A hora em que
se realizou a instalação do Crucifixo na Assembléia Constituinte, este jornal
já estava impresso. Assim publicaremos em nosso próximo número uma reportagem
sobre essa cerimônia.
* * *
Aplaudimos sem
restrições o decreto federal que negou autorização para o funcionamento
legal da chamada "Juventude Comunista". Inútil será insistir
sobre os motivos que fundamentam nossa opinião, já que os temos explanado
pormenorizadamente sempre que se nos tem oferecido oportunidade para pedir o
fechamento do Partido Comunista.
Em resumo,
temos lembrado que a Igreja não admite a
liberdade de pensamento, no sentido em que a definem os liberais. Há
doutrinas que não é lícito nem professar, nem propagar. E o Estado tem, mais do
que o simples direito, o imperioso dever de agir contra os que as propagam. A esta consideração doutrinária, que
devem expor franca e fortemente, sem disfarces, nem diminuições, se acrescenta outra consideração de ordem
prática, que também é importante.
Não exageremos
a força do comunismo. Depois de um ano de propaganda escancarada, promovida por
um partido que sem dúvida é o mais “técnico” e organizado de quantos militam em
nossa política, o número de eleitores comunistas caiu. Rádio, imprensa, cinema,
livro, tudo se utilizou para atrair a opinião pública. E, no fim, o resultado
foi francamente negativo. Não parece pois que a liberdade de movimentos seja
clima favorável para o comunismo, em nosso país nos dias que correm. Contudo, o perigo que vemos no comunismo não decorre
da possibilidade de uma vitória legal conquistada nas urnas. Vitória assim,
jamais a obteve o comunismo em nenhum país do mundo. Basta-lhe que sua propaganda habitue a opinião pública à idéia de um
Estado totalitário, e que as minorias vermelhas fortemente organizadas, sejam capazes de um golpe de mão, para que
ele intente a escalada do poder pela força, na primeira oportunidade.
Contra um tal adversário, nossa política só pode ser preventiva. Se, por nossa cegueira liberal, o comunismo
continuar a funcionar, e dentro de um futuro, aliás provavelmente não muito
próximo, provocar greves, distúrbios,
não nos lamentemos pelo sangue que então se derramar: teremos nós mesmos as
mãos tintas nesse sangue.
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Consideramos com
a maior simpatia a atitude enérgica e inflexível assumida por Marshall em
Moscou. Pode-se dizer que, se hoje em
dia a URSS não tem sob seu jugo o mundo inteiro ou quase inteiro, deve-se este
fato à previdência e energia que o
Departamento de Estado dos EEUU está demonstrando na presente situação.
Cumpre acrescentar que o
procedimento de Bidault e de Bevin
merece aplausos muito menores. O interesse que a França e a Inglaterra tem
na manutenção do equilíbrio mundial é manifesto. Antes da guerra, essas grandes
e gloriosas nações ocupavam um papel preponderante. Já hoje em dia, extenuadas
pelas provações e interiormente corroídas pela crise econômico-social,
são incapazes de desenvolver na política internacional os esforços que lhe
assegurariam influência igual à de outrora. Se amanhã a URSS se jogasse contra
elas, na tentativa de conquistar todo o continente europeu, nada poderiam fazer
sem o apoio dos Estados Unidos. E mesmo se
os Estados Unidos não tivessem assumido a atitude corajosa em que estão, é bem
provável que a URSS a estas horas estaria movimentando tropas em direção ao
Sena, ao Ebro ou, mesmo, quiçá ao Tejo. É esta a
realidade. A vista disto, a prudência política mais elementar levaria o Quai d’Orsay e o Foreing Office a apoiar
calorosamente o Departamento de Estado. Em lugar de agir assim, se bem que
apoiasse em linhas gerais a ação americana os Srs. Bidault e Bevin tomaram uma atitude tíbia e pouco
corajosa, de quem achava no fundo que os Estados Unidos estão exagerando.
Percebe-se que,
no fundo, sua manobra consiste em deixar enfraquecer na luta recíproca uma e
outra potência, isto é tanto a USA quanto a URSS para tirar proveito desta
situação. Mas haverá algo de mais cego do que isto?
De fato, a URSS não se está enfraquecendo de modo algum. Pelo contrário, quanto
mais se adia o tratado de paz tanto mais se prolonga a ocupação soviética na
Europa oriental e central. Só quem tem a perder são os Estados Unidos, e, com
eles, inevitavelmente, a França e a Inglaterra.
Mas parece que
o “espírito de Munich” continua a pairar sobre a
Europa.
* * *
Causa
indignação a atitude do Sr. Wallace, que está em
viagem de propaganda antiamericana através da
Inglaterra. O conhecido prócer norte-americano tomou a si a tarefa ingrata de
persuadir aos ingleses de que a política anticomunista do Departamento de
Estado é fundamentalmente errada. A conseqüência sistemática de todos os
seus discursos é esta: a Inglaterra não deve seguir a orientação
norte-americana mas adotar para com o comunismo uma atitude de benignidade, clemência
e simpatia.
Perante o nazismo a atitude desastrada e
ridícula do Sr. Chamberlain não foi outra. Enquanto a Alemanha se armava incessantemente, e desenvolvia na
Europa central e oriental um vasto programa de anexações; enquanto nos campos
de concentração se enchiam de vítimas infelizes e nos sanatórios se trucidavam
eletricamente os inocentes entregues em holocausto à doutrina nazista, o Sr. Chamberlain com [erro
tipográfico] de meninota de treze anos, tentava desarmar a fera
nazista. Sua fórmula, diante de cada
agressão hitlerista, era sempre a mesma: com mais uma
caricia Hitler ficará paralisado. O imperialismo
germânico só tem uma causa: é que o
mundo ocidental vê o nazismo com desconfiança. Confiemos amplamente, inteiramente,
de coração aberto no nazismo e nós o teremos desarmado.
Enquanto isto, Hitler
montava por toda a parte a quinta coluna, e preparava tudo mais que se conhece.
* * *
O Sr. Wallace é o Chamberlain
que prepara a segunda catástrofe. Tem a mesma
linguagem, apregoa o mesmo otimismo fácil e falso, presta ao comunismo o mesmo
serviço que ao nazismo prestou Chamberlain. Mas
tudo isto com uma agravante
singular: é que o Sr. Wallace
leva a desfaçatez - não há outro termo – a ponto de fazer no exterior uma tournée política contra o governo de seu próprio país.
Se
o Sr. Wallace fosse comunista declarado não poderia
prestar ao comunismo serviço igual ao que lhe presta mantendo-se aparentemente
nas fileiras anticomunistas. Tudo isto posto, não é demais que formulemos a
respeito dele a mesma pergunta que formulamos há anos atrás, mutatis mutandis a
respeito do Sr. Chamberlain: que relações haverá
entre a quinta coluna russa e esse homem que, se pertencesse à quinta coluna,
não faria em prol dos vermelhos mais nem melhor?