Legionário, N.º 792, 12 de outubro de 1947

7 Dias em Revista

Notícias provenientes dos Estados Unidos informam que continua naquele país o Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, Arcebispo Metropolitano. Naquela república irmã, o eminente Purpurado tem sido obsequiado pelas altas autoridades eclesiásticas, e especialmente pelo Emmo. Rev.mo. Senhor Cardeal Francis Spelmann, Arcebispo de New York. Outrossim, o Antístite Paulopolitano teve oportunidade de se avistar com altas autoridades civis, não só dos Estados Unidos, mas também da ONU, que atualmente se encontra reunida em Lake Success.

O Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal Dom Carlos Carmelo, na qualidade de Grande Chanceler da Universidade Católica e Pontifícia de São Paulo consagrou boa parte de seu tempo na visita de estabelecimentos universitários norte-americanos. Assim, o eminente Purpurado esteve na Universidade de Notre Dame, onde visitou as salas de aula, laboratórios e outras dependências na quinta-feira p. p.

Está anunciado que Sua Eminência Reverendíssima estará de regresso a esta cidade na segunda quinzena do corrente mês.

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O eminente Sacerdote da Companhia de Jesus, o Pe. Arlindo Vieira, se tem destacado em nossos meios intelectuais e religiosos como educador, orador e jornalista brilhante. Dispondo, ainda moço, de um renome nacional, ser-lhe-ia fácil deixar correr amenamente a vida - como fazem tantos intelectuais - dedicando-se ao brando mister de sustentar causas fáceis, pontos de vista geralmente admitidos, teses incontroversas. Mas, verdadeiro Sacerdote de Deus, filho genuíno de Ignácio de Loyola, a têmpera de seu caráter e o ardor de seu zelo não lhe permitiriam viver nesta deleitável e luzente mediocridade. O papel do Sacerdote não consiste em assistir de palanque ao embate tremendo que se trava hoje em dia, entre Cristo e o Anticristo. Seria, nesta hora de desenlace da História, qualquer coisa de tão vergonhoso como dormir no Horto das Oliveiras, enquanto o Mestre sofria os tormentos indizíveis de sua agonia, e se dispunha para a última e suprema imolação. O Pe. Arlindo Vieira atirou-se ao campo de batalha em várias campanhas memoráveis, lutando ora em benefício do ensino, ora da ortodoxia não com frases vagas e a propósito de temas genéricos ou imprecisos, mas focalizando sempre fatos, idéias, problemas de palpitante atualidade. É ele  um lutador, que não cessa de defender na imprensa, no púlpito, na cátedra, a causa de Cristo e de sua Igreja, não contra inócuos fantasmas feitos de nuvens, mas contra inimigos concretos, palpáveis, poderosos e articulados; não com tiros de festim, mas com os golpes rijos de uma argumentação cerrada e corajosa. Não lhe poderiam faltar, pois, inimigos e detratores. Houve tempo em que se dizia, como indício de que uma pessoa era boa, que "não tinha inimigos". Hoje, é o contrário que se deve dizer: quase sempre, o homem sem inimigos é  o homem sem idéias nem caráter. O Pe. Arlindo Vieira se encontra, assim, em plena batalha ideológica. Não fosse ele um jesuíta digno deste glorioso nome.

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Não espanta, pois, que suas idéias sejam discutidas. Nossos leitores sabem que, se não sempre, quase sempre elas são as nossas. Os princípios pelos quais esta folha e o Pe. Arlindo Vieira se tem batido são por demais verdadeiros, nobres, transcendentais, para que não sejam repudiados e odiados por muita gente. Não é da luta, que se queixará um verdadeiro batalhador. A luta lhe faz honra. E, no caso, até os inimigos que suscitamos muitas vezes nos dão honra tanto quanto nossos amigos. Pois que é uma honra acender a iracúndia dos que, consciente ou inconscientemente, combatem e perseguem os interesses da Igreja.

Causa, porém, lástima que este combate se desvie de sua verdadeira natureza ideológica, para assumir o caráter de campanha pessoal. É o que fez um jornalista que publicou num grande matutino desta cidade um artigo visando apresentar o Pe. Arlindo Vieira... como um "inimigo de Deus".

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Por dois motivos, o artigo causou surpresa. Um, pelo próprio enunciado da tese: um Jesuíta ilustre, que age no espírito e segundo as normas tradicionais da gloriosa Companhia de Jesus, ser chamado "inimigo de Deus", é de pasmar. Outro, porque ninguém esperava ver o autor daquele artigo sair a público no papel novo de "amigo de Deus", mais informado e zeloso da glória do Criador do que um intelectual que fez longos e profundos estudos das ciências sagradas, que a Igreja julgou digno da unção sacerdotal e em que todo o Brasil reconhece e respeita as virtudes próprias de seu alto estado.

A este sentimento de surpresa somou-se outro, de pesar. Até aqui nossa imprensa, mesmo nas polêmicas mais acirradas, poupou sempre os Sacerdotes, ou por respeito à sua vocação ou pelo menos em atenção à nossa opinião pública, profundamente católica à qual chocam sempre os insultos dirigidos aos Ministros do Senhor. Violada esta tradição, evidentemente produziu-se com isto em nosso público um sentimento de pesar muito compreensível.

Por tudo isto, interpretando o pensamento de nossos leitores e assinantes, aqui deixamos consignada ao ilustre e benemérito Pe. Arlindo Vieira toda a nossa simpatia e admiração.

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Reuniu-se há pouco em Paris um "Congresso Espiritual Internacional" a que compareceram filósofos, e teólogos de 46 países representando as mais diversas e singulares religiões: adoradores do Sol, alquimistas, maometanos, rosacrucianos, protestantes, cismáticos, etc..

O objetivo deste congresso era realizar um "estudo de caráter universal, abrangendo todos os aspectos da vida econômica". O presidente do conclave foi um "bispo" inglês. As delegações foram numerosas: só os Estados Unidos enviaram dois mil e duzentos delegados de várias seitas. Ghandi enviou uma representante européia.

Para que espécie de unidade tende toda esta gente? Para a unidade católica? Evidentemente, não. Trata-se entre eles de realizar uma fusão de todos os cultos em uma religião vaga e universal, de fundo provavelmente panteísta. É uma grande interpenetração de cultos, para formar um grande todo, do qual nada ficará de fora... senão, evidentemente, a Igreja que não pode transigir no menor ponto de sua doutrina. Realizado este intento, teremos duas potências religiosas face a face, a Igreja de Cristo e a anti-Igreja, que será a do Anticristo. Mas Deus é grande e não chegaremos tão longe. Antes disto, esperamos, a Providência porá sua Mão no assunto, destruindo as maquinações urdidas contra o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.