Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

Legionário, N° 736, 15 de setembro de 1946

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Segundo a "Sinopse do Censo Demográfico de 1940", recentemente publicada, e que constitui valioso documento oficial, em 41.236.315 habitantes que tem o Brasil, 39.177.880 se declararam católicos, apostólicos romanos.

Ao lado desta imponente maioria, ocupa papel secundário o pequeno número de "cristãos" não católicos: 1.074.857 protestantes e 37.952 greco-cismáticos ou russo-cismáticos. Os outros constituem o simples total de 945.625 habitantes.

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Evidentemente esta notícia não pode deixar de causar júbilo. Não porque ela acrescente qualquer coisa ao valor intrínseco da Religião Católica, pois que este valor só lhe vem de Deus, e uma religião não é coisa que se sujeite ao juízo do sufrágio universal. Mas porque assim se prova que, graças a Deus, a unidade religiosa de nosso país, radicada na única e verdadeira Fé, é incontestável. Daí provém um inestimável benefício para a salvação eterna das almas, e uma grande glória extrínseca para Deus, Nosso Senhor. E é o que essencialmente mais se deve estimar no fato.

Daí também decorre uma grande vantagem para nosso país, que conserva sua unidade, e os elementos espirituais indispensáveis para que se construa algum dia aqui uma civilização genuinamente cristã. Por estes motivos todos, cada um deles conhecido e apreciado segundo a hierarquia em que deve ser posto, damos graças a Deus e a Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, pelo belo quadro que estas cifras indicam.

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Por certo, os católicos zelosos saberão aproveitar-se destas cifras, para fazer valer no Brasil os direitos da Igreja. E têm razão. Se hoje em dia só se dá importância às maiorias e às massas, devemos demonstrar que no Brasil, ainda que fosse só por este critério, teríamos todos os direitos. Mas, ao fazer uso deste argumento, nós católicos não devemos deixar de mostrar que este argumento é válido enquanto dirigido a adoradores do ídolo-massa, mas falso para nós. Porque os direitos da Igreja, em si mesmo considerados, continuariam a ser o que são, ainda que os resultados estatísticos fossem bem outros. É mero corolário do que acima acabamos de afirmar.

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É muito auspiciosa a notícia de que, depois da guerra, está tomando novo incremento, no mundo inteiro, o apostolado das Congregações Marianas. Segundo notícia de Quebec, se realizará proximamente ali um imenso Congresso Mariano Mundial, ao qual devem comparecer 100.000 pessoas, tendo sido dirigido convites a todos os bispos do mundo, para serem hóspedes de honra dos congressistas.

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Segundo telegramas procedentes de Roma, e publicados pela imprensa diária, estão sendo realizadas na Capital da Cristandade duas assembléias da maior importância, o Capítulo Geral da Companhia de Jesus, e o da Ordem de São Domingos, ambos para a eleição dos respectivos Superiores Gerais.

Tomando em consideração tudo quanto estas duas Ordens foram e são para a Santa Igreja de Deus, é muito aconselhado que rezemos nestes dias a Nossa Senhora, para que ilumine a escolha dos dignitários que vão ocupar essas altas posições, em dias tão difíceis para o mundo cristão.

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Escrevemos hoje nosso artigo de fundo, sobre o caso dos squaters ingleses, a respeito do qual acentuamos alguns aspectos doutrinários mais essenciais. Nesta nota, queremos abordar o aspecto político do tema. E este se cifra em que, se o Sr. Attlee tivesse agido com intenção de favorecer o comunismo veladamente, teria feito precisamente o que fez.

Primeiro erro: atiçou a cobiça pública, mantendo inocupados muitos prédios, em lugar de os restituir aos proprietários, ou de introduzir em ditos prédios os squaters mais necessitados, negociando compensações com os donos dos imóveis.

Segundo erro: a "Scotland Yard", a melhor polícia do mundo, terá feito ver por certo, a irritação que a desocupação dos prédios causava; o Sr. Attlee não se incomodou com isto, deixando os prédios mal policiados. A falta de prevenção governamental foi tanta, que muitos guardas civis auxiliaram o povo a se restabelecer nos prédios, supondo que o faziam por ordem legal.

Terceiro erro: depois de iniciar a ocupação de alguns prédios, o Sr. Attlee manteve vazio todos os demais, e não os guarneceu de sorte que a ocupação continuou.

Quarto erro: aguçou ele ainda mais a irritação pública com um comunicado tonitruante, mas ridículo pela falta de energia na repressão aos ocupantes.

