Segundo um telegrama publicado nesta capital, 22 sacerdotes católicos da Colômbia romperam com a
Santa Igreja, decidindo constituir uma seita nacional independente de Roma.
Não sabemos se o fato é verdadeiro. Mas infelizmente o tom do telegrama não é
nada tranqüilizador.
Não ousamos, pois, desmenti-lo. Admitindo que seja
real, com que palavras o comentar? Há
certos fatos tão nefandos que, segundo diz a imaginação popular, quando chega ao Céu o conhecimento deles,
os Anjos de Deus velam suas faces. Façamos o mesmo.
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Deixando de comentar o fato em si mesmo, não
podemos entretanto abstrair de um pormenor importantíssimo, mencionado pelo
telegrama em questão: esses infelizes apóstatas pensam ligar sua igreja
nacional à seita aqui fundada pelo desgraçado ex-Bispo de Maura, e
"enriquecida" pelos Bispos que ele aqui sagrou.
À primeira vista, a notícia parece contraditória.
Como podem estar unidas duas igrejas estritamente nacionais, se cada uma tem um
âmbito que não excede o das fronteiras pátrias?
O problema está longe de ser insolúvel. Também as
igrejas cismáticas do Oriente constituem um só todo, mas do ponto de vista do
seu governo interno são estritamente nacionais. Seria esta a fórmula?
Neste caso, caberia outra pergunta. Já vimos que as igrejas nacionais cismáticas estão sendo
apoiadas pela URSS ativamente. Que
lucro para elas se pudessem incorporar a si essas igrejolas nacionais da
América Latina.
Moscou tem a ganhar com o curso que as coisas estão
tomando. E isto justifica outra pergunta: não
estará Moscou articulando com
isto com que tanto pode lucrar?
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Nunca será supérfluo acentuar que as almas fracas
não se devem abalar com desgraças destas. Um
bispo que apostata, um sacerdote que rompe com a Santa Igreja é como uma coluna
do firmamento que se parte, ou uma estrela que se apaga no Céu.
Choremos, pois, aos pés do
altar acontecimentos como estes. Mas não
permitamos que eles nos abalem a Fé. Nada seria mais estúpido.
A
santidade da Igreja não consiste em que jamais se verifiquem em suas fileiras
fatos como estes. Senão, a santidade da Igreja teria morrido com a apostasia de
Judas. A história de nossa religião contém numerosos fatos
ainda mais tristes do que estes. Enumeremos apenas alguns.
Quando do cisma
do Oriente, nações inteiras, tendo à testa seus bispos e seus sacerdotes,
apostataram miseravelmente da unidade romana. Quando do protestantismo, bispos, sacerdotes
seculares, às vezes conventos quase inteiros se deixaram contaminar pelo erro.
Quando da Revolução Francesa, as apostasias atingiram todos os graus da hierarquia, e
grande massa de fiéis. Nem por isto a
Igreja de Deus deixou de ser santa por sua doutrina inalterável, que contém
o mais alto ideal moral que a mente possa excogitar, ideal que por suas
próprias forças os homens decaídos pelo pecado original e prejudicados pelos
outros pecados posteriores, não podem sequer conhecer e amar. A santidade da Igreja se manifesta pelo
fato de que ela, e só ela é capaz de produzir e ininterruptamente produz estes
modelos supremos de perfeição moral, que são os santos. Fora da Igreja, não
existe a verdadeira perfeição moral, que é fruto exclusivo do solo espiritual
do catolicismo. Só a Igreja,
pois, é verdadeiramente santa.
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* *
E, para fechar de uma vez por todas a boca dos Srs.
comunistas e protestantes, como de costume cheia de chacotas a respeito de
fatos tão tristes, lembramos que estas
apostasias de modo algum podem induzir a que se desconsidere o clero que
permanece fiel.
Há,
houve, haverá ainda sacerdotes e até bispos apóstatas. Para um católico, do ponto de vista de sua perseverança na Igreja, isto
não tem absolutamente nada de mais. O primeiro dos apóstatas foi Judas,
como dissemos, e nem por isto se há de
pretender que os seus irmãos de colégio apostólico não fossem verdadeiramente
homens de Deus.
O que provam tais apostasias? Quanto mais
freqüentes forem, tanto mais demonstram que é árdua a perseverança nos deveres que a Igreja impõe ao seu sacerdote.
E tanto mais devem inspirar admiração
pelos que suportam com heroísmo sobrenatural o peso desses deveres.
Imagine-se uma batalha terrível, em que muitos
soldados desertam, tornando ainda mais penosa a situação de um grupo que
continua a lutar. Este grupo, porém,
não desanima, e antes redobra de
intrepidez.
Perguntamos: porque alguns fugiram desse exército,
devemos desprezar os numerosos heróis que continuam a combater? Ou devemos admirá-los ainda mais?