Registramos com suma satisfação o êxito obtido pelos Conservadores nas
eleições municipais da Inglaterra, cujos resultados foram publicados na
imprensa diária de domingo pp.
Os
Conservadores não só continuaram na posse do mesmo número de cadeiras, mas
conquistaram ainda cerca de cem das quais noventa perdidas pelos trabalhistas.
Evidentemente
o significado deste fato é profundo. Pouco depois da guerra, o
povo inglês afirmou seu propósito de enveredar pelo socialismo. Nas últimas
eleições, confessou publicamente que tomou caminho errado, que considera
realizados os prognósticos sombrios do sr Winston Churchill sobre o
fracasso do gabinete trabalhista, e deseja a ascensão dos Conservadores ao
poder.
* * *
Isto
posto, raciocinemos segundo a "dogmática" dos democratas. A opinião
pública é que deve decidir dos destinos do país. Todo o governo só é legitimo
na medida em que reflete a opinião. Por
uma questão de fidelidade aos princípios democráticos, todo chefe de gabinete
que recebe uma prova clara de que sua política não está agradando a opinião pública,
ou modifica seu programa, ou pede sua demissão ao Rei.
Se não agir assim, o gabinete violara o
que o espírito da democracia britânica tem de mais essencial, e, em lugar de
órgão da opinião, não será senão uma
camarilha legiferante sem qualquer autoridade legítima.
Se
todos esses princípios valem para a Inglaterra em qualquer situação, a fortiori hão
de valer para os dias anormais que atravessamos, no momento em que o gabinete
socialista procura realizar um programa de profundas reformas sociais e
econômicas, as quais acabarão por atingir a própria estrutura do Estado inglês.
Em sã lógica democrática, jamais um programa deste alcance deve ser mantido e
levado a cabo sem o beneplácito iniludível e decidido da opinião pública.
Pois
não é ela o supremo órgão de direção do País?
* * *
Se
todo inglês formado segundo os cânones clássicos exige tal procedimento de
qualquer partido político, a fortiori o deverá exigir do Partido Trabalhista que
vive com a boca cheia da palavra "democracia", a declaração contra a
"oligarquia dos gentleman",
slogan habitual das campanhas socialistas.
Se a oligarquia dos gentleman é um mal, a dos sans-culotte, ou
"descamisados", será um bem? Não, responderá qualquer pessoa sensata.
Sim, dirão no fundo de seu coração os socialistas.
Quando vociferam contra a oligarquia dos gentleman, na aparência é contra a oligarquia que investem, na realidade é contra os gentleman. É
contra a finura, a educação, a tradição,
a compostura, tudo enfim que se chama limpeza, boas maneiras e civilização.
Em
muitos sentidos, é este, a nosso ver o substratum da mentalidade socialista.
E,
por isto mesmo, será para nós uma surpresa não pequena que os trabalhistas tomem
a sério a democracia quando ela funciona em sentido diverso do "Labour Party", e peçam
demissão à Coroa.
* * *
Nestas notas, não podemos deixar
de fazer um comentário a respeito do
discurso do general De Gaulle. As críticas da imprensa francesa a respeito
das palavras do grande chefe da Resistência – ao menos as críticas que as
agências telegráficas houveram por bem veicular – foram tão confusas e
desencontradas, que verdadeiramente devemos a nossos leitores uma palavra de
orientação sobre o assunto. E isto tanto mais quanto, a despeito de todas as misérias da hora presente, a França continua a
ocupar na civilização cristã e ocidental, um lugar que jamais lhe poderá ser
tirado. É uma nação eleita; tudo
quanto ali sucede tem no mundo inteiro profunda ressonância. Em matéria de idéias e gosto, olhar para a
França é ver o mundo.
