Legionário, Nš 717, 2 de junho de 1946
7 Dias em Revista
De Roma, informa-se que partirão em breve para o Brasil 21 Religiosas da Congregação de Nossa Senhora do Calvário, que se destinam ao leprosário do Estado de Minas, e à Nova Escola de cegos e surdos-mudos de Belo Horizonte.
Esta notícia trouxe-nos ao espírito as diatribes do infeliz apóstata que foi Bispo de Maura, contra o clero e religiosos estrangeiros no Brasil. Que perigo e que dano para nosso país! Estrangeiros que vem à nossa terra para nos roubar, a nós nacionais, posições tão invejáveis! Haverá coisa mais deleitável do que tratar de leprosos, por exemplo? Comparável a isto, só a delícia, que o clero estrangeiro também nos rouba, de tratar com índios selvagens e deixar-se devorar por eles.
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Registramos com satisfação que, pela primeira vez, foi eleito um sacerdote da Companhia de Jesus para a Academia de Ciências da França. Trata-se do Revmo. Pe. Pierre Lejay, diretor do observatório de Zi Ka Wey, e diretor de pesquisas do Centro Nacional de Investigações Cientificas. Esse distinto Religioso se notabilizou por estudos sobre a eletricidade, espectroscopia, astronomia e geodesia. Colaborou, de modo capital, para a invenção de um gravímetro aperfeiçoado.
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O sr. David Mace, figura em evidência nas fileiras protestantes da Inglaterra, falando na "Assembléia Geral" da igreja presbiteriana, afirmou, baseado em estatísticas, que, de cada quatro primogênitos nascidos na Inglaterra ou País de Gales, um é natural.
Em seu impressionante discurso, o sr. Mace mencionou ainda outros índices alarmantes da geral decadência de costumes em seu país, e indicou as respectivas causas.
Claro está que, sendo protestante, o sr. Mace não pode atinar com a causa fundamental, que é o próprio protestantismo. Rompendo com a Igreja, os protestantes romperam com a única forma de santificação que há no mundo. E prepararam para si o triste presente, que o sr. Mace tão bem descreveu.
De nada vale objetar que, em muitos países católicos, a depravação dos costumes também é grande. A Igreja dá aos seus fiéis o meio de conseguir a virtude, Ela dota seu livre arbítrio de toda a força necessária para que não pequem: não lhes tira, porém, o livre arbítrio, e não lhes arranca a possibilidade de pecar. Se os fiéis, em sua vida e em seus costumes, procedem como infiéis, e se atiram em todos os desregramentos, a culpa é unicamente deles. A seu modo, também eles desprezam as fontes da graça e da santidade. E seu exemplo não destrói, de modo algum, a afirmação de que um país fiel à Igreja não apenas nas doutrinas, mas nos costumes e na vida, chegaria a um nível moral tão alto, que a tal nível as nações heréticas não podem aceder. Mais ainda. Nesse terreno, nada é estático. Enquanto a nação fiel encontra, em sua própria fidelidade, meios de progredir sempre em perfeição, a nação infiel tem na sua própria infidelidade uma força que a impelirá de abismo a abismo, até sua completa desagregação.
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Mas voltemos ao discurso do sr. Davi Mace. Entre as cinco causas que ele menciona como responsáveis pela desagregação de sua pátria, figura uma, que confusamente alude à desagregação protestante: é o "declínio da fé religiosa". Porque este declínio, tão manifesto nos países protestantes, enquanto nos países católicos se nota uma verdadeira primavera religiosa, porque este declínio, senão pelo ceticismo que levou quase todas as seitas protestantes, de negação em negação, ao vago deísmo que é só que lhes resta em matéria de fé, hoje em dia?
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As outras causas apontadas pelo sr. Mace são muito interessantes. Vale a pena transcreve-las: a) as modificações sociais e econômicas; b) a nova posição da mulher na sociedade moderna; c) as novas concepções científicas quanto ao sexo; d) a agitação de nossa época.
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Na Holanda, os católicos tiveram ganho de causa nas últimas eleições. O excelente Partido Católico, que ali existe, foi, de todos os agrupamentos, o que alcançou maior representação no parlamento, tendo obtido 32 cadeiras, contra 29 que tocaram aos trabalhistas. As restantes cadeiras, em número 41, ficaram com os partidos políticos de segunda importância.
Assim, embora os católicos constituam na Holanda apenas a terça parte da população, a Rainha Guilhermina confiou ao leader católico, Dr. L. H. M. Beal, a tarefa de constituir o novo gabinete.
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Consideramos digna de nota a atitude corajosa e coerente do episcopado da região do Abruzzos, da Itália.
Em pastorais afixadas nas portas das igrejas, aqueles prelados condenam novamente o "velho liberalismo anti-clerical" e o materialismo marxista, inspirador do social-comunismo.
Outrossim, os partidários daquelas doutrinas sociais e políticas ficam proibidos de: 1) ser padrinhos; 2) administrar bens eclesiásticos; 3) tomar parte nas comissões organizadoras de festas religiosas; 4) receber sepultura religiosa; 5) pertencer à associações religiosas e à Ação Católica.
Dentro desta ordem de idéias, o episcopado da ilha da Sicília, sob a presidência do Eminentíssimo Cardeal Ruffini, deliberou recusar os sacramentos aos que pertencem a partidos que defendam o materialismo e a luta de classes. E advertiu aos fiéis que constitui pecado mortal, não somente votar em tais partidos, mas ainda recusar seu voto aos partidos que tenham programa declaradamente católico.
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Temos desmascarado com insistência, a orientação cada vez mais socialista do Partido Trabalhista da Inglaterra. Ainda agora, esse partido se fez representar pelo deputado Noel Baker, no Congresso Socialista Espanhol, reunido em Toulouse, congresso em que se encontra a fina flor do socialismo revolucionário que ensangüentou a Espanha pouco antes da última conflagração mundial.
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A respeito da temerária atitude do governo trabalhista britânico, de entregar a si mesmos dois grandes países pagãos como a Índia e o Egito, temos insistentemente mostrado o grave risco a que com isto se expõem as missões católicas que ficarão inteiramente desprotegidas.
Nossas apreensões não são infundadas. O jornal egípcio intitulado "Egito e Sudão" publicou um artigo assinado pelo bispo (católico, protestante, não o menciona o telegrama) (nome ininteligível), encarecendo a necessidade de se garantir, por uma cláusula especial, a integridade das missões e minorias cristãs no tratado anglo-egípcio que regula a retirada das tropas britânicas do Egito.
O governo trabalhista está fazendo, na política colonial, a aplicação exata dos princípios funestos de Chamberlain. E está semeando para o futuro tempestades em que poderá soçobrar a civilização.