Com a promulgação da Carta fundamental de nosso
Estado no dia 9 de Julho, deverá estar concluída a constitucionalização
de nossa vida. Não conhecemos a nova Constituição, mas não podemos deixar de acolher
o fato com real e intensa satisfação, uma vez que do ponto de vista das
reivindicações católicas, ela é irrepreensível como nos informa o importante
edital da Cúria Metropolitana, que publicamos na 1ª página.
O Legionário,
considerando o fato do ponto de vista temporal [...], não vê na democracia
liberal a ordem das coisas mais conforme à índole e estrutura economico-social de nosso país. Contudo, não se pode negar
que os defeitos da democracia liberal são visivelmente menores do que os da
ditadura socialista da qual acabamos de emergir. E a passagem do mau para o
menos mau já é um grande bem.
Os anos que ficam para traz não deixam saudades.
Durante eles, o Brasil passou por uma verdadeira revolução social. A classe
agrícola, tipicamente nacional, e portadora de nossas melhores tradições
históricas, sofreu um verdadeiro martírio. O mesmo se deu com outra classe,
intimamente ligada à dos agricultores, a dos proprietários de imóveis urbanos.
Ao mesmo tempo, as chamadas categorias médias de funcionários intelectuais e
técnicos - exceção feita talvez dos engenheiros - perderam inteiramente sua
importância. Nos últimos anos, só houve no Brasil duas categorias de homens
influentes: o tubarão geralmente estrangeiro, parvenu, ostentando um luxo
vulgar, e o aventureiro político elevado aos galarins pelos obscuros manejos
nos bastidores do palácio. O resto, tradição, educação [...], cultura, de nada
valia. Quanto aos operários, uma legislação confusa, tumultuária, demagógica,
os abasteceu em grande parte de ilusões, de ventos e de promessas, preparando
seu espírito para as mais loucas reivindicações. Claro está que nada disto pode
deixar saudades senão aos poucos beneficiários inconsoláveis, que continuarão a
chorar os dias idos. É, pois, com ânimo alvissareiro, também do ponto de vista
temporal, que aguardamos as grandes comemorações do dia 9 de julho.
* * *
Não se julgue, porém, que entramos
sem apreensões nesta nova fase de nossa vida. Na esfera internacional, temos
nossa soberania a defender, tarefa nada fácil nas convulsões do mundo
contemporâneo. A situação financeira não é de rosas. A crise dos caracteres
desgosta da política os melhores elementos do país. Ninguém sabe de que crimes
e loucuras será capaz, de um momento para outro, a hidra comunista que está prestes
a receber entre nós os últimos golpes. A instituição da família continua a
decair entre nós assustadoramente, e quando a família decai, tudo decai.
O momento é de regozijo, mas também é de meditação,
e de súplica. Peçamos a Deus que nos ajude a aproveitar a melhoria de condições
políticas que nos trouxe esta fase de post-guerra.
* * *
Manda a justiça que elogiemos as boas ações até
mesmo daqueles a quem impugnamos várias ações más. Tivemos ocasião de criticar
freqüentemente atitudes da Constituinte italiana. Devemos elogiar hoje a
resolução por ela tomada de estabelecer maior descentralização da estrutura
administrativa do país.
Com efeito, a obra de 1870 foi exageradamente
centralista. Sem falar na injustiça praticada com os Estados Pontifícios, e considerando o assunto do mero ponto de vista
temporal, é certo que a riqueza de alma do povo italiano engendrara na
península vários Estados com estrutura psicológica e social inteiramente
própria. Vinculando num só todo estes Estados teria sido necessário
conservá-los vivos e íntegros, como fez a Alemanha, também em 1870, com a Baviera, Saxonia, Wurtenberg e outros Estados
"mediatisados". Pelo contrário, Cavour, Garibaldi e seus companheiros
extinguiram todos os velhos e gloriosos, organismos da Itália tradicional. E a
atitude da Constituinte italiana, reconhecendo ao país maior autonomia, de
certo modo abre caminho a que se corrija este velho erro.
* * *
Enquanto o mundo inteiro se divide em dois grandes
grupos de povos, dos quais um é dominado pela URSS, e outro liderado pelos EE.UU., a ONU vai afundando
lentamente no esquecimento público. Consuma-se, assim, o grande fracasso dessa
organização, fracasso este já há tempos previsto pelo Legionário.
Tudo isto não obstante, seus funcionários, em Lake Success, continuam a
trabalhar pacientemente em levantar esse castelo de cartas. E, assim, a ONU
assinou recentemente uma convenção de privilégios e imunidades com os EE.UU.
Essa convenção - é curioso notá-lo - dota a ONU de uma situação bastante
parecida com a que o Papa possui pelo próprio fato de ser o Soberano Pontífice,
e que o Tratado de Latrão lhe reconhece.
* * *
Assim é que a sede da ONU é uma espécie de Estado
independente, cujo território será governado, não por leis americanas mas por
um regulamento próprio à guisa de Código Civil. Poderá ter serviços radio-telegráficos, de onda curta, próprios, poderá ter
aeródromo próprio e selos postais próprios. Os funcionários da ONU terão em
território americano todos os privilégios de diplomatas estrangeiros.
Mas que diferença entre esse pequeno
"Vaticano" temporal impotente, esfrangalhado, natimorto, e a Santa
Sé! [...]
* * *
Abd-el-Krim fez um discurso em
que insistiu na independência de toda a África do Norte em relação à Europa.
Ao mesmo tempo, a chancelaria do Cairo esta preparando
todos os documentos necessários para advogar junto a ONU o protetorado
muçulmano do Egito sobre aquela região.