Infelizmente,
as agitações na Itália continuam. De todos os lados as greves se multiplicam
criando para o gabinete De Gasperi uma situação
difícil. Chegou-se mesmo a falar em revolução comunista. A sede central do PC italiano
publicou um comunicado em que desmentia formalmente as versões referentes a um
golpe de estado. Mas a palavra do PC vale muito pouco na Itália, como por toda
a parte. O simples boato de revolução social, mostra bem até que ponto se
extremaram as opiniões, e quanto se agravou a situação.
Como é
evidente, pensamos no Papa. Ainda ecoam em nossos ouvidos as palavras trágicas
de seu grande discurso na Praça de São Pedro. Pode ser que os acontecimentos de
amanhã dissipem todas as nuvens, mas pode bem suceder o contrário. E nossos
corações de filhos sofrem e sangram pelo Pai comum. Porque o Papa é a cabeça, o
fundamento e o cerne da Igreja. Onde está Pedro aí e só aí está a Igreja de
Jesus Cristo. E se Pedro sofre, é toda a Igreja que sofre com ele.
Mais uma vez
insistimos sobre a necessidade de se rezar muito e muito pelo Santo Padre, nos
dias tormentosos em que vivemos.
* * *
O que há de
muito significativo neste assunto é a atitude do Sr. Palmiro
Togliatti, duce dos comunistas italianos. Até não há muito tempo, Togliatti procurava manter relações cordiais com figuras
exponenciais do catolicismo da Itália, fazendo o possível para demonstrar por
suas atitudes a tese absurda de que catolicismo e comunismo não são
incompatíveis. E como sempre houve os ingênuos que deram crédito às manobras de
Togliatti.
Agora, porém,
os interesses do Kremlin mudaram, e Togliatti recebeu
outra palavra de ordem. Hei-lo que ataca desabridamente a Igreja, e de modo
todo particular o Vaticano. Quer isto dizer que, ao menos no momento, o governo
soviético não vê nenhuma vantagem em proceder com moderação em relação à
Igreja. O que justifica o temor de que ele venha a ordenar atos violentos
contra o próprio Papado.
* * *
O que há de
muito considerável na atitude de Togliatti e dos
comunistas italianos é a manifesta ilegalidade de seu procedimento. Os
comunistas se dizem partidários do princípio da soberania popular. Dentro deste
falso princípio, nada de mais incoerente do que sua atitude. Com efeito, as
eleições para a Constituinte italiana foram honestas. Através delas, o povo
italiano elegeu uma forte maioria anticomunista. E esta maioria por sua vez
indicou o Sr. De Gasperi para formar gabinete. O
ministério De Gasperi – empreguemos o detestável
“dialeto” político da ideologia – é uma legítima e direta emanação do sufrágio
popular. Com que direito pois, pretendem os comunistas forçar o Parlamento a
derrubar este ministério por meio de greves?
A atitude dos
comunistas justifica perfeitamente o que dizíamos há meses atrás. Não tememos a
vitória eleitoral do comunismo em um pleito livre e raso. Não houve ainda o
caso de um país que entrasse para o comunismo em eleições honestas. Tememos,
isto sim, e, sumamente, a destreza, a violência e a astúcia das minorias fortemente
organizadas que o comunismo arregimenta por toda a parte.
A versatilidade
de Togliatti poderia servir para abrir os olhos dos
ingênuos, que sonham com a política da mão estendida. Não cremos, porém, que
tais ingênuos mudem de opinião. A pior obstinação é a dos espíritos tíbios e comodistas, que fabricam uma visão rósea das coisas, para
poder viver maciamente. Esses idólatras do macio se
agarram a seu ídolo com uma veemência invencível. E só abrirão os olhos no dia
em que sua própria pele estiver em jogo.
Sim, porque em
matéria de pele, ninguém é transigente, nem imprevidente, nem tíbio... Estas
coisas são boas só quando se trata de princípios!
* * *
Falando do
silêncio oprobioso da imprensa mundial quando das
perseguições religiosas no México, o Sumo Pontífice Pio XI usou uma expressão
excelente: "a conjuração internacional do silêncio". Esta conjuração
continua, lançando o véu, sempre e por toda parte, sobre as ignomínias
praticadas pelos adversários da Igreja.
Na Inglaterra
está veladamente restaurada a escravidão. O governo laborista está investindo no direito legal de designar para
todo o inglês um emprego. Vejam agora nossos leitores como uma agência
telegráfica encontrou meios de fazer a toilette, a este fato, noticiando em termos adocicados
fato tão terrível. Leia-se, o telegrama, e diga-se se ele incute contra tal
instituição a aversão que todos devemos sentir:
"A REDISTRIBUIÇÃO DA MÃO DE OBRA NA
INGLATERRA - Londres, 18 - De acordo com os planos do governo a propósito da
distribuição de mão de obra, que deverão entrar em vigor a 6 de outubro
próximo, todos os homens de 18 a 60 anos de idade, e as mulheres de 18 a 40,
que deixarem seus empregos à procura de outro deverão dirigir-se
obrigatoriamente às Bolsas de Trabalho, onde lhes será facultada uma escolha
tão ampla quanto possível de empregos considerados "essenciais", isto
é, nas indústrias que produzem artigos para exportação.
E, em caso de recusa, será dada ordem
formal ao interessado. Os salários e condições de trabalho serão fixados de
acordo com as escalas aprovadas pelos sindicatos.
O Ministro do Trabalho assegurou que todos
os meios de persuasão serão utilizados antes da aplicação de penalidades que
vão desde 100 libras de multa a três meses de prisão.
Esses planos são complementares das medidas
previstas no plano Cripps, em virtude do qual haverá
redução ou interrupção no fornecimento de matérias primas e combustíveis às
indústrias "não essenciais", o que as levará a dispensar
trabalhadores que serão utilizados nos setores "essenciais".
* * *
Na Iugoslávia,
os católicos parecem que se organizaram militarmente
e estão agindo contra as autoridades de ocupação comunistas. Aplaudimos a
magnífica iniciativa. Como bem disse Pio XII, chegou o momento de opormos à
violência dos maus a santa violência dos bons. E essa santa violência não é uma
violência de opereta, feita de algodão e cartolina, mas uma violência eficaz,
enérgica, invencível.
Que
possibilidades de êxito tem esta iniciativa? Pouco importa. Há situações em
que, pura e simplesmente, é preciso lutar, ainda que o êxito seja extremamente
improvável.
* * *
Nisto tudo, há
um fato que não compreendemos: por que motivo o governo yankee retira suas
tropas do Adriático, precisamente agora?