A semana passada foi de grande importância
política, pois que se prepararam ao longo dela acontecimentos decisivos para o
mundo, em três planos distintos, mas todos de primeira grandeza na ordem dos
problemas contemporâneos. Na França, a crise
social vai maturando lentamente, e chegando a
um ponto em que a solução final se tornará inadiável. Em Londres, trabalha-se ativamente para decidir os destinos da
Alemanha. Na ONU, reconheceu-se aos
israelitas o direito a um lar nacional na Judéia. Cada um destes pontos é tão rico em significado e
conseqüências, que merece ser tratado isoladamente.
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Primeiramente, a crise francesa. Falamos linhas
acima, de crise social. A expressão, porém não contém toda a realidade. Na
França, a crise social se
está revelando em última análise muito suscetível de solução. Toda a
dificuldade do problema está na crise internacional.
Expliquemo-nos. As últimas eleições demonstraram
que o povo francês é fundamentalmente anticomunista. A bancada numerosa (e
ainda assim francamente minoritária) de que o PC dispõe no Parlamento se deve
exclusivamente a que a opinião pública, ainda galvanizada pelo ideal de
Resistência, elegeu nos primeiros dias da vitória um bom número de deputados
comunistas, principalmente porque eles tinham sido heróis no movimento
subterrâneo. Se o Parlamento fosse dissolvido hoje, não há dúvida de que a
bancada comunista seria bem menor. Assim, parlamentarmente
falando, a situação dos comunistas é das mais precárias. Como na França a
própria Constituição confere ao Presidente da República o direito de dissolver
a Câmara, os comunistas estão expostos a perder de um momento para outro sua
atual situação no Legislativo. O Executivo não está em suas mãos. O Judiciário
também não. A administração municipal lhes escapou nas últimas eleições. Não
parece que eles tenham influência no Exército ou na Marinha. Os comunistas
estão, pois, no risco de ser atirados de um momento para outro ao ostracismo
político, que eles quase não têm meios de evitar.
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Teriam um, e este meio eles também o estão perdendo
gradualmente. Até certo ponto, poder-se-ia explicar que o Presidente Auriol ainda não tivesse
dissolvido o Parlamento: como medida de reação contra a convocação de novas
eleições, os comunistas poderiam facilmente desencadear uma greve geral, cujos
efeitos sobre a economia francesa seriam ruinosos. É verdade que este
procedimento seria da parte dos comunistas, sumamente antidemocrático, uma vez
que não se compreende que os pretensos paladinos dos direitos do povo se
oponham a que a opinião pública seja novamente consultada, através de eleições
legais e livres, a respeito de suas preferências políticas. Mas os comunistas
se importam muito pouco, no fundo, com a lógica e com os direitos do povo. E,
assim, a ameaça de uma greve geral poderia pesar no ânimo do Presidente Auriol de modo não pequeno, levando-o a evitar a dissolução
do Parlamento. Esta ameaça era a única arma de que os comunistas dispunham para
manter sua atual situação parlamentar. Ora, esta arma, eles acabam precisamente
de a destruir.
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O grande reduto do comunismo era a CGT, e de modo geral todo o sindicalismo francês. Era esta a
máquina que os comunistas pretendiam manobrar para desencadear a greve geral.
Manobraram-na com efeito, mas ela se partiu em suas mãos. De um lado, a
Confederação Cristã dos Trabalhadores lutou contra a
greve, não sem resultados. De outro lado, uma cisão na própria CGT veio mostrar
que os comunistas não dispunham ali da unanimidade de que se gabavam. Por fim,
o sistema do voto secreto, empregado com êxito para se decidir se os operários
deviam entrar em greve, demonstrou que importantes correntes operárias eram
contra a greve, não ousando manifestar-se apenas por temor da coação moral
exercida sobre eles pelos agitadores comunistas. A tal ponto é isto verdade,
que os comunistas lutaram energicamente contra o voto secreto. E isto provou
ainda mais uma vez que os comunistas não são senhores e possuidores da massa
operária, que não a dominam nem a manobram como um rebanho inconsciente. Por
fim, a maior das desmoralizações consistiu em que um pouco por toda parte os operários, percebendo
que estavam servindo de mero joguete aos comunistas, começaram a “furar” a
greve, de sorte que o movimento paredista foi
murchando em toda a França a despeito da pressão vermelha. Tudo isto somado
significa que em última análise a CGT foi inoperante, e que os comunistas não
possuem o operariado. Em outros termos, se a situação internacional fosse
normal, eles seriam fragorosamente derrotados pelos
próprios franceses.
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De onde vem pois a gravidade do perigo?
Exclusivamente da situação internacional. Se os comunistas constituem para a
França uma ameaça, deve-se isto ao exclusivo fato de que eles têm a proteção de
uma grande potência, a qual só os apoia por ver neles um instrumento para a
realização dos objetivos que ela vem procurando alcançar no mundo inteiro. Em
outros termos, isto se define assim: mais claramente do que nunca está
demonstrado que os comunistas constituem uma 5ª coluna ativa e cheia
de dolo, que opera em território estrangeiro por conta da URSS, a serviço
desta, e segundo as diretrizes vindas de Moscou. Dar ao comunismo o golpe de
misericórdia dentro da França, convocando novas eleições e impondo o voto secreto daqui
por diante em todas as deliberações sindicais, não seria provocar uma
interferência da Rússia, e a deflagração da guerra? Ou, em outras palavras, se a
França quiser ser dona em sua própria casa, e consultar honestamente seus
cidadãos sobre os destinos que querem dar à pátria, permiti-lo-á a Rússia?
É a isto, a se deter diante de problemas
humilhantes como este, que está reduzida uma nação que foi, é, e continuará a
ser uma das primeiras nações da Terra.
Meditem sobre isto as nações mais novas...
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Assim passamos, como que insensivelmente, do campo
da política internacional para o agitado e escorregadio da política brasileira.
A questão da cassação dos mandatos está na ordem do dia. Já temos declarado
insistentemente que ela se impõe. Não tememos a ação do comunismo na livre luta
eleitoral: está demonstrado que os brasileiros não lhe têm a menor simpatia.
Mas o perigo consiste em deixar que uma verdadeira quinta-coluna
continue instalada entre nós. O que
poderá fazer no Brasil a quinta-coluna comunista?
Evidentemente, um desembarque soviético em terras brasileiras é perfeitamente
quimérico. Mas, em toda a América Latina, o comunismo está organizado de sorte a poder, em caso de
guerra mundial, prolongar indefinidamente o regime das sabotagens e das
desordens, prejudicando assim gravemente, não só os serviços de mobilização
militar dos nossos soldados eventualmente chamados a combate em outras terras,
mas ainda o abastecimento do mercado norte-americano com as matérias primas que
somos capazes de produzir. Tudo isto pode pesar de modo decisivo na luta. E,
assim, é bem compreensível o empenho que tem Moscou em manter o comunismo ativo
entre nós, e em proteger sua ação traiçoeira, sob a proteção das leis
brasileiras, e das garantias que nossa ingenuidade se compraz em dispensar a essa
perigosa quinta-coluna.
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Analisando a situação francesa devemos observar que
as atividades comunistas destruíram a bem dizer a democracia naquele país. O
próprio MRP – bando de sonhadores da main tendue – foi obrigado a empregar os
métodos enérgicos preconizados pelo general De Gaulle. Assim, o grupo da main tendue não estende mais às feras a mão
inerme e empunha hoje decididamente o fuzil de guerra. Certa imprensa
brasileira tem insistido muito sobre esse ponto, e tem toda a razão. Não
compreendemos, porém, como possa ela depois disto bater-se contra a cassação
dos mandatos. Se o legislativo recusar a cassação, e os comunistas promoverem
aqui desordens como as da França, que remédio haverá, senão chegar até lá? E
que caminho haverá para isto, senão um
golpe contra o próprio Parlamento se este se obstinar em não defender o país
contra a quinta-coluna?
Está atrás de nós uma longa
tradição de lutas antifascistas, antinazistas, etc.
Temos, pois, autoridade para perguntar aos sonhadores brasileiros se não
percebem a contradição em que se enterram.
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A Conferência de Londres não tem interessado
muito a opinião pública, não porque os assuntos ali tratados careçam de interesse,
mas porque todos sentem a precariedade da própria Conferência. Estamos cansados
destas tertúlias internacionais, em que as reuniões começam sempre com
otimismo, acabam sempre com pessimismo, e os resultados em geral são nulos.
Assim, pois, suspendemos nosso juízo a respeito da questão. Só quando
conhecermos os resultados concretos da conferência, nos animaremos a
comentá-la, tanto mais quanto receamos muito que ela seja simplesmente mais uma
dessas parolagens internacionais ocas e desinteressantes, em que parece
cifrar-se a diplomacia de nossos dias.
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Vamos agora à questão da Terra Santa. O mundo inteiro está cheio do rumor levantado por ela.
Os povos islâmicos se estão movimentando. Os elementos radicais do judaísmo,
descontentes, reivindicam a própria posse dos lugares sagrados. O problema de
saber a quem deve pertencer a Palestina parece insolúvel.
Aos árabes, aos judeus? Ninguém sabe. E como são poucos, neste mundo revolto,
os que têm a coragem de enunciar a verdadeira decisão? Quem tem a coragem de
afirmar o princípio verdadeiro de que Jerusalém e os Lugares
Santos, por terem sido consagrados pela Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo, são o patrimônio comum da Cristandade, e, portanto, não
podem estar sob domínio exclusivo nem de árabes, nem dos judeus?