Legionário,  748, 8 de dezembro de 1946

7 Dias em Revista

A S. Excia. Revma. o Sr. D. Carlos Chiarlo, Núncio Apostólico junto ao governo do Brasil, expedimos o seguinte telegrama: "Diretor  redatores  "LEGIONÁRIO" profundamente contristados pelos ataques sacrílegos dirigidos  pessoa Sagrada Sumo Pontífice manifestam Vossa Excelência expressões sua inquebrantável amorosa submissão à Santa Sé, e seu formal protesto contra injusta campanha "Dom Basilio" e outras folhas revolucionárias anticlericais. Pedem benção. Plinio Corrêa de Oliveira, diretor.

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Com estas palavras, desobrigamo-nos de um primordial e gratíssimo dever de consciência. Humanamente falando, a maior garantia da Santa Sé - a única talvez de nossos dias - está no temor que as potências seculares têm de despertar a indignação do mundo cristão, agindo diretamente contra o supremo governo da Igreja. É preciso que esse temor, altamente salutar, seja confirmado nestes dias de confusão, pela manifestação desassombrada e veemente da filial solidariedade dos fiéis. É necessário que os adversários da Igreja percebam e sintam que é impossível tocar, já não diremos na pessoa sagrada do Pontífice Romano, mas mesmo na menor parcela de seus direitos espirituais ou temporais, sem deixar o orbe católico em carne viva.

Para criar esta impressão, a reação deve ser generalizada, e para que esta seja generalizada cumpre que cada célula do Corpo Místico de Cristo viva a sua união com a Cabeça visível, reagindo fortemente em favor dela.

Chamamos a atenção de nossos leitores para o seguinte comunicado da Federação das Congregações Marianas:

“Têm sido espalhados nos meios marianos folhetos de propaganda para fins eleitorais como se fossem autorizados por esta Federação. A diretoria da Federação declara que de modo nenhum entra nesses assuntos enquanto não se pronunciar a autoridade eclesiástica competente e assim desautoriza qualquer pessoa ou agremiação que pretendam valer-se de seu nome para objetivos políticos.

São Paulo, 4 de dezembro de 1946.

Padre Paulo Bannwarth, S. J. diretor da Federação das Congregações Marianas do Estado de São Paulo”

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Esta folha tem insistido muito sobre a absoluta identidade de métodos e objetivos, entre o nazismo e o comunismo. Um telegrama proveniente de Varsóvia, e publicado há poucos dias na imprensa diária, serve de argumentos para reforçar esta tese.

Como ninguém ignora, os nazistas não começaram imediatamente a perseguição contra a Igreja. Pelo contrário, cercaram-na de vantagens e garantias, que tiveram sua consolidação na concordata assinada em Roma, pelo tristemente célebre Franz von Papen.

Depois começou a se desenvolver de modo cada vez mais público a propaganda neo-pagã e totalitária do nazismo. Quando a Hierarquia começou a protestar, os nazistas se indignaram: não vos demos plena garantia para o funcionamento do culto e das obras católicas? O que quereis então? Calai-vos ou perdereis tudo. E será por culpa vossa, porque tereis criado um conflito ideológico inútil, com o III Reich.

Em termos velados, era uma tentativa de suborno: se a Igreja traísse sua missão de ensinar a verdade e combater o erro, teria tudo. Senão, era a perseguição que começaria logo, e em ponto grande. A Igreja, é claro, não traiu. E começou a perseguição.

As notícias agora procedentes de Varsóvia são exatamente iguais.

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Com efeito, o presidente da Polônia, "camarada" Boleslau Bierut, deu a U.P. uma entrevista em que explicou que a Igreja tem tudo, na Polônia: templos, seminários, jornais, terras. Quanto a estas nem sequer se lhes aplicou a divisão imposta segundo o sistema socialista aos demais proprietários. Assim, a Igreja não tinha do que se queixar. E são injustas as reclamações do Episcopado polonês contra as transformações sociais a que a Polônia vai sendo submetida. A única coisa que se exige da Igreja presentemente, acentuou o "camarada" Bierut, é que esta se adapte ao regime polonês. Em outros termos, só o que se exige é que a Igreja deixe de atacar o comunismo: neste caso terá tudo.

É, ou não é precisamente o mesmo processo empregado pelos nazistas?

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Este fato confirma de modo frisante a velha afirmação do LEGIONÁRIO de que os inimigos mais inteligentes da Igreja já não procuram atacá-la de modo aberto, e de viseira erguida, preferindo sempre os métodos indiretos e as atitudes aparentemente cordiais. O que se passa na Itália é uma exceção. A última moda, em nossos dias, em matéria de impiedade, é o beijo de Judas.

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À margem do que se passa na Itália, temos um comentário a fazer. Demos hoje uma nota extensa, sobre os aspectos políticos e diplomáticos mais importantes da rixa que se vai movendo contra a Santa Sé naquele país. E, pela exigüidade do espaço, deixamos de lado o próprio fundo da questão que é essencialmente doutrinária.

O problema suscitado pela atitude dos pasquins “Dom Basílio” e “Il Pollo” vem a ser o seguinte: é lícito, a quem quer que seja, ostentar qualquer opinião?

Velha tese em torno da qual os liberais procuram estabelecer a confusão, mas à qual o verdadeiro católico fiel à doutrina do Syllabus, deve responder categoricamente “não”.

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Não é lícito difundir o erro, a mentira, nem doutrinas subversivas e revolucionárias. Não pode haver boa fé, nem reta intenção em quem difunde sistemas ideológicos claramente opostos ao bom senso, à verdade acessível a todos os espíritos, à razão natural.

Por esse motivo, somos favoráveis ao fechamento dos partidos comunistas no mundo inteiro, inclusive em nosso país.

Se um ou outro católico, iludido pela argumentação liberal, pensa de modo contrário, pode refletir proveitosamente sobre os riscos injustos a que a aplicação de sua doutrina está expondo, na Itália, o Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo.