Legionário, Nš 719, 19 de maio de 1946
7 Dias em Revista
Infelizmente, é fora de dúvida que os Aliados estão cometendo erros não pequenos na Alemanha.
Empenhados em fazer brotar das cinzas do nazismo uma Alemanha nova, deveriam eles apoiar, com todos os meios, as correntes de opinião e as forças sociais que se opunham e oporão sempre a uma re-nazificação da Alemanha. Esta deveria ser sua preocupação essencial, mais importante do que todas as questões territoriais, ou reparações de guerra. O nazismo não morreu. Prova-o fartamente a contra-ofensiva do neo-fascismo na Itália. Se o fascismo ressurgir, teremos nova guerra. E o supremo objetivo da política contemporânea deve ser precisamente de evitar esta desgraça. De tal maneira é isto importante, que sobreleva até a todas as questões retrospectivas, que a guerra passada deixou atrás de si.
Ora, com imenso pesar, o que vemos é que as forças vivas da Alemanha, em lugar de serem apoiadas, estimuladas, desenvolvidas estão sendo combatidas com intransigência.
O que esperar depois disto?
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Há dois nomes que sempre causaram aos nazistas o efeito da água benta em demônio: Wittelsbach e Habsburg.
Os autênticos precursores do nazismo foram os Hohenzollern, soberanos protestantes e despóticos que submeteram a Alemanha ao regime de caserna espartana, de que saiu o Reich nazista.
O espírito católico e tradicional da Alemanha sempre reagiu contra esta orientação militarista e desumana. Sobretudo a Áustria e a Baviera continuaram a realizar obstinadamente, dentro do mundo germânico, um tipo de vida e de civilização de que se excluía a linha característica da rigidez e inclemência prussiana.
Também na Renânia o espírito protestante e militarista nunca penetrou inteiramente.
Ora, todas as tradições representadas pela reação germânica antiprussiana se perpetuaram em torno da dinastia austríaca dos Habsburg e a estirpe régia dos Wittelsbach, da Baviera. E, por isto, desde Bismarck a Hitler, toda a política prussiana tem sido uma ofensiva ininterrupta, ora disfarçada, ora brutal contra estas duas casas reinantes.
Se os Aliados quisessem realmente desbaratar o nazismo, nada de melhor tinham que fazer, senão prestigiar de todos os modos, e acima de tudo, o movimento católico alemão. E, em segundo lugar, favorecer a volta dos Wittelsbach e dos Habsburg aos respectivos tronos com a conseqüente diminuição da influência de Berlim.
Este seria um programa corajoso, inteligente, eficaz para resolver, com ideologias e forças sociais alemãs, o problema alemão.
Em lugar disto, o que vemos? Os Habsburg estão exilados da Áustria. O Partido Monarquista bávaro está fechado. E, paradoxalmente, mesmo as correntes de opinião mais criminosas, tem livre curso e o direito de gritar. Haja vista a liberdade concedida aos comunistas.
Se esta política continuar, uma coisa é certa: dentro em breve o nazismo terá ressuscitado.
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Recebemos com pesar e apreensão, o novo embaixador soviético no Brasil. Com pesar, porque não podemos ver nele o legítimo representante do povo russo, mas apenas o delegado de uma camarilha de hereges e ateus. Com apreensão, porque por toda a parte as embaixadas soviéticas têm sido centro de espionagem e propaganda comunista. E, assim, a questão comunista, já tão delicada entre nós, se agravará imensamente com este novo incremento.
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Em compensação, causou-nos fraternal satisfação, a notícia de que viriam para o Brasil os membros do Exército Polonês, que combateram contra o nazismo e o comunismo.
Trata-se dos últimos destroços das forças polonesas congregadas de início contra os nazistas, que combateram ao lado dos Aliados no front ocidental, e que se recusaram a dobrar a cerviz ante a tirania comunista.
Remanescentes da gloriosa Polônia, nação duplamente mártir porque sucessivamente martirizada pelos dois maiores inimigos da Igreja em nossos dias, o comunismo e o nazismo, os poloneses têm no Brasil católico uma segunda pátria, que os receberá de braços abertos.
Venham eles fundir seus trabalhos com o nosso, para a grandeza da terra brasileira. E nós juntaremos nossas preces às deles para a ressurreição da Polônia católica.
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Continua em efervescência o problema árabe. Segundo despacho da AFT a jornais desta capital, o jornal "Al Mokattan", do Cairo, declarou que a Rússia garantiu seu "apoio total" às reivindicações árabes na Terra Santa. O que eqüivale a dizer que a URSS apoia a insurreição geral das forças árabes contra as potências ocidentais na Ásia.
Veremos ulteriormente o desenvolvimento desta gravíssima questão.