Quinto erro: permitiu que a iniciativa da ocupação fosse tomada pelo Partido Comunista, cuja propaganda se terá beneficiado com isto. Tanto mais quanto os squaters que os comunistas escolheram para instalar nesses prédios seriam por certo, ou eleitores seus, ou pessoas capazes de virem a aderir ao Partido, e escolhidas a dedo pelos propagandistas deste.

Sexto erro: houve um local que o Sr. Attlee guarneceu muito bem, e foi sua própria casa de campo, em que ele não reside, mas que é próxima a um campo de squaters.

É assim esse medíocre e suspeito Chamberlain da esquerda. O que se está passando é tão nocivo à ordem que até a Federação Anarquista aplaude os squaters.

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O Episcopado Polonês, em vigorosa pastoral, de que dão notícia recente telegrama denunciou a perseguição que os soviéticos movem contra a Igreja Católica na infeliz Polônia. Ao mesmo tempo, a rádio de Moscou continua a mover campanha contra o Vaticano, enchendo de injúria o Sumo Pontífice, e asseverando entre outras coisas, que a Santa Sé constitui a alta direção da maior empresa capitalista do mundo que vem a ser a Igreja Católica.

Espanta ainda que se tenha desejo de apertar confiantemente a mão desses Srs. Mas enfim, há gostos para tudo, ingenuamente para todos os erros. Não há gente que abraça tamanduá? Assevera-o pelo menos uma anedota.

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Esta mão estendida se abre para o aperto falacioso da mão vermelha, em nome da liberdade de pensamento. No fundo, o que hão de pensar os soviéticos dessa mão que se lhes estende? Evidentemente pensarão o que pensam do próprio princípio que anima a política da mão estendida, ou seja, da liberdade de pensamento.

Ora, o que pensam eles de tal liberdade, já não diremos em matéria religiosa mas de qualquer outro assunto? Segundo telegrama que se publicou nesta semana, emitido de Moscou, o Conselho Central do Partido Comunista exerce um controle doutrinário sobre todos os livros que se publicam no Partido os escritores Nicolao Tikhonov, e Ana Akmatava, cujas obras estariam "infectadas" de preconceitos burgueses.

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Na Grécia, os comunistas sofreram uma dura derrota. Em conseqüência disto, as relações entre gregos e iugoslavos se tornaram tensas e chegou-se a pensar em uma guerra. A imprensa perguntou então ao camarada Demetrios Partsalides, chefe do partido comunista, qual sua atitude na eventualidade de tal guerra. Sua resposta foi clara: ele não pactuaria com os iugoslavos, mas deflagraria uma revolta contra o governo grego, para se assenhorear do poder, e depois resolver o problema com o governo iugoslavo. Em outros termos ele enfraqueceria a reação grega, por meio de uma revolução interna. E, se vencesse, resolveria a pendência com a Iugoslávia por meios diplomáticos. É explicável que entre comunistas gregos e iugoslavos o acordo fosse fácil. Seria só assinar um tratado cuja minuta fosse enviada diretamente de Moscou.

Como vemos, o camarada Demetrios é patriota à maneira do camarada Prestes, isto é, colocando o comunismo acima da própria pátria.

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Na Bulgária os comunistas venceram um plebiscito mais ou menos legal ou ilegal, e derrubaram a monarquia. O chefe comunista local explicou bem o sentido da queda do trono búlgaro: desapareceriam os entraves para a colaboração com Moscou.

"Colaboração"...

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Voltou à franca atividade política o Mufti de Jerusalém, que realizou no Egito uma grande reunião de líderes de significação no movimento pan-árabe. O Mufti aproveitou para fazer uma picardia ao mundo ocidental. Dizem os telegramas que ele manobrou a reunião de maneira a deter todos os cordéis em suas mãos, fazendo sentir que o êxito da atual conferência sobre o problema da Palestina, que se realiza em Londres, depende dele.

Foi do que valeu a moleza das potências ocidentais com ele.

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Certos líderes pan-árabes acabam de pedir que seja constituída imediatamente uma federação de Estados árabes, constituindo uma Liga das Nações árabes, como um quisto estranho dentro da ONU, e inteiramente autônoma desta na solução dos problemas internos do mundo árabe.

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O "Spandauer Volksblatt", órgão alemão que circula na zona britânica, denunciou que o êxito alcançado pela coligação socialista-comunista se explica, na zona rural de Saxe, pelo fato que circulavam listas só de candidatos deste partido, nos campos.

Mais uma prova de como os bolchevistas entendem a liberdade de pensamento!

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Publicaremos em nossa próxima edição um comentário sobre o discurso do embaixador argentino junto à Casa Branca, que sustenta doutrinas sociais inaceitáveis.


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