A S. Excia. Revma. o Sr. D. Carlos Chiarlo, Núncio Apostólico
junto ao governo do Brasil, expedimos o seguinte telegrama: "Diretor redatores
"LEGIONÁRIO" profundamente contristados pelos ataques sacrílegos dirigidos pessoa Sagrada Sumo Pontífice manifestam Vossa Excelência expressões
sua inquebrantável amorosa submissão à
Santa Sé, e seu formal protesto
contra injusta campanha "Dom Basilio" e
outras folhas revolucionárias anticlericais. Pedem
benção. Plinio Corrêa de Oliveira, diretor.
* * *
Com estas palavras, desobrigamo-nos de um
primordial e gratíssimo dever de consciência. Humanamente falando, a maior garantia da Santa Sé - a única talvez
de nossos dias - está no temor que as
potências seculares têm de despertar a indignação do mundo cristão, agindo
diretamente contra o supremo governo da Igreja. É preciso que esse temor,
altamente salutar, seja confirmado
nestes dias de confusão, pela
manifestação desassombrada e veemente da filial solidariedade dos fiéis. É
necessário que os adversários da Igreja percebam e sintam que é impossível
tocar, já não diremos na pessoa sagrada do Pontífice Romano, mas mesmo na menor
parcela de seus direitos espirituais ou temporais, sem deixar o orbe católico
em carne viva.
Para criar esta impressão, a reação deve ser generalizada, e para que esta seja generalizada
cumpre que cada célula do Corpo Místico
de Cristo viva a sua união com a Cabeça visível, reagindo fortemente em
favor dela.
Chamamos a atenção de nossos leitores para o
seguinte comunicado da Federação das Congregações Marianas:
“Têm sido espalhados nos meios marianos
folhetos de propaganda para fins eleitorais como se fossem autorizados por esta
Federação. A diretoria da Federação declara que de modo nenhum entra nesses
assuntos enquanto não se pronunciar a autoridade eclesiástica competente e
assim desautoriza qualquer pessoa ou agremiação que pretendam valer-se de seu
nome para objetivos políticos.
São Paulo, 4 de dezembro de 1946.
Padre Paulo Bannwarth, S. J. diretor da Federação das Congregações Marianas do Estado de São Paulo”
* * *
Esta folha tem
insistido muito sobre a absoluta
identidade de métodos e objetivos, entre o nazismo e o comunismo. Um telegrama proveniente de Varsóvia, e
publicado há poucos dias na imprensa diária, serve de argumentos para reforçar esta tese.
Como ninguém ignora, os nazistas não começaram imediatamente a perseguição contra a Igreja.
Pelo contrário, cercaram-na de vantagens e garantias, que tiveram sua consolidação na concordata assinada em Roma, pelo tristemente célebre Franz von Papen.
Depois
começou a se desenvolver de modo cada vez mais público a propaganda neo-pagã e totalitária do nazismo.
Quando a Hierarquia começou a protestar, os nazistas se indignaram: não vos
demos plena garantia para o funcionamento do culto e das obras católicas? O que
quereis então? Calai-vos ou perdereis tudo. E será por culpa vossa, porque
tereis criado um conflito ideológico inútil, com o III Reich.
Em termos velados, era uma tentativa de suborno: se a Igreja traísse sua missão de ensinar
a verdade e combater o erro, teria tudo. Senão, era a perseguição que começaria
logo, e em ponto grande. A Igreja,
é claro, não traiu. E começou a
perseguição.
As notícias
agora procedentes de Varsóvia são exatamente iguais.
* * *
Com efeito, o presidente da Polônia, "camarada" Boleslau Bierut, deu a U.P. uma entrevista em que explicou que a Igreja tem tudo, na Polônia: templos, seminários,
jornais, terras. Quanto a estas nem sequer se lhes aplicou a divisão imposta
segundo o sistema socialista aos demais proprietários. Assim, a Igreja não
tinha do que se queixar. E são injustas
as reclamações do Episcopado polonês contra as transformações sociais a que a
Polônia vai sendo submetida. A única coisa que se exige da Igreja
presentemente, acentuou o "camarada" Bierut,
é que esta se adapte ao regime polonês.
Em outros termos, só o que se exige é que
a Igreja deixe de atacar o comunismo: neste caso terá tudo.
É, ou não é precisamente
o mesmo processo empregado pelos nazistas?
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Este fato confirma
de modo frisante a velha afirmação do LEGIONÁRIO de que os inimigos mais inteligentes da Igreja já não procuram atacá-la de
modo aberto, e de viseira erguida, preferindo sempre os métodos indiretos e as atitudes aparentemente cordiais. O que se
passa na Itália é uma exceção. A última
moda, em nossos dias, em matéria de impiedade, é o beijo de Judas.
* * *
À margem do que se passa na Itália, temos um
comentário a fazer. Demos hoje uma nota extensa, sobre os aspectos políticos e
diplomáticos mais importantes da rixa que se vai movendo contra a Santa Sé
naquele país. E, pela exigüidade do espaço, deixamos de lado o próprio fundo da
questão que é essencialmente doutrinária.
O problema suscitado pela atitude dos pasquins “Dom
Basílio” e “Il Pollo” vem a ser o seguinte: é lícito, a quem quer que seja, ostentar qualquer opinião?
Velha
tese
em torno da qual os liberais
procuram estabelecer a confusão, mas à
qual o verdadeiro católico fiel à doutrina do Syllabus, deve responder categoricamente “não”.
* * *
Não é lícito difundir o erro, a mentira, nem
doutrinas subversivas e revolucionárias. Não
pode haver boa fé, nem reta intenção em quem difunde sistemas ideológicos
claramente opostos ao bom senso, à verdade acessível a todos os espíritos, à razão natural.
Por esse motivo, somos favoráveis ao fechamento dos partidos comunistas no mundo
inteiro, inclusive em nosso país.
Se um ou
outro católico, iludido pela argumentação liberal, pensa de modo contrário, pode refletir
proveitosamente sobre os riscos injustos a que a aplicação de sua doutrina está
expondo, na Itália, o Vigário de
Nosso Senhor Jesus Cristo.