Legionário, Nº 716, 28 de abril de 1946
7 Dias em Revista
Ultimamente não tem faltado notícias que confirmassem o ponto de vista católico, tão insistentemente acentuado pelo "LEGIONÁRIO", segundo o qual o socialismo e o comunismo se eqüivalem.
Ainda agora, o Partido Socialista Alemão se fundiu com o comunista, e manhosamente optou por um rótulo mais brando: "Partido Socialista Unitário da Alemanha". Prova de quanto o socialismo é apreciado como paravento pelos comunistas, e de quanto temos razão, mostrando por detrás do paravento socialista a carantonha de Moscou.
A fusão dos dois partidos não se deu só em zona de ocupação soviética. Elementos socialistas da zona americana aderiram ao acordo, e se fizeram representar no diretório central.
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Dentro da mesma ordem de idéias, tecemos comentários, no domingo passado, sobre o trabalhismo britânico, cuja tendência ao socialismo denunciamos. Mas o trabalhismo está cindido. Por ventura a ala dissidente também incidiria na crítica que fizemos à parte majoritária?
Sim? A ala dissidente, que se intitula Partido Trabalhista Independente, realizou agora sua conferência anual, cujos trabalhos foram abertos com um discurso do Sr. Bob Edwards. Disse este: "É necessário que ... nos aproximemos da Europa, colocando à frente do movimento pelos Estados Unidos Socialista do Continente".
Assim, o partido Trabalhista Independente faz profissão pública de sua fé no socialismo, e quer uma Europa toda socialista.
É nisto, que se está transformando o trabalhismo...
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Já temos dito que estamos na época do embuste. Nossa era não é mais dos que querem matar a Cristo. É dos falsos Cristos.
Assim, por exemplo, o comunismo, com esperança para muitos católicos, está tomando ares cada vez mais moderado. Enquanto persegue na Ucrânia os católicos e responde com o mais desdenhoso silêncio ao venerando apelo do Sumo Pontífice, organiza-se, quer na Ucrânia quer em toda URSS a "Igreja" cismática bolchevista. A política anti-religiosa dos soviéticos já não se faz por meio das organizações dos "Sem Deus", nem pela propaganda atéia. Na Rússia, o bolchevismo se propaga do alto dos púlpitos, em discursos que não tomam mais por tema texto de Marx, mas versículos do Evangelho. Os propagandistas não são mais beberrões abrutalhados, vomitando blasfêmias e obscenidades, mas vestem batina, mitra, báculo, tem fisionomia de ascetas, e se fazem intitular arquimandritas, popes, metropolitas, etc.
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A propaganda não se faz mais em salas sujas, de vidros quebrados, móveis de madeira sem verniz nem cera, ensebada pela frequentação de auditório refratários ao banho. Faz-se em Igrejas esplêndidas, bem arranjadas, luxuosamente decoradas e ícones, na gravidade de seu silêncio, parecem concordar com a pregação soviética.
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Diante disto, compreenderemos melhor o que significa o seguinte telegrama da Reuters, que a imprensa diária publicou:
MOSCOU, 20 (R.) - A Rússia celebra hoje a sua primeira Páscoa de após-guerra, e a população soviética deixou-se dominar por verdadeiro júbilo. Diante dos estabelecimentos comerciais podem-se ver longas filas de pessoas desejosas de adquirir o bolo de Páscoa e os ingredientes necessários para a confecção de doces de toda qualidade. E este ano, já se observa, novamente, o panorama familiar dos russos que se dirigem às igrejas levando consigo os bolos de Páscoa para serem benzidos. Grande massa popular comparece as cerimônias e a Páscoa fez voltar a Moscou o saudoso repicar dos sinos. Voltaram também as cerimônias tradicionais da procissão das velas, proibidas durante a guerra por motivo de "black-out".
Pode haver noticia que ilustre melhor o protesto do Papa, contra a formação de uma igreja cismático-comunista, em território Ucraniano?
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Assim também, se compreende melhor o recente programa do Partido comunista francês, que se exprime assim, em seu item 6: "proteger a família, a infância, a velhice, e dar saúde ao país". "Proteção à família" é uma expressão muito vaga, em cujas dobras podem até ocultar-se algum prejuízo para a família.