* * *
Em síntese,
De Gaulle sustentou as seguintes
teses:
a)
a atual estrutura do Estado francês é incapaz de suportar a carga das
dificuldades e problemas dos dias presentes. Perseverando neste caminho, a
França se desagregará;
b)
o mundo está dividido em dois blocos de potências, dominadas em última análise
pela Rússia e pelos Estados Unidos. Se a França não agir com uma energia de que
as atuais instituições a tornam incapaz, ela perderá sua categoria de potência
mundial, para girar como satélite na órbita de um destes dois blocos;
c)
por tudo isto, convém que as instituições sejam refundidas, e o poder seja
entregue a um pulso enérgico.
Estas
teses explícitas comportavam, como fundo de quadro, as seguintes
proposições, mais ou menos implícitas:
a)
na política interna como na política externa, a França precisa separar-se
radicalmente de Moscou e da influência vermelha;
b)
os atuais dirigentes franceses – os
que estão no governo e os que, fora dos cargos oficiais, dirigem os partidos – são, em sua generalidade, homens medíocres
que se afogam em suas próprias dissenções e arrastam
consigo o Estado.
* * *
Evidentemente,
estas teses abrangem um panorama vasto, muitos de cujos aspectos só na própria
França podem ser devidamente observados. Não temos, assim, a intenção de o
examinar ponto por ponto. Uma coisa, porém, é indiscutível: o discurso do Sr. De Gaulle teve o mérito de constituir o primeiro
pronunciamento autorizado francês contra a política de confusão entre
comunistas e anticomunistas, que na França se pratica presentemente.
Sempre
fomos favoráveis às atitudes definidas. Parece-nos
uma afronta aos princípios mais imperativos do bom senso que se confundam os campos anticomunistas e comunistas. Nesta
confusão só eles não se confundem; conservam seus quadros partidários, sua
polícia secreta, sua espionagem, seus contatos financeiros e ideológicos de
Moscou. E, no momento oportuno, farão de seus ingênuos aliados de hoje o que as
feras do partido montagnard
fizeram dos ingênuos e ridículos girondinos, durante
a Revolução.
É
para De Gaulle uma verdadeira glória, o
haver desferido um golpe contra um estado de coisas tão confuso e perigoso.
* * *
Deseja
realmente o Sr. De Gaulle tornar-se um ditador?
Os comunistas franceses, tão simpáticos a Hitler
durante a tragédia da invasão, enchem-se agora de furores anti-ditatoriais
que proclamam em todos os tons.
Diremos
que não? Quem pode saber os verdadeiros intuitos do Sr. De Gaulle?
Posta a situação como está, realmente parece não haver outra saída: ou a França
se entrega a ele, ou vai ao naufrágio.
Não
há outra solução? Haveria se o MRP
tivesse outra mentalidade. Mas infelizmente os dirigentes desse partido são os girondinos
de nossos dias. Deles não se pode esperar, na luta contra o comunismo, nem coerência, nem argúcia, nem energia.
Se eles fossem capazes de praticar a
democracia sem fraquezas, como os dirigentes
norte-americanos que propugnam pelo fechamento do Partido Comunista, talvez dessem origem a alguma solução que
não fosse a hipotética ditadura do Sr. De
Gaulle.
Mas
se algum dia o MRP – conservados seus atuais dirigentes – for capaz de tal,
terá havido no mundo um milagre de
primeiríssima grandeza.
* * *
Não
queremos encerrar estas notas sem uma observação a respeito de assunto
totalmente diverso.
Chegaram
há pouco ao Brasil cinco bispos ou
arcebispos cismáticos, vindos do Oriente especialmente para trabalhar na
organização de sua igreja em nosso país.
Uma
heresia a mais, neste país já chagado pela existência de toda a sorte de
igrejas heterodoxas, centros espíritas, teosóficos,
etc., não quer dizer muito. Mas, é
perigoso que venha instalar-se entre nós uma seita cujas perigosas afinidades
com os agentes soviéticos mascarados em arquimandritas,
popes, etc., são evidentes. Ademais já tivemos ocasião de focalizar nesta
mesma coluna as ligações que com todos estes elementos tem o ex-bispo de Maura. Tudo isto compõe um quadro. E este
quadro, bem analisado, longe está de ser risonho...