Já antes da guerra, o panorama da política
interna de todos os povos ocidentais se podia resumir em traços gerais muito
simples, e iguais para todos. De um lado, um partido comunista, e do outro
os partidos não comunistas. O partido
comunista representava o elemento claro do quadro. Sabiam todos o que era e
o que queria o comunismo. A incógnita
eram os partidos não comunistas. De que maneira queriam fazer face ao
comunismo? Uns, os liberal-democratas, confiavam nos meios suasórios e
repudiavam a repressão violenta. Outros, os
socialistas, procuravam desarmar o comunismo, não apenas pela política do laisser faire
liberal, mas por uma série de concessões sociais destinadas a amansar a fera
vermelha. Os nazistas e seus consectários usavam uma e outra coisa: violentos na repressão policial, concediam
tudo ou quase tudo em matéria de legislação social. Por fim, os monarquistas radicais e completos, do tipo dos legitimistas austríacos, requetés
espanhóis, etc., adotavam a bandeira da contra-revolução. Não bastava reprimir
a expansão do partido comunista pela força – o que aliás já seria ótimo – mas era preciso impedir que o partido
subsistisse e encontrasse simpatias ocultas e para isto dever-se-iam restaurar
as antigas instituições monárquicas e aristocráticas, que a Revolução de 1789
derrubara, e com cuja queda o mundo entrou na era catastrófica das dissenções sociais.
* * *
Assim, pois, ao
lado do problema central comunismo contra anticomunismo, havia outro problema quase tão importante: qual a forma de anticomunismo que deveria preponderar?
Dos vários modos possíveis, de reação anticomunista, qual adotar?
Se esta pergunta a todos interessava, especialmente deveria interessar aos
católicos. Com efeito, sendo a Igreja a alma da civilização cristã, por
definição todos os seus filhos são contra o comunismo, que é a realização arquetípica da civilização anti-cristã.
Daí, para o Catolicismo, um empenho fundamental em debelar o comunismo e,
consequentemente, um interesse muito vivaz na escolha do melhor método de ação
anticomunista.
* * *
Entre tantas tendências diferentes no
campo anticomunista, os católicos coletivamente,
e como tais, não optaram por nenhuma.
Pelo contrário, eles se distribuíram
pelas várias correntes, adotando até, uma ou outra vez, posições excessivas
de tolerância que iam desde o liberalismo ingênuo, até o colaboracionismo
imprudente, ou a repressão racista.
* * *
Depois da última guerra, derrotado o
nazismo, o grande problema passou a ser
o seguinte: quem dirigiria e orientaria
a luta contra o comunismo, o esquerdismo
trabalhista, ou algum movimento neo-direitista?
Durante muito
tempo, a solução do problema pareceu estar em suspenso, havendo mesmo indícios
de que o anticomunismo (aliás imensamente suspeito) dos trabalhistas
britânicos, do MRP francês, do PDC italiano etc., iria ser a única fórmula de
reação anticomunista a sobreviver no mundo.
Ultimamente,
porém, os trabalhistas sofreram uma grave derrota na Inglaterra, o MRP francês
está em grave risco graças à crise ministerial e ao discurso de De Gaulle, e o PDC italiano está às portas da desagregação
interna e da queda do gabinete.
Tudo indica,
pois, que não é pelo lado do moderantismo (?)
esquerdista que se canalizará a reação anticomunista.
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Será para uma neo-direita? E, em primeiro lugar, o que é uma neo-direita? Se o direitismo já é coisa difícil de definir (tão afim e
conivente com a esquerda se apresenta ele às vezes) como dizer então o que é o neo-direitismo?
Nos Estados Unidos, a luta contra o
comunismo está sendo travada em nome da democracia. De Gaulle combate o comunismo em nome da autoridade. Churchill
o combate em nome da liberdade e da
tradição. É patente que uns e outros estão ganhando terreno. De que modo
evoluirão as forças políticas que representam? Quererão conservar a democracia?
Ou chegarão até a ditadura?
* * *
Este problema
também é doméstico, para nós brasileiros. Fechado o partido comunista por uma
sentença merecidíssima do Tribunal Eleitoral, o
anticomunismo ganha pé. Até onde irá ele? Abolirá num futuro mais ou menos
remoto as instituições vigentes? Chegará até a restauração do poder pessoal do
ditador?
É extremamente
difícil responder a isto. Mas uma coisa é certa: se os democratas querem salvar a democracia, tratem de a dignificar
pela elevação do programa e das atitudes. Do contrário, estarão eles mesmos
fazendo mais mal para o País, do que todos os agentes de dissolução vindos do
estrangeiro.
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Quanto a De Gaulle, nossa posição não mudou. Por
enquanto, o grande chefe francês está desfazendo os equívocos semeados pela
política inominável do MRP. Ele está separando claramente o joio do trigo e
criando contra o bloco esquerdista um bloco anticomunista arrojado e vigoroso. Sua política vai desagregando o MRP e desmoralizando
a famosa tática da politique de la main tendue.
Tudo isto é
excelente, merece aplausos sem reserva. Chegará
De Gaulle até a ditadura? Suprimirá a democracia na França? Não o sabemos.
Mas, postas as atuais circunstâncias, será
um erro e um crime que ele chegue a abolir a ordem legal para instituir o puro
poder pessoal.
Sem nos
comprometermos com De Gaulle numa solidariedade imprudente, aplaudimos contudo
o que ele faz até agora. Quanto ao futuro, veremos depois.
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Todas estas
considerações de ordem geral definem e justificam por si sós, nosso aplauso ao
fechamento do Partido Comunista no Brasil. Um fenômeno sadio de reação se
esboça em todo o País. Para se afirmar e vencer, precisa este fenômeno levar à
falência o regime constitucional? Não o cremos.
Vamos ver se a
habilidade de nossos políticos corresponde à expectativa do povo neste sentido.