Noticiamos com satisfação que a Constituinte italiana aprovou a
incorporação do Tratado de Latrão à Constituição. Em outros termos, o
Governo só poderá alterar dito tratado, sem consentimento da Santa Sé, nos casos e com as restrições com que se permite uma
reforma constitucional. Se, contudo, a reforma do tratado se verificar com o
consentimento da Santa Sé, poderá ser feita independente da aprovação do Legislativo.
Assim, as reformas favoráveis à Igreja
serão fáceis. As desfavoráveis serão difíceis.
Essa
vitória se deve ao fato de que todos os partidos anticomunistas da Câmara, opostos ao Democrata Cristão por tão justos
motivos, reforçaram a votação deste para alcançar a vitória da Igreja.
A este
gesto de nobreza de espírito dos elementos anticomunistas
e contrários à "mão estendida" se deve tão feliz resultado.
* * *
A Cúria
Metropolitana desta Arquidiocese está publicando o seguinte edital, para o qual chamamos a atenção
de nossos leitores:
"De ordem de s. Emcia.
o senhor cardeal-arcebispo e dos Exmos.
Srs. bispos desta Província Eclesiástica, reunidos em conferência anual,
comunico ao Revdo. clero e aos fiéis de todo o Estado
de S. Paulo que a Liga Eleitoral
Católica (LEC) reiniciará
brevemente as suas atividades, orientando os católicos em face da próxima
campanha eleitoral. Mantendo-se, como sempre, fora e acima dos interesses
partidários, a Igreja, como já o fez no último pleito, apoiará a todos os
partidos e candidatos que se comprometerem a defender os postulados essenciais
da LEC.
Relativamente
ao partido comunista - materialista e ateu e seus candidatos - cumpre a
todos os católicos, por grave dever de consciência, recusar-lhe todo e qualquer
apoio. E a fim de melhor esclarecer
os fiéis sobre as razões desta atitude, manda o episcopado paulista que se leia em todas as igrejas provisionadas da província eclesiástica, a carta encíclica 'Divini Redemptoris' do Santo Padre Pio XI. - São Paulo, 18 de dezembro de 1946. - (a) Monsenhor
Paulo Rolim Loureiro, chanceler do
Arcebispado".
No que diz respeito ao comunismo, tão incisivamente condenado neste edital, é preciso que
os fiéis exerçam toda a vigilância. É certo que os comunistas procuram passar, no momento presente, por
perfeitamente ecléticos em matéria de
filosofia e religião, indiferentes pois às controvérsias entre ateus,
pagãos, espíritas, protestantes, cismáticos e católicos, e, assim, dispostos a, uma vez no governo, conceder a todas as opiniões a maior liberdade. Mas nisto há um embuste grosseiro. E, para o
demonstrar, não precisamos olhar para a Rússia, nem consultar as obras dos principais autores
comunistas. Basta que recordemos um
pouco de Catecismo.
Ainda que aparecesse uma escola política que,
partindo de princípios diversos do materialismo e do ateísmo, chegasse
entretanto ao programa político e social do comunismo, esta escola estaria em
irredutível oposição com o Catolicismo. A
luta entre a Igreja e o comunismo não vem só do fato de que este é ateu, mas
também do fato de que o comunismo deseja a extinção da família e da propriedade
privada. De sorte que ainda
mesmo se o comunismo deixasse de ser materialista e ateu continuaria
absolutamente tão condenado quanto
está presentemente. E, para dizer tudo até o fim, ainda mesmo que o comunismo - por uma contradição gritante - além de
repudiar o ateísmo repudiasse também o
amor livre, e combatesse apenas a propriedade privada, continuaria
absolutamente e fundamentalmente incompatível com o Catolicismo. É preciso dizer esta verdade em letras
garrafais, para desiludir os que julgam que, com o tempo, poderá haver uma
conciliação entre católicos e comunistas.
* * *
Insistamos, para
elucidar um ponto que é de suma gravidade para os católicos. Segundo a doutrina da Igreja, a propriedade privada é essencial
à ordem humana, pois que é diretamente reclamada pelas exigência de nossa
natureza. E, como Deus é o Autor da natureza humana, essas exigências naturais
significam a vontade de Deus. De onde se segue que a propriedade privada existe por vontade de Deus. Suprimir a propriedade privada implica
em introduzir uma perturbação tão profunda na ordem natural que com ela se destroe a sociedade temporal. E constitui uma desobediência
à vontade de Deus. De onde se segue que é uma ação que expõe os povos às mais graves
conseqüências, e arrasa os próprios fundamentos da civilização.
E como a
Igreja é a interprete dos desígnios de Deus, a guardiã da Lei de Deus, a tutora
da ordem natural, ela estará sempre
em conflito gravíssimo, fundamental, irremediável com qualquer partido, governo
ou forma de Estado que elimine a propriedade individual - ainda mesmo que
este partido, governo ou Estado tome
ares de católico.
Esta é a
genuína doutrina católica, que importa manifestar com a mais completa clareza a
nossos leitores.
Como se vê, postas as coisas neste pé, se em um Estado comunista houver Igrejas
Católicas, franqueadas aos fiéis, do púlpito, do confessionário, de todos
os modos a Igreja pregará contra a
organização econômica do comunismo, e a favor da propriedade privada. Será
possível que o comunismo admita isto?
A título definitivo, não. A título precário,
provisoriamente, para ver se arrasta os católicos a alguma aventura, talvez.
Neste caso, provaria ele negociar uma concordata com a Igreja. Aceitará a
Igreja tal concordata?
Nenhuma
concordata significa a aprovação do regime político ou social instituído pelo
governo com que a Santa Sé entre em acordo.
