Legionário, N.º 759, 23 de fevereiro de 1947

7 Dias em Revista

Segundo telegrama de Londres, a neve, os furacões, o frio intenso e a repentina greve dos trabalhadores do rio Tâmisa, ameaçam o programa do governo trabalhista destinado à restauração do fornecimento de energia elétrica.

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Diz-nos a mesma fonte de informações ser provável que se passem pelo menos dez dias antes que cessem as atuais restrições nas regiões industriais da Inglaterra setentrional e que a zona meridional, Londres inclusive, tenha que aguardar mais uma semana até que tudo volte à relativa normalidade. E a redução do fornecimento da energia elétrica para cinco horas diárias para fins não industriais é provável que seja mantida na Inglaterra por muito tempo ainda.

Três mil trabalhadores nos transportes fluviais do Tâmisa declararam-se subitamente em greve, imobilizando milhares de toneladas de carvão que deviam ser levadas para a zona de Londres, por aquela via fluvial.

Como vemos, o quadro é sombrio. E temos a assinalar o seguinte fato bem significativo. Da última vez que o Partido Trabalhista britânico galgou o poder durante o governo do gabinete Mac Donald, foi justamente o fenômeno da desorganização da vida social, sobretudo pelas greves gerais dos trabalhadores em transportes que acarretaram a derrota eleitoral dos trabalhistas e seu afastamento do governo durante vários anos.

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A opinião pública inglesa ficara escaldada e resolvera por as barbas de molho. Agora, porém, parece que a reação psicológica do povo inglês é diferente perante os descalabros da administração trabalhista após a vitória eleitoral do Partido, conseguida à custa de demagogia feita através de explorações das privações e sofrimentos provocados pela guerra.

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Um dos maiores males da época atual, efetivamente, é esse progressivo embrutecimento da opinião pública, e a confusão das idéias e dos conceitos, a ponto das maiores mistificações e os atos mais clamorosos praticados contra os interesses da coletividade não encontrarem nenhuma ressonância ou protesto da parte da opinião pública.

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Ao lado dessa cegueira coletiva, varre a face da terra uma onda de falso messianismo, empolgando  o grosso da opinião pública, formado pelo maior contingente do eleitorado e composto pelas classes trabalhadoras e criando no espírito dessa multidão sofredora o mito de um ideal estado de coisas pelo advento de uma nova era proletária.

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É o que em parte explica a falta de reação da opinião inglesa diante da Babel introduzida nas ilhas britânicas pela administração trabalhista.

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Um jornal desta capital publicou, no correr da semana, um interessante artigo de seu correspondente na Inglaterra. Prova este artigo aquilo que o LEGIONÁRIO mais de uma vez já afirmou no sentido de que os verdadeiros mentores do trabalhismo britânico estão na Sociedade dos Fabianos, seita socialista que se propõe realizar uma revolução social naquele país mediante a tática dos re(??)icos [lapso tipográfico no original] e dos métodos indiretos, bem como através de progressivas medidas legislativas.

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As perturbações sociais também são instrumentos preciosos para o avanço do programa fabiano. Não nos repugna a hipótese, portanto, de que a atual desorganização da vida industrial inglesa, valendo-se do pretexto de fenômenos meteorológicos e essa ameaça de um longo racionamento do suprimento de energia elétrica mesmo para fins domésticos, seja menos resultado da inépcia e incompetência da administração trabalhista, do que a criação de um ambiente propício para o progresso da marcha da socialização e do controle estatal das fontes de produção.

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Serve a lição para o mundo inteiro. Decididamente o Partido Comunista não detém o privilégio da bolchevização. A causa comunista continua a receber gifts from unexpecial quarters. Tanto nos deve ser suspeito o anticomunismo corporificado nos totalitarismos direitistas quanto muito anticomunismo esquerdista que anda solto por aí.