Na semana passada registramos a divisão do mundo em
dois blocos, o americano e o soviético. Nesta semana, os fatos prosseguiram em
curso lógico. De um lado, ambos os blocos se vão consolidando e organizando
cada qual como um mundo isolado. Do outro lado, estes blocos iniciam entre si
um verdadeiro regime de guerra velada, guerra de nervos e guerra de sangue.
A estruturação do bloco americano se fez na
conferência de Paris. Apesar de serem numerosos e complexos os problemas de que
a conferência teve de tratar; a despeito, também, do grande número de
delegações presentes à conferência, o trabalho foi decente, rápido e fecundo:
prova bem clara de que é muito fácil combinar as coisas quando não está
presente a URSS com sua má fé, e seus métodos brutais. A
harmonia obtida em Paris demonstra bem que não será difícil manter englobados
em um só conjunto os países do bloco americano. A formação deste bloco passa,
assim, do papel à prática.
Concomitantemente com isto, a URSS deu
caráter definitivo a seu entrosamento com os países
por ela ocupados, e com isto tornou crônica a ocupação dos Balcãs e da Europa Central, fato que o resto do mundo, tacitamente, acaba de aceitar
como consumado. Esta monstruosidade silenciosa se operou com tanta naturalidade
que nem foi registrada nos comentários políticos, pelo menos com o destaque
necessário. Jamais a URSS teria tido a audácia de proclamar tão nitidamente a
anexação da Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, Albânia, Bulgária, Romênia, se não fosse a bipartição do mundo que acaba de ser
consumada.
Por fim, resvalamos a olhos vistos para um estado
intermediário entre a guerra e a paz, ainda não na guerra total e em grande
estilo, mas os dois blocos mundiais se agridem, em mais de uma parte da terra.
Assim, na Grécia e na China, de fato é a URSS que está em guerra com os EE.UU. e o
Império britânico. De outro lado, uma guerra de nervos assola o mundo inteiro.
Claro está que os discos voadores (qualquer que seja aliás sua verdadeira forma
ou seu modo de voar) não são mera fantasia popular. Mas ninguém ousará negar
que eles serviram de poderoso elemento de excitação nervosa em todo o mundo.
Esta excitação terá produzido seu efeito psicológico normal: tornando próximo o
fantasma da guerra, convencer os povos soviéticos a se agruparem à sombra de
Moscou, e os povos anti-soviéticos à sombra dos EE.
UU. À hora em que escrevemos, fez-se inesperadamente silêncio sobre tais
discos. Silêncio misterioso. Será provisório? Definitivo?
Em outro setor político, também houve silêncio, um
inexplicável e brusco silêncio: o setor Peron. Mas
isto pode não significar nada.