É o que nosso artigo de fundo demonstra hoje. Mesmo assim, este "item" faz pensar. Como se explica ele, quando a doutrina comunista prega a abolição da família? Muito simplesmente: a palavra de ordem, hoje, é despistar, é fazer com ares de cordeiro a política do lobo. Ou pior. Outrora, o lobo se vestia de ovelha. Hoje, na URSS, foi mais longe: vestiu-se de Pastor!
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E se é esta política das forças do mal, é impossível não pensar nos lamentabilíssimos bispos cismáticos que, por obra do Sr. Carlos Duarte da Costa, ex-Bispo de Botucatu e de Maura, temos entre nós. Não assistimos de coração cortado, o carnaval diário do Sr. Salomão Ferraz, com trajes de Bispo da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, passeando por nossas ruas, e recebendo aqui e acolá manifestações de respeito da população fiel que imagina tratar-se de um Bispo em união e comunhão com a Santa Sé? Quando na Rússia a tática consiste hoje em vestir o lobo de pastor, e hoje vemos estes falsos pastores. Entre nós não é lícito que receemos que dentro de suas vestes esteja o lobo do comunismo?
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Tudo isto é imensamente triste. E esta tristeza seria completa se não a temperasse uma nota de jocosidade. Parece que na "igreja católica apostólica brasileira" a confusão anda máxima. Temos em mãos uma participação em que o indivíduo que se intitula Dom Jorge Alves de Souza comunica "sua nomeação para Bispo de São Paulo, da igreja católica, apostólica, brasileira". A comunicação está muito gravemente assinada "Jorge Bispo de São Paulo", e a assinatura precedida de uma cruz. Este indivíduo não se esquece de mencionar ao pé do convite seu endereço, para receber as competentes felicitações. Mora ele em um prédio de apartamentos. O que fez essa cômica personalidade, do outro "bispo de São Paulo" o trêfego e matreiro bispo Salomão Ferraz? Brigaram? O que é essa "igreja" que mais parece uma liça ou uma rinha?
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Folgamos em registrar as declarações do general Chadebec de Lavallade, presentemente entre nós em missão especial do governo francês, sobre os comunistas de sua pátria:
"Os comunistas que foram extremamente nacionalistas durante a guerra, parece que começam agora a se orientar pela política de Moscou. Acredito, porém, que o Partido Comunista nada conseguirá se descurar da defesa dos ideais patrióticos, profundamente enraigados no povo francês".
O ilustre militar disse bem: não disse tudo. Ele poderia ter dito, ainda, que os comunistas franceses foram "extremamente nacionalistas" só depois de ter a Alemanha invadido a Rússia. Porque antes disto colaboraram ativamente para que os alemães invadissem a França. Foi o que toda a imprensa publicou naquela ocasião, e o "LEGIONÁRIO" comentou.
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Mas a observação do general C. de Lavallade nos interessa. É que ela nos mostra que as insânias do "camarada" Prestes, com seu projeto torpe de guerrilhas em caso de guerra com a URSS, não é caso isolado.
E, para falar em Prestes, uma palavra sobre seu discurso: foi tão insignificante a oração que ele proferiu no vale do Anhangabaú que não lhe dispensamos uma palavra sequer.
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E ainda o caso do Irã. Não nos interessa o vai e vem insípido e sem dignidade, a que a questão está sendo submetida na ONU. Simplesmente, noticiaremos aqui que o Sr. Sultaneth, chefe do governo iraniano, vai cumprindo o "tratado" com a URSS, e deu ao Azerbeidjan uma tão ampla autonomia, que essa província terá uma liberdade toda especial para "filiação e adesão a partidos políticos". Em outros termos, o partido comunista no Azerbeidjan, tão dócil a Moscou quanto o do Brasil ou da França, poderá lá fazer o que quiser. Ou o que os partidos nazistas de Dantzig, dos Sudetos, da Áustria faziam nos países que depois desgraçaram.
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Mais uma vez, tudo isto é triste, é confuso, e justifica a afirmação de que "nestes últimos cem anos, uma influência insidiosa, sistemática e implacável e muito mais perigosa de que qualquer ação violenta se fez sentir nas próprias raízes da civilização cristã. Presentemente este perigoso adversário julgou estar completo o seu trabalho de preparo para o ataque geral. Que nenhum dos presentes tenha qualquer ilusão quanto às conseqüências e repercussões de certos acontecimentos que hoje presenciamos".
Fantasias do LEGIONÁRIO? É, parece. Mas são palavras de Pio XII, na última Sexta-Feira Santa, referentes à Itália. Como elas se aplicam bem ao mundo inteiro!