Legionário, n.o 771, 18 de maio de 1947

7 DIAS EM REVISTA

Os telegramas provenientes da Itália deixam transparecer um evidente enfraquecimento do Partido Democrata Cristão. É possível que o novo gabinete seja presidido pelo Sr. De Gasperi, mas a influência do PDC no Parlamento e na opinião pública, está em declínio. Entre as causas apontadas para tal, figuram duas que os telegramas mencionam e que nos interessa registrar.

A primeira consiste em que a política de colaboração do Sr. De Gasperi com os comunistas está causando impressão cada vez mais desfavorável nos altos círculos dirigentes do próprio Partido. Infelizmente, por esta afirmação, percebe-se que o Sr. De Gasperi não soube prever nem evitar o grande escolho que tinha diante de si.

A este escolho, o LEGIONÁRIO já se referiu logo no início do governo chefiado pelo leader do PDC italiano. Transitoriamente, e para evitar mal maior, nos dias de catástrofe e de débâcle que a Itália vivia, a colaboração com os comunistas era legítima. Mas, com o desenrolar dos fatos, a política de braços cruzados ante a maré montante da propaganda vermelha era um suicídio. Para manter o gabinete, o Sr. De Gasperi deixou subir, sem qualquer reação, a onda vermelha. Esta atitude de inação que perdura até agora é e era errada. E, hoje, os melhores e mais esclarecidos dentre os partidários do premier italiano o abandonam. É a lógica dos fatos. O Sr. De Gasperi não soube fazer cessar a colaboração no momento oportuno. O resultado aí está: sua política não foi nem podia ser aprovada por todos os seus correligionários, e com isto o Sr. De Gasperi lançou a cisão do PDC, precisamente na hora em que mais desejável era a união.

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Parece que o Sr. De Gasperi, como tantos outros de sua tendência política, vivem sob o pesadelo de uma ressurreição do chamado “neo-fascismo”. Por isto, preferem não combater o comunismo, do qual esperam servir-se como contrapeso a uma influência da chamada direita.

Ora, o Sr. De Gasperi, em lugar de conseguir com sua política evitar o surto do fascismo, pelo contrário o provocou. Com efeito, a segunda das causas apontadas para a decadência política do PDC italiano é que, no sul da Itália, as eleições municipais indicam que os votos anticomunistas estão desertando do PDC para prestigiar correntes fascistas. Era inevitável. Desde que os verdadeiros italianos, católicos e anticomunistas, desesperem do PDC, o que lhes resta, para lutar contra o comunismo, no atual panorama da Itália?

Assim, pois, o Sr. De Gasperi concorreu poderosamente para dar corpo e consistência ao que, antes dele, provavelmente não passaria de simples fantasma.

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Apenas merece comentários a declaração violenta da importante associação protestante “Evangelical Christendom, reunida em Londres, contra a Igreja Católica. Essa declaração repete as alegações cediças dos protestantes de todos os tempos, sobre a Inquisição, Galileu, a “noite de São Bartolomeu”, etc. E é inútil estar repisando estes pontos.

A certa altura de seu manifesto, essa associação declara, contudo, uma grande verdade. Diz ela que a íntima colaboração de católicos e protestantes é coisa impossível, pois que não pode haver verdadeira união de forças onde não há união de espírito.

Estas são as declarações que os protestantes fazem nos países onde estão em maioria, e onde, portanto, a confusão nenhuma vantagem lhes traz.

Aqui no Brasil, pelo contrário, eles são minoria, e se interessam em progredir pela confusão. Por isto mesmo, aqui eles são partidários da colaboração.

É a perpétua incoerência protestante. Os protestantes do Brasil invocam contra a união entre a Igreja e o Estado todos os argumentos teóricos e práticos que a razão humana possa excogitar. Mas, nos países europeus em que os protestantes são maioria, a seita protestante mais numerosa é sempre a Igreja de Estado!