Legionário, Nº 713, 7 de abril de 1946

7 Dias em Revista

Sua Eminência, o Sr. Cardeal Griffin, Arcebispo de Londres, fez a respeito da perseguição soviética contra os católicos gregos na Rutênia, importantes declarações, durante um sermão pronunciado na Catedral da metrópole britânica.

Foram estas as palavras de Sua Eminência:

"A verdade é que nos últimos 12 meses foi desencadeada violenta e cruel perseguição ao católicos gregos na Rutênia. Todo o Episcopado, composto de sete Bispos, foi detido. Além disso, numerosos Padres foram detidos, presos ou deportados e numerosos outros assassinados. O resto do Clero foi submetido a tais condições que se viu impotente para exercer seu ministério. Os Chefes da Igreja Católica foram substituídos por Padres apóstatas, que prestaram juramento à igreja ortodoxa russa e sua repulsa à autoridade do Papa".

Na Iugoslávia, acrescentou o Cardeal Griffin, a Igreja tem sido também perseguida. "Bispos, Padres e leigos estão sendo presos e muitos assassinados. Em muitas outras regiões que se encontram presentemente na zona russa as escolas católicas e os bens da Igreja já estão sendo confiscados. Os Padres e fiéis são sujeitos à tirania da polícia secreta. Muitos estão presos. Outros foram deportados, enquanto milhares fogem das mãos dos seus perseguidores".

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No dia 2 p.p. a emissora do Vaticano protestou energicamente contra os "quislings" vermelhos da Iugoslávia, denunciando a perseguição e fuzilamento de vários Prelados católicos. Na Eslovenia, foi supressa a liberdade de culto. Várias Dioceses estão vagas, porque o governo não deu consentimento à designação de novos Bispos. Em Lubliana, foi abolido o ensino religioso nas escolas, e foram fechados vários jornais católicos. Na Bósnia, foram executados vários Sacerdotes. Dos 28 Padres que exerciam seu ministério em Serajevo, só um ainda está em liberdade.

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Quando, depois de 1918 e durante longos anos que ainda não chegaram a seu termo, a URSS proclamou o comunismo como sua doutrina oficial, desencadeou-se contra a Igreja, e todas as seitas cismáticas da Rússia uma perseguição atroz. O termo final do movimento era bem claro. Não se tratava de abolir esta ou aquela religião, mas todas elas. Evidentemente, a Santa Igreja não podia ser indiferente a que se arrancasse qualquer espécie de crença, a um povo inteiro. E, assim, sentindo-se ferida ainda mesmo com os golpes vibrados nas seitas cismáticas, denunciou com energia e protestou à vista do mundo inteiro, contra o que se fazia na URSS, não só em detrimento da única Fé verdadeira, que é a católica, mas em prejuízo também das varias "confissões" cismáticas.

Durante séculos, os cismáticos oprimiram na Rússia czarista os católicos. Na Polônia "russificada", esta opressão chegou a tomar aspectos trágicos. Caído o czarismo, e rolando ao chão, com ele, as seitas cismáticas, nenhuma voz se ergueu contra o fato, mais corajosa, mais sincera, mais alta, que a da própria Igreja.

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Cansados, por fim, da sua política anti-religiosa, os comunistas se aliaram novamente aos cismáticos. E ei-los que, juntos, perseguem o catolicismo, com o mesmo afinco que nos tempos do czarismo, e muito mais ainda.

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Lição cruel. Fez muito bem a Santa Sé agindo com cordura em relação aos cismáticos na época da desventura. Teriam sido ingênuos, porém, os católicos que supusessem que este bom procedimento poderia ter predisposto em favor do catolicismo os cismáticos. Um ou outro talvez sim, mas considerado como massa, como coletividade, não. Porque o ódio do mal contra a Igreja não se desarma com bons procedimentos. E é tolo o católico que imagina a possibilidade de estabelecer duravelmente boa harmonia entre a luz e as trevas.

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Claro está que os maus procuram desarmar nossa reação, ocultando suas verdadeiras intenções, atrás de pretextos blandiciosos. Um deles, nos países onde a força da Igreja é muito grande e não pode ser destruída de um só golpe, consiste em afastar qualquer ingerência do clero na vida cívica. Conseguindo estes objetivos, os fiéis perdem a unidade de ação que só pode provir da unidade de direção. E isto alcançado, eles se dividem, se entrechocam e desaparecem: "todo o reino dividido contra si mesmo, perecerá nos diz o Evangelho."

Na Itália, é o que se está tentando. Uma lei iníqua procurou vedar aos padres qualquer ato de orientação dos fiéis no cumprimento do dever eleitoral. O Sumo Pontífice protestou contra a lei, em palavras enérgicas que a imprensa divulgou.

Mais recentemente, isto é em fins do mês passado, o "Osservatore Romano" publicou ainda trechos de uma alocução de Sua Santidade ao Clero Romano sobre este assunto.

Disse o Santo Padre que "as rudes perseguições dos círculos hostis à religião se tornam possíveis, sob o pretexto de se impedir os padres de interferir na política".

"É o direito e o dever do clero - acrescentou o Papa - guiar os fiéis e adverti-los contra as filosofias hostis e contrárias aos ensinamentos da Igreja Católica. É dever dos cidadãos católicos usar do direito de voto principalmente quando estão em jogo questões fundamentais, éticas e religiosas, tais como o matrimônio, a família e as escolas. É portanto, direito e dever do clero discutir esses assuntos com os fiéis.

"A Igreja - disse ainda Pio XII - pretende respeitar os compromissos assumidos com o governo italiano em 1928 e impedir que os padres interfiram em questões estritamente políticas."

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Os comunistas têm tido ultimamente, na Europa, vários insucessos políticos que importa registrar. Já comentamos nesta folha o fato muito expressivo de que os trabalhistas ingleses recusaram um pedido de filiação do Partido Comunista. Na Alemanha parecem também malogradas as tentativas dos comunistas de se fundirem com os socialistas. E, na França, o partido socialista já declarou que desfará a coligação tríplice anterior, com o que também lá os comunistas vão ficar sós.

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Telegrama procedente da Grã-Bretanha informa que os "casamentos precipitados", que foram contraídos por motivo da guerra geraram 43.300 processos de divórcios. Evidentemente, a cifra é muito superior à media geral e corresponde às circunstâncias especialíssimas que a guerra trouxe consigo. Entretanto, cabe uma pergunta. Quarenta e três mil lares destruídos constitui algo de imensamente sério. Se um tufão destruísse 43.000 casas, como se julgaria isto trágico! Ora não vale a família mais que a casa, o lar mais que as paredes que se destinam a ampará-lo?

Qualquer fator que pudesse ter evitado a crise, ou ao menos impedido que ela alcançasse tão grande extensão, evidentemente deveria ser tido por precioso. Ora, perguntamos, não é bem verdade que se todos estes 86.000 nubentes soubessem que seu casamento era indissolúvel, que seu passo era irremediável teriam pensado muito antes de se casar, e teriam evitado esta funestíssima "precipitação"?

Por certo que sim. E não só o interesse deles, mas no interesse dos pobres filhos, recebidos no pórtico da vida por esta autêntica tragédia, que é a dilaceração do lar.