em Londres, procurando de qualquer maneira obter que os americanos,
ingleses e franceses assegurassem a imparcialidade no pronunciamento do
sufrágio popular, e se retirassem logo depois. Que boa risada daria Stalin, se pudesse assistir em atitude de superior
neutralidade à ascensão de partidos comunistas em toda a Europa central!
E se ele não procurou encaminhar as coisas nesta
direção, não é porque prevê que do sufrágio popular nenhum bem lhe poderá vir?