A recente deliberação do gabinete inglês de suspender
a aquisição de dólares causará, segundo a opinião de todos os comentadores,
considerável desorganização na economia norte-americana. Nada mais explicável.
A Inglaterra é uma das maiores
consumidoras de produtos americanos. Cessando a aquisição de dólares, fica
impedido o câmbio, e, com isto, ficam suspensas as exportações para a
Inglaterra. Os produtos americanos não terão aplicação em outros mercados,
empobrecidos todos pela guerra. E, implicitamente, os Estados Unidos começarão a sofrer
de superprodução. Esta superprodução virá com o cortejo de suas conseqüências
habituais: depressão, desemprego, etc.
Tudo isto é estritamente técnico e escapa, a este
título, do raio de apreciação habitual do "Legionário". Contudo, o
fato nos interessa por outra conseqüência relacionada diretamente com os
problemas de que costumamos ocupar-nos. A desorganização mais ou menos profunda
da economia americana pode provocar o recrudescimento
da questão social e das atividades comunistas nos Estados Unidos, e, de outro lado, debilita a influência internacional
norte americana. Quem se beneficia com isto é somente a URSS. E, assim, tudo somado, este acontecimento reverte em
incontestável proveito para o comunismo.
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Como prevíramos, a conduta do General De Gaulle vai produzindo
efeitos profundos no partido de tendências católicas, que é o MRP. Em todos os
partidos, e portanto também no MRP, há um início de desagregação em favor do Rassemblement du Peuple Français, fundado por
De Gaulle. Se bem que essa organização não tivesse representação parlamentar
porque ainda não estava fundada ao tempo das eleições, vai ter agora um bloco
de representantes na Câmara, destacados de vários outros partidos políticos. O
MRP perderá, assim, algumas cadeiras. E, de outro lado, o partido do Sr. Bidault foi obrigado a se
definir sobre a política do General, enunciando suas reservas a respeito dele.
Isto, por seu turno, poderá desgostar com o MRP toda a ala conservadora e
reacionária, chegando a produzir eventualmente efeitos que ameacem a própria
unidade das hostes de Bidault.
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Lamentamos que mais uma tradição se tenha quebrado
na Inglaterra sob a pressão embrutecedora e descristianisadora do Labour Party. Até aqui, na "Lista de Honra
do Aniversário Natalício do Rei", não se incluíam divorciados, se bem que
a Inglaterra tivesse o divórcio admitido pelas leis civis e eclesiásticas. Era
uma manifestação da repugnância instintiva que nos velhos séculos da
civilização cristã inspirava a violação dos vínculos conjugais. Digamos mais
claramente, era um resto de pudor.
Ora, neste ano, foram pela primeira vez na História
da Inglaterra incluídos dois divorciados na lista, dos quais um é ator, e outro
agente financeiro do Tesouro britânico em Washington.
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As provocações continuam no mundo inteiro,
promovidas pela Rússia na Grécia, no Irã, na Europa Central. Cada vez mais, a paz se vai parecendo com um armistício
mais ou menos durável, e o estado de guerra psicológica, com suas nevroses,
seus ódios, seu mal estar universal, se vai tornando crônico em nossa
civilização.
Enquanto isto, a ONU faz burocracia.
Como prevíramos, a esterilidade desse organismo internacional é completa, tão
completa quanto a da antiga Liga das Nações...