Na
semana passada chegaram ao Brasil duas notícias dignas de registro: foi executado na Tchecoslováquia
Mons. Tiso, antigo "quisling"
da Slovania e foi condenado à pena de prisão perpétua, perda da dignidade nacional e
confisco de bens o Pe. Vexilaire, acusado de ter denunciado aos nazistas numerosos
patriotas e membros da resistência francesa.
A traição infame de Judas nada prova
contra a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo ou a santidade dos Apóstolos. Do mesmo modo a defecção
moral deste ou daquele sacerdote nada prova contra a divindade da Igreja, é
evidente que deste ponto de vista, as notícias em questão nem sequer merecem
comentário. Mas há no assunto outro aspecto menos evidente, se não intrinsecamente,
ao menos para os olhos profanos naturalistas e de visão curta, do homem do
século XX. É sobre este último aspecto que queremos aduzir alguns comentários.
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O
Pe. Vexilaire é, para nós, um desconhecido.
Gostaríamos de igualmente jamais ter ouvido falar de Mons. Tiso.
Durante todo o tempo em que ele atuou na política causou-nos penosíssima impressão, que calamos apenas por respeito à
dignidade sacerdotal de que se achava revestido. Rompemos hoje nosso silêncio,
e declaramos de público este sentimento apenas para mostrar até que ponto somos
imparciais ao fazer comentário sobre o assunto. Este comentário, contudo, não
poderá deixar de ser desassombrado e claro.
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O
princípio que convém lembrar a este propósito
consiste em que os clérigos são pessoas
sagradas, revestidas de uma dignidade imensamente mais alta do que a de
qualquer leigo, por mais virtuoso ou eminente que este seja. Não se trata
de uma preeminência de virtude, mas da dignidade
da função e do Sacramento da Ordem. De outro lado, o clérigo está ligado ao culto divino, e é, portanto, inteiramente dependente da Igreja. Por
todos estes títulos, nenhuma autoridade
secular, qualquer que ela seja, pode
julgar e punir um clérigo. Em caso de crime praticado por algum clérigo,
deve o Estado entregar o criminoso ao julgamento da Igreja.
Não
foi o que se fez, nem em um nem em outro caso. Por mais culpados que tenham sido esses sacerdotes, a pena assim
aplicada a ambos – máxima a pena de morte de Mons. Tiso,
que significa violência física no corpo sagrado de um Ministro de Deus – não pode deixar de impressionar
dolorosamente os católicos.
Compreende-se,
pois, perfeitamente o protesto lavrado
pelo “Osservatore Romano” sobre o assunto.
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Segundo
telegramas veiculados pela imprensa diária, o Sr. Winston
Churchill, comentando a atitude do Sr. Wallace, declarou, em discurso pronunciado perante a
associação "Primorose", no "Albert Hall", que o Sr. Wallace é um comunista disfarçado que foi à Inglaterra
trabalhar por que esse pais abandonasse a aliança norte-americana e se atirasse
nos braços de Moscou. Acrescentou o ex-premier
britânico que o gabinete trabalhista tem sido beneficiado largamente por
empréstimos nos Estados Unidos, e se mostra contudo amigo dos maiores
adversários da nação americana.
Dias
depois, o Sr. Churchill
desmentiu que tivesse chamado o Sr. Wallace de
comunista disfarçado. Acrescentou que se limitara a dizer que o Sr. Wallace tivera um encontro com comunistas disfarçados da
Inglaterra. Mas não desmentiu nada mais do que declarara.
Assim,
pois, o quadro fica em essência o mesmo. Há
comunistas disfarçados na Inglaterra. O Sr. Wallace
de comunista disfarçado obra tal como nenhum comunista disfarçado o poderia ter
feito melhor, confabulou com esses comunistas disfarçados amistosamente. E o
governo trabalhista fez o mesmo jogo do Sr. Wallace e
dos comunistas disfarçados, abusando da liberalidade norte-americana.
Como
se vê, é bem este o quadro pintado pelo
"Legionário", e nosso jornal recebe uma confirmação brilhante,
com as palavras do "leader de guerra" do
Império Britânico.
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Um
homem contra o qual muito temos escrito é o Sr. Beveridge. Este intelectual socialista acaba de
escrever um artigo, pondo de sobreaviso a opinião britânica contra a
hipertrofia do sindicalismo. Beveridge denunciou a tendência dos sindicatos
ingleses de se agruparem e fundirem em associações poderosas, que absorvem
todos os grupos menores, e monopolizam o movimento operário. No dia em que
tal obra tiver chegado ao seu termo, os dirigentes desses sindicatos terão adquirido uma influência tão despótica, disse Beveridge, que, oficialmente ou não, a estrutura política
da Inglaterra terá deixado de ser autenticamente democrática.
É
esta uma das acusações que mais insistentemente temos feito contra o trabalhismo britânico: seu sistema de ditadura financeira e sindical conduzirá por força à
ditadura política. Aliás, este mal é
próprio do socialismo de todos os matizes qualquer que ele seja. Não
sabemos como o Sr. Beveridge, tão aguçadamente
socialista, não percebe isto. Mas, de qualquer forma é incontestável que neste
caso concreto a crítica do Sr. Beveridge é bem
procedente.
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Uma
das conseqüências salutares da política do Sr. De Gaulle consiste em estar destruindo
a linha de conduta ambígua do MRP perante o comunismo. Um telegrama
procedente de Paris informa que o MRP já está dividido em duas correntes, uma
que “colabora” e outra que combate o comunismo, e que esta última corrente se
aproxima de De Gaulle. Se este, por sua vez, não
descambar para o totalitarismo, pode-se augurar o melhor resultado de tais
acontecimentos.