Legionário, Nº 746, 24 de novembro de 1946

7 Dias em Revista

A população católica deste Estado tomou conhecimento, com vivo pesar, da notícia de que o Exmo. Sr. Prefeito Municipal de Campinas nomeará para o importante cargo de Diretor de Ensino e Difusão Cultural um funcionário notoriamente comunista.

Como é natural, este fato, motivou vários protestos, entre os quais o do Sr. Dr. Antônio Ablas Filho, Presidente da Junta Diocesana da Ação Católica de Santos.

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Como particularmente importante, registramos, sobre o assunto, a missiva serena e ponderada que o Exmo. Revmo. Sr. Dom Paulo de Tarso Campos, Bispo Diocesano de Campinas, enviou ao Exmo. Sr. Dr. Joaquim Castro Tibiriçá, Prefeito daquela cidade. Damos a seguir o texto completo desse documento.

    Serra Negra, 8 de novembro de 1946.

    Exmo. Sr. Dr. Joaquim de Castro Tibiriçá.

    CAMPINAS

    DD. Prefeito Municipal.

    Atenciosas saudações.

    Confiando no elevado critério de V. Excia., peço licença para expor o seguinte:

    Movido exclusivamente por preocupações de ordem pastoral, venho acompanhando com natural interesse a propalada nomeação de um funcionário da Prefeitura Municipal de Campinas, publicamente conhecido como membro influente do Partido Comunista para o cargo de Diretor de Ensino e Difusão Cultural.

    Acabo de ser agora informado que tal nomeação se verificou por decreto de lei de V. Excia.

    Sinto-me pois no dever de manifestar a V. Excia. os sentimentos de fundo pesar que esse ato provocou na consciência católica de Campinas. Não tenho dúvida de que V. Excia. que ainda por ocasião do recente Congresso Eucarístico Provincial, em discurso público e solene, com afirmações claras de fidelidade pessoal aos princípios cristãos soube muito bem traduzir os sentimentos da alma católica deste nobre povo de Campinas, saberá também encontrar solução que este caso merece.

    Renovando a V. Excia. os meus cumprimentos e atenciosos votos, sou seu servo em J. Cristo.

PAULO, B. Diocesano.

 

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A moção de desconfiança, que boa parte dos deputados trabalhistas propôs contra a política exterior do gabinete britânico, se inspirava na idéia de que a íntima cooperação da Inglaterra com os Estados Unidos a lançava virtualmente numa política anti-soviética, cujo desfecho seria uma nova guerra mundial. Em lugar de reforçar a reação anti-russa da Casa Branca, cumpria que Londres se colocasse em atitude neutra, atraindo assim a confiança do Kremlin, e criando assim uma atmosfera internacional menos tensa.

Com efeito, se de um lado a URSS se sentiria menos isolada, e por isto mesmo menos propensa à luta, os norte-americanos, sentindo-se sem aliados, assumiriam uma conduta diplomática menos rija, com o que a paz só teria a lucrar.

Não vamos discutir aqui se esta tese é verdadeira ou falsa. Queremos apenas mostrar o que os trabalhistas “dissidentes” escondem nas dobras dela.

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De fato, impossível professar esta estranha visão do panorama internacional, sem formular um verdadeiro libelo contra os E.E.U.U. e um hino laudatório à URSS.

Para a URSS, é salutar que se sinta apoiada pelo Império Britânico. É que, se ela tende à guerra, fá-lo exclusivamente por legítima defesa, amedrontada à vista da formidável conjunção anglo-americana. Cessada a ameaça, a URSS não pensará mais em guerra. É ela tão pacífica, que a consciência de sua força, o fato de possuir aliados poderosos, só a induz à concórdia. A própria desunião entre as duas mais pujantes nações capitalistas, não estimula nela o desejo de dar um golpe.

Mas os americanos, oh supremo horror, estes são ambiciosos e agressivos. Por isto mesmo, a aliança inglesa e a visão de seu poderio só pode estimular neles o desejo de atacar o cordeiro russo. E daí a necessidade de isolar os E.E.U.U. no benefício da paz.

Se isto não é má fé, é tolice. De onde se deduz que, ou uma importante facção dos trabalhistas ingleses está de má fé, ou o Partido elegeu uma forte bancada de débeis mentais.

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Para se compreender bem o trabalhismo britânico, é necessário ver nele não tanto o programa oficial mas as tendências profundas que lavram em seu seio. Sofrendo do dinamismo extremista de todas as correntes de esquerda, o trabalhismo é empurrado cada vez mais para as posições doutrinárias radicais, e tende para o comunismo com uma força invariável e incoercível como a da gravidade.

É o que demonstra esta atitude fortemente russófila de tantos dos seus representantes.

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É verdade que, no Parlamento, esta moção de desconfiança foi simplesmente esmagada. Não, porém, porque não tivesse partidários, mas porque seus próprios partidários acabaram por votar contra ela, para não enfraquecer o gabinete trabalhista, ante a oposição conservadora.

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Reservamos para momento oportuno nosso comentário sobre a situação francesa. Limitamo-nos a observar por oras, que a votação anticomunista e anti-socialista não decresceu. O partido comunista tirou algumas cadeiras aos socialistas, e o M.R.P. perdeu algumas cadeiras em favor de partidos de inspiração mais católica e mais anticomunista. É ao menos o que nos parece deduzir-se no noticiário que lemos.

Em síntese, pois, o bloco socialista-comunista não ganhou nas últimas eleições.

É o que serve para explicar a política sinuosa dos socialistas que oportunamente analisaremos. Ao contrário do que parece, esta  política serve idealmente aos comunistas.

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Aplaudimos calorosamente a recente Pastoral do Episcopado norte-americano, em que se declara que o objetivo da última guerra estaria frustrado, se nos limitássemos a atacar o totalitarismo pardo, deixando que o totalitarismo vermelho se assenhorasse do mundo.

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Na Itália, toda a imprensa tem acentuado o fracasso da política do P.D.C. e, infelizmente, devemos dizer que a imprensa tem razão. O P.D.C. não soube romper com os comunistas no momento oportuno, e perdeu com isto a confiança de todos os homens limpos. De outro lado, conserva um tal ou qual cunho cristão, e excita por aí a desconfiança dos bolchevistas.

É o mal de quem acende duas velas…