Telegrama procedente de Londres noticiou que, há
poucos dias convidados por uma associação de "Cavaleiros da Mesa Redonda" jantaram juntos, na Capital britânica, S.E. o
Cardeal Griffin, Arcebispo de Londres, o "arcebispo" anglicano
da Cantuária, um bispo cismático, e outras
personalidades de destaque pertencentes à Igreja e a várias igrejas. O
telegrama acrescentava que um dos motivos dessa reunião consistia em dar aos
"fiéis" (termo genérico para designar igualmente infiéis e fiéis) do
mundo inteiro um exemplo de íntimo e cordial convívio.
É bem possível que S. E. o Cardeal Arcebispo de
Londres tivesse realmente comparecido a tal reunião. Teria sem dúvida, para
isto, motivos especiais. Mas é falso que ele tenha querido, com isto, dar um
exemplo a ser ordinária e geralmente seguido pelos fiéis do mundo inteiro.
Uma primeira razão de nossa afirmativa salta aos
olhos: o ilustre purpurado está à testa de uma das dioceses mais difíceis do
mundo. Londres ainda é a maior cidade contemporânea. Suas
ruas tem uma extensão total com a qual se faria um caminho indo de Lisboa aos
Montes Urais. Na sua maioria, a população da grande metrópole londrina é
protestante. As condições em que se desenvolve o Catolicismo na Inglaterra são
difíceis e pouco seguras. Tudo isto dá para formar uma cruz bastante grande
para os ombros de um prelado. Não cremos que ele tivesse querido agravar o peso
desta cruz acrescentando-lhe o peso do mundo inteiro. Já basta - e quanto! -
Londres para pastorear. É absolutamente improvável que ele tenha querido ainda
ocupar-se em dar exemplos para o resto do mundo.
* * *
Acresce que, se é perfeitamente explicável e legítimo
que um prelado compareça a reuniões como estas em circunstâncias muito
excepcionais, e portanto muito raras, é obvio que todo o seu esforço consiste,
não em incitar os fiéis a fazer o mesmo, mas em lhes sugerir toda a cautela na
matéria.
Com efeito, a Igreja vê com apreensão o convívio
dos fiéis com os infiéis, e [...] Ela desaconselha formalmente que os fiéis se misturem
habitualmente aos hereges. O convívio entre fiéis e infiéis não é, nem pode ser
aconselhado pela Igreja.
* * *
Hoje em dia “as liberdades
humanas” cedem diariamente maior lugar às doutrinas utilitárias do planismo.
O que é bom para a sociedade é considerado automaticamente bom para o
indivíduo. O culto de Deus está sendo substituído pelo culto do homem. Desse
ponto à veneração do Estado não vai senão um passo. O homem então não será mais
que uma peça da máquina, um dente da engrenagem. Estaria então destituído de
todos seus direitos. Palavras sensatas, criteriosas, profundas essas que acabamos
de reproduzir. Elas mostram claramente que o grande perigo que os católicos de
nossos dias devem recear não é mais o liberalismo, mas a ação invasora dessa
verdadeira hidra que se chama o Estado contemporâneo.
De quem [são] estas palavras que
certamente desagradarão aos mesmos leitores que já não gostaram de nosso
comentário sobre as supostas intenções com que o cardeal Griffin
compareceu ao jantar dos “Cavaleiros da Mesa Redonda”? Do próprio cardeal Griffin.
Estamos bem
certos de que, se S.E. não quis de modo algum inculcar, ao mundo inteiro, com
seu exemplo, o convívio entre católicos e hereges, terá contudo grande prazer
em saber que ensinamentos tão justos, sábios, oportunos, ecoam e impressionam,
mesmo fora de sua vasta Arquidiocese.
* * *
As eleições municipais de Roma acabaram sendo uma verdadeira luta entre
católicos e comunistas. Todos os outros aspectos do pleito desapareceram em
face deste. Ninguém se interessou em saber se os outros partidos ganharam ou
perderam. Mas quiseram, todos, saber se na capital do mundo católico teriam
maioria de votos os católicos ou os anti-católicos.
Este fato, que o noticiário dos jornais deixou
bem patente, prova que tínhamos toda razão em afirmar que o próprio fundo da
política italiana - como aliás do mundo inteiro – é, no momento presente, a
luta entre o paganismo totalitário e panteista, e o
catolicismo.
Este fato fundamental, certos próceres do
Partido Democrata Cristão da Itália parecem ter desejado encobri-lo ou
atenuá-lo de todos os modos. E, por isto, engendraram a famosa “política da mão
estendida”, que não passa de um colossal equívoco.
Mas o
próprio PDC italiano fez a experiência de quanto era inviável a sua política,
e, quisesse ou não, acabou funcionando como frente única dos católicos contra o
comunismo. Preciosa lição: peçamos a Deus que seja também proveitosa.
* * *
Lutas destas são forçosamente de vida e morte.
Por isto, muito bem andaram os monarquistas italianos pedindo ao parlamento,
por intermédio do deputado Beneditini, a
dissolução do Partido Comunista.
É possível que alguns anticomunistas de água
de flor de laranja ajam julgado violenta e antidemocrática a proposta do
parlamentar monárquico. Isto não obstante, os comunistas - que não são jamais
do tipo "flor de laranja" - e que se preocupam muito pouco com a
democracia, e a democraticidade de seus processos
políticos, entenderam as coisas de outro modo. Um deputado comunista Bardini, ao ouvir
esta proposta, se levantou, cobriu de doestos o parlamentar monárquico, e só
não o agrediu fisicamente pela interferência de outros deputados presentes.
Assim, pois, os comunistas têm o direito de
matar na Rússia o Czar e toda a sua família, exterminar os nobres como se
fossem cães, e colocar os monarquistas fora da lei: isto é a democracia. Mas os
monarquistas não podem pedir na Itália o fechamento do Partido Comunista: isto
é antidemocrático.