Distinto
leitor desta folha enviou-nos, pelo correio um “panfleto de propaganda da ‘igreja católica brasileira’, assinado
por um certo Padre Dylmar Balddino,
que se intitula ‘legado’ de D. Carlos Duarte Costa no Bispado de Santos”.
Esse panfleto se presta a vários reparos. O primeiro, realmente digno de nota, se refere aos poderes de
tal “legado”. Segundo os jornais, parece que Santos tinha um bispo herético “católico-brasileiro” próprio, reconhecido por C. Duarte
Costa e Salomão Ferraz. Este bispo andou mesmo, segundo consta, fazendo
proselitismo na nossa grande cidade portuária, com os processos espalhafatosos
e charlatanescos tão apreciados pela seita.
Agora
vemos, inesperadamente, que Carlos Duarte Costa tem um “legado” em Santos. Como explicar isto?
Quais os poderes do “legado”. Carlos Duarte da Costa já não reconhece, então,
outra autoridade para Santos senão a sua própria?
Tudo
isto parece indicar, à saciedade, que a
discórdia lavra nas fileiras “católico-brasileiras”.
É a nota típica de toda a heresia. A unidade é privilégio da Santa Igreja
Católica, Apostólica, Romana. Fora dela, só há perdição e dissensão.
Não
nos iludamos, porém, sobre o alcance desta discórdia. Não julguemos que,
implantando o estandarte da divisão nas fileiras ainda minguadas da nova grei,
ela esteja pronta a desaparecer. Entre
hereges há sempre discórdia, mas tal discórdia não é absoluta. Sempre que se
trate de combater a Igreja, fazem com suma facilidade uma frente comum. Por
mais que briguem entre si Salomão Ferraz, C. D. Costa e outros do mesmo estilo,
sempre que se tratar de combater a verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus
Cristo, saberão agir mancomunadamente.
Assim,
se tais cizânias entre hereges são dignas de nota porque demonstram a insanável
incapacidade de construir, das heresias, entretanto não devem iludir os
católicos quanto a um fácil e próximo fim da heresia.
* * *
Do ponto de vista doutrinário, o que
contém o panfletinho? Nada.
De princípio ao fim explora o jacobinismo: como o Supremo Hierarca
da Igreja Católica é o Romano Pontífice, daí pretender o Sr. Dylmar Balddino deduzir que ela
constitui um perigo para nosso país. Se um chefe religioso nacional, comenta
ele, poderia assegurar a Igreja uma direção inteiramente conforme aos
interesses nacionais.
Isto
faz bocejar. Aí estão vinte séculos de
História a demonstrar que a internacionalidade da
Igreja jamais pôs em risco a independência, a segurança e o progresso dos povos
cristãos. Pelo contrário, as nações cristãs figuraram sempre como as mais
ciosas de sua soberania e dignidade, por influência da própria doutrina
ensinada pela Igreja. De fato, é universal o poder do Romano Pontífice. Mas
Roma só faz uso deste poder espiritual no interesse de cada uma das nações que
pertencem ao grêmio do Catolicismo.
* * *
Por
isto mesmo, em tempo de guerra, vemos que os católicos se esmeram na defesa dos
interesses nacionais de tal maneira que os próprios adversários do Catolicismo
costumam prestar homenagem ao valor que os filhos da Igreja demonstram no campo
de batalha ou nos postos de sacrifício.
Neste
sentido é bem diverso o exemplo que dão
os comunistas. Sejam eles franceses, ingleses, alemães, italianos,
norte-americanos ou brasileiros, ei-los sempre a
defender os interesses soviéticos contra o próprio interesse nacional.
Ainda
agora, a Comissão de inquérito nomeada
pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos chegou, a respeito do Partido
Comunista, a importantíssimas conclusões:
1)
o P.C. norte-americano não é senão “um entre sessenta
e sete grupos semelhantes no mundo, sob as ordens da Comissão Executiva
Comunista de Moscou”.
2)
o comunismo constitui um “movimento revolucionário mundial dirigido por governo
estrangeiro”.
3)
os comunistas não se limitam a manter um Partido declaradamente favorável a
suas idéias, infiltram elementos veladamente
comunistas “nos movimentos trabalhistas, nos partidos políticos de influência
junto ao governo, nas escolas e cinemas, nos colégios, nas igrejas e organizações sociais”.
O
“Legionário” tem afirmado que nosso
século merece passar para a História com o nome de “século da quinta coluna”.
O P.C. é uma quinta coluna em cada país. Esta quinta
coluna possui por sua vez outras tantas quintas colunas em escolas, cinemas,
colégios, organizações sociais e igrejas...
* * *
E “igrejas”! A palavra faz pensar... Já que falamos há pouco na igreja católica brasileira,
perguntamos: terá o comunismo alguma influência por lá?
Sabemos, pelos jornais, de contatos de
Carlos Duarte Costa com um bispo russo cismático que reside no Brasil.
Sabemos que o governo soviético procura
utilizar presentemente os destroços
da igreja cismática russa para sua propaganda. Não é ocioso perguntar se
por detrás de tudo isto não haverá algo
de muito suspeito.
Porque
não se nomeia, no Brasil, uma comissão de investigação igual à dos Estados
Unidos? Parece-nos que ela chegaria a surpreendentes resultados.