A nota
com que o Sr. Raul Fernandes, Ministro do
Exterior, respondeu ao comunicado soviético referente à agressão sofrida por um
funcionário brasileiro em Moscou, pareceu-nos insatisfatória.
De um lado, não teve a linguagem altiva
e incisiva que as circunstâncias exigiam. De outro lado, não continha o indispensável protesto
contra a incorreção de atitudes do embaixador soviético no Rio de Janeiro, que se permitiu a liberdade de conceder entrevistas a
nossa imprensa, defendendo o ponto de vista da URSS sobre o assunto. Com que direito o representante bolchevista se
dirige assim, imediatamente à
opinião pública brasileira, procurando aliciá-la contra nosso patrício
injuriado em Moscou, e isto antes de conhecer a atitude oficial do Itamarati?
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Tudo isto, não obstante, a nota de nossa chancelaria contém afirmações muito dignas de registro.
Ficamos sabendo por ela, que a embaixada
do Brasil está alojada num indecoroso hotelzinho de
Moscou, sem poder encontrar local adequado a seu funcionamento normal.
Ficamos sabendo que o governo brasileiro teve de pedir melhores instalações ao
Kremlin, porque a tirania da URSS é tal, que nem sequer se
pode obter um edifício para alugar, sem autorização do poder público. E
ficamos ainda sabendo que o Kremlin se
manteve, até o presente momento, inteiramente
indiferente aos pedidos do Brasil, embora fornecesse ao seu representante no
Rio de Janeiro, um equívoco Sr. Zuritz, verbas vultosas
para se instalar em um excelente edifício na Capital do País.
A este propósito, uma informação digna de nota. Nem
todos os nossos leitores saberão, talvez, que esse Sr. Zuritz vive no Rio num grand train de vie, procurando aproximar-se das rodas plutocráticas e capitalistas, elegantes, e dando recepções
vistosas, às quais certas revistas mundanas consagraram crônicas talvez não
gratuitas!
É deste
estofo o igualitarismo soviético!
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Um recente telegrama da Venezuela confirma, infelizmente, a notícia que demos há
algum tempo atrás, sobre a fundação de
uma "igreja católica apostólica venezuelana", unida por vínculo
orgânico à seita ativa e vulpina que se chama "igreja católica apostólica
brasileira". São mais de trinta
sacerdotes católicos romanos da Venezuela, que apostatam assim miseravelmente,
ligando-se ao bispo apóstata Carlos Duarte da Costa e aos sacerdotes
apostatas e bispos de contrabando que a este se ligaram.
No que
dará isto?
Em nada? É possível. Em algo de grande, perigoso, durável? Não é nada impossível...
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As eleições
francesas para a presidência da República não podem passar sem um comentário. Os dois principais candidatos foram o socialista Vincent
Auriol, e o líder do MRP, Champetier de Ribes. Como
os comunistas votassem no primeiro, de preferencia ao segundo, o socialista Auriol foi eleito por 452 votos, alcançando o Sr. Champetier de Ribes apenas 242.
Isto
prova bem claramente que os socialistas fazem o jogo do comunismo. O MRP francês foi
muito longe, longe demais na política de colaboração com os vermelhos, política
esta que dentro de certos limites, nos primeiros dias de après guerre, se justificava. Apesar disto, no
momento decisivo as preferências dos comunistas não foram para o MRP, mas para
os socialistas.
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Em edição anterior, comentamos o caráter pagão do movimento insurrecional vietnamita
contra a França. Notícias desta semana informam que cerca de cem missionários católicos franceses e
espanhóis desapareceram na Indochina, com a irrupção da guerra civil, sendo que além disto foram raptados de conventos de Hanói seis sacerdotes e
uma religiosa.
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Na Itália, o Sr. De Gasperi parece reafirmar
sua posição. O que torna paradoxal sua
situação é que, sendo ele o chefe de
um Partido que se diz cristão, membros de seu gabinete mantêm a polêmica acesa
com a Santa Sé, parecendo que a despeito disto o Sr. De Gasperi se sente perfeitamente à vontade
ao lado desses colegas.
Assim, ainda nesta semana, o líder bolchevista Pietro Nenni, ministro do Exterior, fez declarações em que responsabiliza a Santa Sé pela campanha anticlerical que se desenvolve na Itália, e sustentou a tese de que tal campanha se deve à ingerência do clero na política. O "Osservatore Romano" refutou incontinente as
alegações do ministro comunista, mostrando
que tal ingerência não é só um direito, mas um dever, em toda a medida em que
esses assuntos se relacionam com a doutrina católica.
A gravidade da atitude assumida pelo Sr. Pietro Nenni vem especialmente de
que todas as relações entre a Igreja e o governo italiano passam pelo
Ministério do Exterior, em virtude de ser a Santa Sé, considerada pelo pacto de
Latrão, potência independente e estrangeira.
Vejamos se o Sr. Nenni
continuará no segundo gabinete De Gasperi, ora em
formação. Em lugar de continuar aliado à
esquerda, o Sr. De Gasperi poderia e deveria dar agora um golpe
parlamentar contra ela, aliando-se ao
centro e direita.
Precisamente como no caso do MRP, o PDC italiano poderia
ter de início colaborado com o comunismo. Mas agora esta colaboração já está
durando demais.