Haja vista o nazismo, cuja doutrina era condenada pela Igreja, mas com o qual
o Vaticano fez uma concordata.
É
possível que o comunismo ofereça à Igreja liberdade de cultos por algum tempo. Se a compensação não
for algum sacrifício de doutrina, não é impossível que a Igreja aceite, o
oferecimento. Será para ambos os lados uma "parada" arriscada. A
Igreja, com alguns anos de liberdade, poderá organizar melhor a resistência
contra futuras perseguições. E os comunistas,
adornados por uma aparência de benignidade, terão transviado algumas almas.
Como se vê, a questão é por demais nebulosa para que possamos saber, à
distância, se convém ou não convém tal concordata. Só mesmo a Santa Sé o pode
julgar. E, aliás, só ela tem o direito de julgar.
Mas uma
coisa é certa: se tal concordata sobrevier, ou com a Rússia, com a Polônia (e a respeito de
concordata com esta ultima os rumores andam significativos), isto não quer
dizer de modo algum que a Igreja esteja disposta a abrir mão do sacratíssimo
princípio da propriedade privada.
* * *
A respeito da Polônia, não podemos deixar de
transmitir aqui um comentário
interessantíssimo feito por Sua Eminência o Cardeal Griffin, Arcebispo de
Londres. Disse o eminente purpurado que não compreende como a ONU se interessa tanto
pela liberdade na Espanha, a ponto de intervir claramente na política interna
daquele país, e, contudo, se
desinteressa de garantir as eleições livres na Polônia. Então, a liberdade
só é um bem para a Espanha? A Polônia
está a margem da humanidade e da civilização, e a liberdade de seus filhos não
interessa de modo algum à ONU? Como compreender tão flagrante contradição?
É a este grau de baixa e grosseira incongruência em que caiu a política
internacional em nossos dias.
* * *
Continua
veemente a luta, na Itália, entre católicos e anti-católicos.
Desencadeou-se agora naquele país uma grande
campanha a favor do divórcio. Os elementos católicos estão reagindo à
altura. E A. A. C. enviou uma delegação
ao Sr. De Gasperi, protestando contra a onda de impressos anticlericais e pornográficos que invadiu a península.
Hoje em
dia tudo é possível... Até um ato de
coragem do Sr. De Gasperi. Convenhamos, contudo,
em que provável não é!
* * *
Continua a lavrar a "revolta" nas fileiras do Partido Trabalhista Britânico. Tão veemente e indiscutível é a tendência desse partido
para a esquerda, que seus representantes mais jovens e prestigiosos abriram uma
cisão rumorosa com o gabinete
trabalhista por motivo da política exterior adotada por este último. Desejam os trabalhistas que a Inglaterra
deixe de ser tão intimamente solidária com os Estados Unidos contra a União
Soviética. Em outros termos, desejam que a Inglaterra apoie algumas
das reivindicações internacionais soviéticas. E, em outros termos ainda, desejam favorecer a expansão internacional dos soviéticos. Se estes
dispusessem na Inglaterra de uma quinta-coluna eficaz, militante, ardilosa, influente, tal quinta-coluna não teria outra tática, nem adotaria outra
linguagem.
* * *
Ao mesmo tempo, acentua-se a discórdia entre a oposição conservadora e o gabinete
trabalhista. O governo está
nacionalizando cada vez mais a economia inglesa. Agora, nacionalizou os meios de transporte, o
que "eqüivale a uma verdadeira catástrofe nacional", segundo declarou
na Câmara dos Comuns o Sr. Anthony Eder. E esta é apenas uma etapa de um plano mais vasto. Assim,
o próprio gabinete tão rudemente atacado pela ala rubra do trabalhismo
britânico por ser insuficiente russófilo, trabalha
pelo comunismo, pois que lhe prepara o caminho tornando cada vez mais
socialista o regime político e social inglês.
A despeito da violência de sua oposição ao
gabinete, os conservadores ficam em uma situação difícil pois que, se
derrubarem o gabinete estarão expostos a um outro gabinete trabalhista, que
representaria já não mais a tendência
moderada, mas a tendência extremada do trabalhismo
britânico. Assim, a oposição conservadora ao programa socialista do atual
gabinete se vê consideravelmente atenuada pela
própria revolta que contra este gabinete lavra no seio do trabalhismo.
Assim, se a dissidência dos "jovens
turcos" do trabalhismo cria para o gabinete
algumas dificuldade na política externa, de fato facilita sua obra na política
interna. Em outros termos, o balanço de
tudo isto é o seguinte:
a) lucra a URSS porque a reação anti-soviética dos EE.UU se enfraquece;
b) lucra a URSS porque os da reação anti-socialista dos conservadores britânicos se debilita.
Desde que o resultado de movimentos tão
contraditórios e tão complexos, provocados pela cisão do trabalhismo
inglês, vem a dar sistematicamente em
vantagens para URSS, é o caso de se perguntar se não há nisto tudo um jogo
político ágil e prolixo dos soviéticos, um desses jogos que em nossos dias não
é muito difícil organizar, quando se deixa circular ouro à vontade?
* * *
Caiu na
França
o Sr. Bidault. O regime tripartite de
governo, em que elementos ingênuos depositaram tão ardentes esperanças, se
esfacelou. E sobe à cena o Sr. Leon Blum.
Entrou na arena o velho leão [...], rugindo contra
o comunismo. E, ao mesmo tempo, anunciou um programa de reformas visando
socializar - isto é sujeitar aos princípios econômicos de Marx
- largas esferas da vida econômica francesa.
No final das contas, do que vale este anticomunismo cujo primeiro sintoma, na Inglaterra
como na França, é fazer concessões ao
comunismo?