Legionário, n.° 782, 3 de agosto de 1947

7 DIAS EM REVISTA

Algo de muitíssimo singular está ocorrendo nos bastidores de nossa vida parlamentar. Já temos tratado, aqui, do problema do inquilinato. Já denunciamos toda a iniquidade do projeto de lei semi-comunista, apresentado pelo deputado espírita Campos Vergal, projeto este que a bem dizer confisca os prédios urbanos em favor dos inquilinos. Numa Câmara anticomunista, que cogita neste momento de cassar os mandatos dos parlamentares vermelhos; numa Câmara em que a maioria deveria ter todo o interesse em impedir que o Sr. Campos Vergal apresentasse demagogicamente o triunfo de seu projeto de lei como um título de futura propaganda eleitoral, entretanto a lei de confisco vai passando sorrateiramente.

Primeiramente, na comissão competente, houve confusão, discussão, e, de modo inesperado, o projeto entrou em plenário. Parece que qualquer escamoteação houve nisto, já que alguns membros da Comissão quiseram exigir que o projeto voltasse do plenário. Mas de repente, depois de um longo silêncio, o público soube que o projeto foi aprovado em 1ª discussão... e agora entrou em 2ª discussão! Mais ainda: não é o próprio projeto do Sr. Vergal, mas um substitutivo. E este substitutivo... ninguém o conhece!

Como explicar estes mistérios? Como explicar esta conjuração de silêncio da imprensa diária? Algo de muito equívoco se prepara aí. Veremos depois o que é.

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Em notas anteriores, temos falado sobre a divisão do mundo em dois grandes blocos, um americano e outro russo, e temos acentuado que não [erro tipográfico] se estes blocos estão constituídos, mas que a paz existente entre eles não passa de um intermezzo, aliás, não muito breve, entre a última guerra e a próxima.

Prova disto é que, diariamente, os dois blocos entram em luta em alguma parte do mundo. São pequenos princípios de incêndio, logo abafados aqui e lá, mas que indicam uma oposição tão funda de interesses, uma tal exacerbação de espíritos, que verdadeiramente se pode ter a surpresa de uma guerra internacional quando menos se esperar.

Tivemos ontem o caso da Grécia. Hoje temos o da Indonésia. Todos os comunistas simpatizam com os nativos. Os anticomunistas simpatizam com os holandeses. Rússia e EE. UU. provavelmente fornecem armas aos dois lados. A ONU, pomposa, impotente, lenta, delibera sobre o assunto. No dia talvez muito próximo ou talvez muito remoto em que o resolver, outro caso virá. Será talvez a pressão comunista na Áustria que recrudescerá.

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Note-se que tudo isto tem uma conseqüência concreta. Não prejudica nem a URSS nem os EE.UU. Prejudica tão somente os povos menos fortes que, nesta atmosfera de guerra, vão cada vez mais sendo obrigados a sacrificar sua soberania, colocando-se sob a proteção de um dos dois gigantes.

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A respeito da cassação dos mandatos dos deputados comunistas pode-se discutir a oportunidade da medida. Não entramos neste assunto. Mas o princípio precisa ficar salvo.

E o princípio, para nós católicos, consiste em que, segundo a lei natural, os comunistas não tem o direito, nem de professar suas opiniões, nem de as propagar. A liberdade de opinião, para a Igreja, tem limites e o comunismo está todo inteiro fora destes limites. Como conseqüência, todo o católico, considerada a questão só do ponto de vista doutrinário, deve ser favorável à cassação.