A população católica deste Estado tomou
conhecimento, com vivo pesar, da notícia de que o Exmo. Sr. Prefeito Municipal de Campinas nomeará para o importante cargo de Diretor de Ensino e Difusão Cultural um funcionário notoriamente
comunista.
Como é natural, este fato, motivou vários protestos, entre os quais o do Sr. Dr. Antônio Ablas Filho, Presidente da Junta Diocesana da Ação Católica de
Santos.
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Como particularmente importante, registramos, sobre
o assunto, a missiva serena e ponderada
que o Exmo. Revmo. Sr. Dom Paulo de Tarso Campos, Bispo Diocesano de Campinas, enviou ao Exmo. Sr. Dr. Joaquim Castro Tibiriçá, Prefeito
daquela cidade. Damos a seguir o texto completo desse documento.
Serra
Negra, 8 de novembro de 1946.
Exmo. Sr.
Dr. Joaquim de Castro Tibiriçá.
CAMPINAS
DD.
Prefeito Municipal.
Atenciosas saudações.
Confiando
no elevado critério de V. Excia., peço licença para expor o seguinte:
Movido
exclusivamente por preocupações de ordem pastoral, venho acompanhando com
natural interesse a propalada nomeação de um funcionário da Prefeitura
Municipal de Campinas, publicamente conhecido como membro influente do Partido
Comunista para o cargo de Diretor de Ensino e Difusão Cultural.
Acabo de
ser agora informado que tal nomeação se verificou por decreto de lei de V.
Excia.
Sinto-me
pois no dever de manifestar a V. Excia. os sentimentos de fundo pesar que esse
ato provocou na consciência católica de Campinas. Não tenho dúvida de que V.
Excia. que ainda por ocasião do recente Congresso Eucarístico Provincial, em
discurso público e solene, com afirmações claras de fidelidade pessoal aos
princípios cristãos soube muito bem traduzir os sentimentos da alma católica
deste nobre povo de Campinas, saberá também encontrar solução que este caso
merece.
Renovando
a V. Excia. os meus cumprimentos e atenciosos votos, sou seu servo em J.
Cristo.
PAULO, B. Diocesano.
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A moção de
desconfiança, que boa parte dos deputados trabalhistas propôs contra a política
exterior do gabinete britânico, se inspirava na idéia de que a íntima
cooperação da Inglaterra com os Estados
Unidos a lançava
virtualmente numa política anti-soviética, cujo desfecho seria uma nova guerra
mundial.
Em lugar de reforçar a reação anti-russa da Casa Branca, cumpria que Londres se
colocasse em atitude neutra, atraindo assim a confiança do Kremlin, e criando
assim uma atmosfera internacional menos tensa.
Com efeito, se de um lado a URSS se sentiria menos
isolada, e por isto mesmo menos propensa à luta, os norte-americanos,
sentindo-se sem aliados, assumiriam uma conduta diplomática menos rija, com o
que a paz só teria a lucrar.
Não vamos
discutir aqui se esta tese é verdadeira ou falsa. Queremos apenas mostrar o que
os trabalhistas “dissidentes” escondem nas dobras dela.
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De fato, impossível
professar esta estranha visão do panorama internacional, sem formular um
verdadeiro libelo contra os E.E.U.U. e um hino laudatório à URSS.
Para a URSS, é salutar que se sinta apoiada pelo Império Britânico. É
que, se ela tende à guerra, fá-lo exclusivamente por legítima defesa,
amedrontada à vista da formidável conjunção anglo-americana. Cessada a ameaça, a URSS não pensará mais
em guerra. É ela tão pacífica, que a consciência de sua força, o fato de
possuir aliados poderosos, só a induz à concórdia. A própria desunião entre as duas mais pujantes nações capitalistas, não
estimula nela o desejo de dar um golpe.
Mas os
americanos,
oh supremo horror, estes são ambiciosos
e agressivos. Por isto mesmo, a aliança inglesa e a visão de seu poderio só
pode estimular neles o desejo de atacar o cordeiro russo. E daí a necessidade de isolar os E.E.U.U. no
benefício da paz.
Se isto
não é má fé, é tolice. De onde se deduz que, ou uma importante facção dos
trabalhistas ingleses está de má fé, ou o Partido elegeu uma forte bancada de
débeis mentais.
* * *
Para se
compreender bem o trabalhismo britânico, é necessário ver nele não tanto o programa
oficial mas as tendências profundas
que lavram em seu seio. Sofrendo do dinamismo extremista de todas as correntes
de esquerda, o trabalhismo é empurrado cada vez mais para as posições
doutrinárias radicais, e tende para o
comunismo com uma força invariável e incoercível como a da gravidade.
É o que demonstra esta atitude fortemente russófila
de tantos dos seus representantes.
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É verdade que, no Parlamento, esta moção de desconfiança foi simplesmente esmagada. Não, porém, porque não tivesse partidários, mas porque seus próprios partidários acabaram
por votar contra ela, para não enfraquecer o gabinete trabalhista, ante a
oposição conservadora.
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Reservamos para momento oportuno nosso comentário
sobre a situação francesa.
Limitamo-nos a observar por oras, que a votação anticomunista e anti-socialista
não decresceu. O partido comunista tirou algumas cadeiras aos socialistas, e o
M.R.P. perdeu algumas cadeiras em favor de partidos de inspiração mais católica
e mais anticomunista. É ao menos o que nos parece deduzir-se no noticiário que
lemos.
Em síntese, pois, o bloco socialista-comunista não
ganhou nas últimas eleições.
É o que serve para explicar a política sinuosa dos socialistas que oportunamente analisaremos. Ao
contrário do que parece, esta política serve idealmente aos comunistas.
* * *
Aplaudimos calorosamente a recente Pastoral do Episcopado norte-americano, em que se declara
que o objetivo da última guerra estaria
frustrado, se nos limitássemos a atacar o totalitarismo pardo, deixando que o
totalitarismo vermelho se assenhorasse do mundo.
* * *
Na Itália, toda a imprensa tem acentuado o fracasso da política do
P.D.C.
e, infelizmente, devemos dizer que a imprensa tem razão. O P.D.C. não soube romper com os comunistas no
momento oportuno, e perdeu com
isto a confiança de todos os homens
limpos. De outro lado, conserva um
tal ou qual cunho cristão, e excita por aí a desconfiança dos bolchevistas.
É o mal de
quem acende duas velas…