Os telegramas
provenientes da Itália deixam
transparecer um evidente enfraquecimento
do Partido Democrata Cristão. É possível que o novo gabinete seja presidido
pelo Sr. De Gasperi, mas a influência do PDC no
Parlamento e na opinião pública, está em declínio. Entre as causas apontadas para tal, figuram duas
que os telegramas mencionam e que nos interessa registrar.
A primeira consiste em que a política de colaboração do Sr. De Gasperi com os
comunistas está causando impressão cada vez mais desfavorável nos altos
círculos dirigentes do próprio Partido. Infelizmente, por esta afirmação,
percebe-se que o Sr. De Gasperi não soube prever nem
evitar o grande escolho que tinha diante de si.
A este escolho,
o LEGIONÁRIO já se referiu logo no início do governo chefiado pelo leader do PDC
italiano. Transitoriamente, e para
evitar mal maior, nos dias de catástrofe e de débâcle que a Itália vivia, a colaboração com os comunistas era legítima.
Mas, com o desenrolar dos fatos, a política de braços cruzados ante a maré
montante da propaganda vermelha era um suicídio. Para manter o gabinete, o
Sr. De Gasperi deixou subir, sem qualquer reação, a
onda vermelha. Esta atitude de inação
que perdura até agora é e era errada. E, hoje, os melhores e mais esclarecidos
dentre os partidários do premier
italiano o abandonam. É a lógica dos fatos. O Sr. De Gasperi não soube fazer cessar a
colaboração no momento oportuno. O resultado aí está: sua política não foi
nem podia ser aprovada por todos os seus correligionários, e com isto o Sr. De Gasperi lançou
a cisão do PDC, precisamente na hora em que mais desejável era a união.
* * *
Parece que o
Sr. De Gasperi,
como tantos outros de sua tendência política, vivem sob o pesadelo de uma ressurreição
do chamado “neo-fascismo”. Por isto, preferem não combater o comunismo, do
qual esperam servir-se como contrapeso a uma influência da chamada direita.
Ora, o Sr. De Gasperi, em
lugar de conseguir com sua política evitar o surto do fascismo, pelo contrário
o provocou. Com efeito, a segunda
das causas apontadas para a
decadência política do PDC italiano
é que, no sul da Itália, as eleições municipais indicam que os votos
anticomunistas estão desertando do PDC para prestigiar correntes fascistas.
Era inevitável. Desde que os verdadeiros italianos, católicos e anticomunistas,
desesperem do PDC, o que lhes resta, para lutar contra o comunismo, no atual
panorama da Itália?
Assim, pois, o
Sr. De Gasperi
concorreu poderosamente para dar corpo e consistência ao que, antes dele,
provavelmente não passaria de simples fantasma.
* * *
Apenas merece
comentários a declaração violenta da
importante associação protestante “Evangelical Christendom”, reunida em Londres, contra a Igreja Católica. Essa declaração repete as alegações cediças dos protestantes de todos os tempos,
sobre a Inquisição, Galileu, a “noite de São
Bartolomeu”, etc. E é inútil estar repisando estes pontos.
A certa altura
de seu manifesto, essa associação
declara, contudo, uma grande verdade. Diz ela que a íntima colaboração de católicos e protestantes é coisa impossível,
pois que não pode haver verdadeira união de forças onde não há união de
espírito.
Estas são as
declarações que os protestantes fazem nos países onde estão em maioria, e onde,
portanto, a confusão nenhuma vantagem lhes traz.
Aqui no Brasil, pelo contrário, eles são
minoria, e se interessam em progredir pela confusão.
Por isto mesmo, aqui eles são
partidários da colaboração.
É a perpétua incoerência protestante. Os
protestantes do Brasil invocam contra a união entre a Igreja e o Estado todos
os argumentos teóricos e práticos que a razão humana possa excogitar. Mas, nos países europeus em que os protestantes
são maioria, a seita protestante mais numerosa é sempre a Igreja de Estado!